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ESCRITOS DO DIA A DIA

Tuia Nana (primeiro bonsai)
30.12.2011

 
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Roberto C C Pires



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MensagemEnviada: Qui Jan 26, 2012 9:58 pm    Assunto: Tuia Nana (primeiro bonsai) Responder com citação

Boa noite pessoal,

Ganhei da minha namorada uma muda de bonsai desta espécie, porém ainda sou marinheiro de primeira viagem. Gostaria de saber dos amigos como devo proceder com a rega, quantidade e período de aplicações de adubo, e, principalmente, como podar, uma vez que as folhas desta árvore são bem diferentes e tenho medo de cortar de forma errada. Essa muda tem aparentemente 2 anos de idade e não veio nenhum guia de cuidados, e mais, tenho observado que tem algumas formiguinhas caminhando por ele, por isso, gostaria de saber se eu posso iniciar um tratamento preventivo contra pragas ou se o tratamento é apenas mediante a enfermidade.

Segue a baixo fotografia da minha muda.


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nickyfury
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MensagemEnviada: Sex Jan 27, 2012 12:22 pm    Assunto: bonsai Responder com citação

Roberto, no que concerne a essa espécie, em particular, devo ressaltar que o nome correto dela é Chamaecyparis gracilis nana, que o pessoal sempre "teima" em chamar de "tuia" nana, quando na verdade não podemos classificá-la dessa maneira, por não pertencer ao genero das Tuias, mas sim a uma familia "diferente".

A Chamaecyparis é ainda conhecida por Chamaecyparis obtusa, pertencendo à família Cupresaceae, sendo na verdade uma variedade de CEDRO, e é natural da América do Norte, Japão e Taiwan (é uma das cinco árvores sagradas da religião shintoísta), podendo ser encontrados, em muitos templos, velhos exemplares, pois como arvore chega fácil aos 300 anos de idade, imagine então como um bonsai.

No Brasil é uma das plantas mais comercializadas, sendo que mudas como essa sua são vendidas como se fossem um bonsai finalizado, quando na realidade ainda falta "um queijo e uma rapadura" para que chegue a tanto. Isso por que seu crescimento e engrossamento, mesmo em ótimas condições de cultivo, é demasiado lento. Além disso, seu cultivo é mais complexo que o de outras espécies difundidas no bonsai, o que permite dizer que não é uma das melhores plantas para quem está iniciando na arte do bonsai.

O que podemos dizer dessa espécie: prefere locais semi sombreados, devendo-se evitar o sol muito forte. Gostam de solo levemente umido, o que significa que não devemos manter o solo encharcado e que a rega, então, deve ser bem controlada, sob risco de apodrecimento das raízes. Procure mantê-los com umidade suficiente durante todo o ano. Deve-se evitar que haja o ressecamento da terra, porém nunca se deve encharcá-la.

Regue abundantemente no verão e cuide para que o excesso de água seja eliminado pelos orifícios de drenagem. A água estancada provoca o apodrecimento das raízes e morte da árvore. Nunca regue em caso de geada. Como necessitam de umidade, borrife os ramos no verão ou até mesmo no outono, se a árvore estiver exposta ao vento. Com isto, as folhas serão mais verdes e brilhantes.

Inicia-se a adubação no começo da primavera, aumentando a dose até o final do outono, para preparar a árvore para o inverno. Aplique um adubo orgânico, de composição lenta, uma vez ao mês. Espere dois meses após o transplante para iniciar esta operação. No caso, creio que um bom adubo para sua planta seja o osmocote, preferencialmente o que tiver a composição 9-15-12 ou similar.

É aconselhável, para estimular o desenvolvimento da planta e favorecer seu crescimento, com o consequente aumento na grossura do tronco, fazer um replantio a cada dois ou três anos, na primavera . Essa espécie se desenvolve melhor em recipientes um pouco mais profundos do que esse vasinho plastico onde está, sendo o melhor solo algo composto por caco ceramico, pedrisco, carvão, casca de pinheiro e areia de construção (sem sal e sem peneirar).

No inverno, devemos podar a planta, e para isso podemos despontar o extremo dos brotos durante o período de crescimento. Repita a operação duas ou três vezes. Não corte as folhas. Pode os ramos que crescem demais, eliminando um grupo de folhas. Esta operação pode ser
efetuada com as pontas dos dedos. Quando for cortar um galho, faça-o com uma tesoura de poda, procurando cortar apenas o
galho e não as folhas que estão em sua volta. E sempre aplique uma pasta cicatrizante em todos os cortes, para evitar perda de seiva e secamento do galho.

Poda de limpeza: fique atento e realize sempre que necessário. É bem simples: elimine as folhas amarelas no outono, assim como tudo que estiver seco no interior da folhagem. Limpe o solo para evitar os parasitas e as enfermidades, removendo musgo, gramineas e ervas daninhas.

Para moldar a planta dentro de um determinado estilo, utilize a técnica de aramação, não deixando que o arame permaneça mais do que dez meses no galho. Cuide para que as folhas não fiquem amassadas entre os arames. Repita esta operação a cada ano, até obter o formato desejado. Se o arame se incrustar no tronco, não deve ser
arrancado, e sim, retirado delicadamente com alicate apropriado, cortando-o em pedaços.

Atenção: Essas árvores são sensíveis à podridão das raízes, devendo-se portanto evitar ao máximo o excesso de regas, assim como pratos ou bandejas sob o vaso, para impedir o acúmulo de água parada. O cultivo em ambiente interno (dentro de casa) debilita muito a planta, culminado quase sempre em perda material (galhos secos ou toda a planta).

Como salientei antes, não é a planta ideal para se iniciar no bonsai, devido principalmente ao crescimento lento e as dificuldades de cultivo. Minha sugestão é que voce procure por outras espécies, com que formar outros bonsai, claro que sem abandonar o presente que ganhou, mas com chances maiores de exito nas outras, de maneira a ter um acervo mais interessante. Algumas das espécies que recomendo, que poderá encontrar nas floriculturas da sua cidade:

Ficus, pitangueira, jabuticabeira, aceroleira, murta, kaizuka, pau mulato, araçá, jamelão, acácia, moringa, Schefflera, ipê, Licania tomentosa,
Terminalia catappa L., Andira fraxinifolia Benth, Caesalpinia echinata Lam.

Algumas das espécies acima são frutiferas, outras mais conhecidas e divulgadas como floriferas, sendo que as ultimas são encontráveis em sua cidade, vez que fazem parte do projeto de urbanização de parques e jardins de Aracaju, não sendo então dificil conseguir muda delas junto ao horto ou jardim publico da cidade.
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Roberto C C Pires



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MensagemEnviada: Dom Jan 29, 2012 11:57 pm    Assunto: Responder com citação

Obrigado pela solicitude, Nickyfury. Para mim foi muito bom começar com as informações que me deu, com certeza facilitou o processo. Farei o que estiver ao meu alcance para poder fazer da minha mudinha de Chamaecyparis Gracilis Nana um lindo e vigoroso bonsai, pois foi realmente amor a primeira vista.
Estou seguindo todas as suas orientações, principalmente quanto ao risco que tanto me advertiu, o de apodrecimento das raízes, por isso estou regando comedidamente. Confesso que a princípio, antes de consultar o fórum, por ignorância, receoso por ver alguns ramos amarelados no interior dos galhos, tenha encharcado a terra um pouco. Espero que um dia de descuidados assim não tenham afetado muito a saúde da muda e que esses ramos amarelados que tanto me incomodam não sejam nenhuma denuncia de debilidade da muda.
Estou observando algumas outras mudas inclusive dessas que me indicou para saber qual adquiro para aprender mais a arte. Quando conheci a arte fiquei um pouco eufórico e comprei 11 sementes de Acer Palmatum para criar meu primeiro bonsai (estou esperando virem por correio) sem saber eu que a dificuldade de germinação e o cultivo aqui no calor sergipano, junto com a minha inexperiência, são fatores que tornam impossível que eu crie esta espécie. Escolhi esta espécie porque a beleza exótica de suas folhas e as variações de cores ao passo que o clima varia me encantaram. Agora tenho que manter minha mudinha de Chamaecyparis viva, apesar de a sorte não estar ao meu lado, tentar fazer germinar e cultivar um Acer Palmatum, e escolher dentre estas alternativas que me apresentou de espécies uma que mais goste para criar.
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nickyfury
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MensagemEnviada: Seg Jan 30, 2012 10:37 am    Assunto: bonsai Responder com citação

Roberto, detesto ser portador de mas notícias, ou de que, com minhas palavras, causar algum desestímulo, mas saiba da importancia de prestar esse esclarecimento, por isso o faço. O acer palmatum, infelizmente, não é uma das espécies mais adequadas ao cultivo, seja ele obtido via semente seja adquirindo uma planta adulta. No sul, e como sul entenda a região serrana alta de SP, como Campos do Jordão, por exemplo, até os demais estados SC, PR e RS, é possível o cultivo dessa espécie com alguns resultados razoáveis, principalmente se a cidade do cultivador for em altitude mais elevada que o nível do mar.

Fora desse circuíto, porém, dificilmente o cultivador terá sucesso no empreendimento de tentar manter uma planta dessa espécie em condições razoáveis. Aqui no DF, onde resido, há muito que a maioria dos bonsaistas, alguns com bem mais experiencia que eu (anos e anos de "praia") não cultivam mais o acer palmatum, justamente por não conseguirem algo atrativo com a espécie, vez que ela apresenta, ao invés da linda coloração de suas folhas, a folhagem seca, quebradiça e queimada nas extremidades durante a maior parte do ano.

Vez ou outra somos brindados por alguem que teve a sorte de ver o acer despontando novas brotações numa tonalidade bem vermelha nas folhas, mas isso é coisa passageira mesmo, nem se dá ao trabalho de fotografar para registrar a imagem. Por isso, prevaleça o sentido de que no seu estado, na sua cidade, pode até ser que voce venha a conseguir a germinação dessas sementes, coisa que sinceramente tenho sérias dúvidas, mas então o que dizer do desenvolvimento/crescimento e cultivo das plantas assim obtidas, expostas ao clima tórrido e quente que faz por aí a maior parte do ano?

Um outro acer, que aprecio muitissimo e que há alguns anos venho teimosamente insistindo no cultivo, incluso por apresentar maiores chances quanto a sobrevida e relativa beleza de sua folhagem é o acer burgerianum, conhecido pelos japoneses por KAEDE, ou acer tridente. É uma espécie bem mais resistente ao clima arido e seco do DF, se comparado ao palmatum, e talvez, se voce infelizmente não vier a ter sorte com a germinação de suas sementes e o cultivo do acer palmatum, possa então vir a experimentar o cultivo de uma muda dessa outra variedade, o burgerianum.

Veja que estou até sendo razoável, ao dar crédito a que suas sementes germinem e desenvolvam-se. Mas peço, data vênia, que o nobre colega não fique alimentando falsas expectativas. Melhor, então, procurar nos sites nacionais quem comercialize a variedade tridente (burgerianum) e adquirir uma mudinha pequena, ou duas, por preços camaradas, apenas para "tentar" o cultivo, verificando se no caso dessa variedade de acer o nobre colega, porventura, não tenha um pouco mais de sorte e consiga algo mais razoável.

Em 2006 adquiri tres grandes aceres burgerianum no Atelier do Dom Mario, quando participei de um evento que ocorria por lá. As plantas estavam sendo vendidas pelo bonsaista Vicente Romagnole (Bonsai Center), e custavam cada um a "bagatela" de R$600 (seiscentos reais). Seu valor no mercado, hoje, é bem superior a isso. Desde a aquisição até agora, busco melhoria no sistema radicular, formação de um nebari mais bonito e interessante, e correta formação estrutural aerea, com otimização na distribuição e posicionamento dos galhos, bem como seu desenvolvimento (cada galho) com saidas primárias, secundárias e terciárias.

A ultima fase de cultivo, quando o sistema radicular estiver pronto, o nebari efetivado e a estrutura aerea definida, será buscar então a densificação (aumento da massa verde de folhas) e a ramificação fina dos galhos. Veja os exemplares de que falo:







Além dessas tres, tenho outras com calibres menores de tronco, em variados estilos, sendo o meu predileto o estilo raiz sobre rocha, ou ISHITSUKI (em japones), que significa raiz com pedra ou planta com pedra. Nesse estilo, tenho vários em diversas fases de aprimoramento:





Para comparar, veja imagens de dois dos aceres maiores, logo quando cheguei com eles de SP:



Esse outro é um dos meus preferidos, foi "criado" pelo grande mestre Hidaka, de Atibaia/SP, obtido via alporquia de um acer tamanho gigante que ele tem na chacara, plantado no solo há anos:



As folhas, graças a duas desfolhas que faço todo ano, são de tamanho reduzidissimas. Essa planta está comigo há vários anos e está na categoria SHOHIN (leia xôrrim), ou seja, bonsai com no maximo até 25cm de altura. No caso, ele tem 12,5cm:



A desfolha serve para corrigir a estrutura aerea, eliminando galhos que cruzam ou que estão crescendo fora do padrão do estilo (HOKIDASHI), além de facilitar a colocação ou retirada de arames, no caso usados para corrigir movimento nos galhos:





Bem, espero que essa pequena mostra sirva para ilustrar o que escrevi sobre essa variedade de acer e, quem sabe, despertar em voce um interesse maior nela, em detrimento do palmatum. De qualquer forma, boa sorte com as sementes.
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Roberto C C Pires



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MensagemEnviada: Seg Jan 30, 2012 3:19 pm    Assunto: Responder com citação

Nickyfury, apenas fiquei ciente da inospitalidade da minha região para tal espécie apenas pouco tempo após a compra, agora que comprei o jeito e tentar germiná-las, mas, sim, o seu realismo é bastante válido, é muito importante. Atualmente tenho o projeto de, consoante as tentativas de germinação, o cultivo da minha mudinha e de outra espécie mais apropriada para iniciantes, iniciar um cultivo desde semente de alguma frutífera nativa já que tenho observado que são árvores que são bem resistentes e de fácil cultivo. O cultivo desde a semente é algo que me interessa bastante e tenho pensado em aceroleira, romãzeira ou pitanga (se é que podem ser cultivadas segundo a arte do bonsai). Mas gostaria de "ouvir" a sua opinião a respeito.
Quanto a minha mudinha, queria saber quando é mais apropriado transferi-la para um vaso maior segundo as suas orientações. Desculpe se me comporto por demasia como um verdadeiro inexperiente, juro que estou tentando aprender.

Muitíssimo Grato pela boa vontade e paciência, Nickyfury.
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MensagemEnviada: Seg Jan 30, 2012 6:28 pm    Assunto: bonsai Responder com citação

Roberto, não há nada a desculpar. no que puder ajudar pode estar certo que farei.

Em relação a sua tuia (Cedro nana), a princípio a melhor época para replantio é no inverno ou na primavera, podendo vc usar um recipiente maior, como uma bacia plastica média, com altura de uns 15cm, bem preenchida com um substrato drenante: caco ceramico (60%), carvão (10%), pedrisco (10%), areia grossa do tipo usada na construção civil, sem peneirar (20%). Misture todos os ingredientes até ficar bem homogeneo, recubra com uma primeira camada o fundo da bacia, depositando em seguida a sua planta, com as raizes livres e, se possível, distribuidas uniformemente em torno do caule, para criar uma estabilidade mais adequada ao desenvolvimento. Depois é só cobrir até um dedo acima da base do caule, com o restante do substrato, regando em seguida abundantemente e colocando a planta em local semi sombreado, para favorecer uma boa recuperação.

Em momento algum voce deverá cortar ou podar as raizes, pois a planta irá precisar de todas. Com um palito de bambu (tipo as varetas usadas em churrasquinho), remova todo o substrato atual das raizes, sempre enfiando a ponta no miolo das raizes próximo da base do caule e trazendo-o imprimindo certa força em direção à area externa, no que se chama de "pentear" as raízes. Com isso elas irão ficar livres e quase na posição correta para o replantio.

Não se esqueça de antes de mais nada perfurar bem a bacia plastica, tanto na lateral quanto no fundo, para favorecer uma boa drenagem da agua da rega e tambem o acesso de oxigenio nas raizes. Como a bacia não terá pezinhos, use pedras, ou sarrafos de madeira para erguer a bacia, deixando o fundo livre do contato com a base onde a bacia irá ficar. Assim, permite o fluxo de ar vindo por baixo em direção ao substrato e às raizes, bem como o escoamento completo da agua da rega diária, ou da chuva ocasional.

Quanto às sementes: de fato, dá-se o nome pomposo, em japones, ao cultivo de plantas via semente, visando formar bonsai, de MISHÔ. Por mishô entenda-se toda e qualquer sementeira, das mais variadas espécies. É praxe antiga na arte bonsai o uso desse tipo de recurso para obtermos mudas mais adequadas, vez que ao empregar algumas técnicas de cultivo iniciais, podemos encurtar o caminho, logrando formar plantas com qualidade técnica superior desde cedo.

Como? Bem, primeiro selecionamos as sementes: um teste simples é joga-las num copo com agua, as que afundam estão bem, as que boiam podem ser retiradas e dispensadas, pois não irão germinar. O passo seguinte é escolher o tipo de solo para o cultivo das sementes. Eu costumo orientar no sentido do uso de um produto comprado pronto, muito usado por horticultores, que tem o nome comercial de BIOPLANT, ou PLANTMAX, ou PLANTAX, ou similar. É só chegar na casa agropecuária e pedir o substrato para germinar sementes de hortaliças, que fica mais fácil.

Esse substrato contém, dentre outros elementos, vermiculita, casca de coco queimada e casca de pinus torrada. É bem leve e permite um indice em torno de 80 a 99% na germinação das sementes, podendo ainda ser usado após a germinação para o plantio individua, misturando-se na proporção de meio a meio com caco ceramico, para deixá-lo mais drenante.

Outro substrato, mais barato e talvez mais fácil de conseguir, caso não consiga o BIOPLANT, é a areia grossa de construção, sem peneirar. É preciso certa atenção em seu uso, vez que a areia costuma secar na superficie mas manter certa umidade no interior. Enganados por essa aparencia de secura, os cultivadores insistem em regar sem atentar para essa particularidade, incidindo num excesso de umidade, que acaba por causar o apodrecimento das sementes, ao invés de sua germinação.

Portanto, atenção se usar areia. Aceroleira, pitangueira, jabuticabeira, romanzeira: são todas ótimas espécies, germinam bem a partir das sementes, e o material obtido é certamente um dos melhores que existe, não só para bonsaistas iniciantes mas mesmo para outros mais experientes, que dessa maneira obtem um material inicial de primeirissima qualidade.

Um recurso técnico que venho ensinando há bastante tempo consiste no uso de uma tela metálica, com furos os menores possível, a cobrir o recipiente de sementeira tão logo os primeiros "rebentos" comecem a despontar. Essa tela serve para "conter" o avanço de crescimento das novas mudinhas, que encontram nela certa resistencia. Essa resistencia irá fazer com que os caules, ainda sem a força total, verdes, se retorçam várias vezes, pois várias serão as vezes que as plantinhas tentarão ultrapassar a barreira metálica, em seu crescimento em direção à luz do sol.

O que se ganha com isso? Bem, meu caro, com isso vc ganha tempo. Os caules dessas plantinhas irão receber movimentos sinuosos graças a imposição da tela metálica, e nenhum caule terá o mesmo formato que o caule da planta a seu lado. Então imagine vários bonsai dessas frutiferas, com os caules bem sinuosos: restará tão somente o trabalho de formar a estruturação aerea (galhos, copa, densificação) e o nebari, sendo que este tambem pode ser adiantado, vez que ao efetuar o replantio individual das novas mudinhas, cuida-se de estabelecer o nebari radial como explicado acima, em relação à tuia.

Bem, o que usar como sementeira? O certo seria usar um caixote pequeno, desses que compramos contendo uvas. Mas aí não teria como justapor a tela metálica. Então, o ideal é usar um vaso de tamanho grande, desses plasticos de cor preta, contendo substrato até pelo menos a metade do recipiente, de maneira que quando despontarem as novas mudas germinadas, possa então amarrar a tela metálica sobre a abertura do recipiente.

A tela metálica pode ser adquirida em vários lugares. Geralmente é vendida por metro e um metro ou metro e meio dá para muitos anos de uso, se a tela for do tipo inox. Se não encontrar a tela, compre peneiras metálicas, com os menores furos possíveis, recorte para retirar a borda e use. O importante é não deixar de aplicar essa técnica, pois ela é crucial na formação das mudinhas, se a intenção for transformá-las em bonsai.

Dentre as nativas, busque aquelas que apresentam folhas menores, frutos pequenos e crescimento rápido. Servem arbustos, arvores ou trepadeiras.
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MensagemEnviada: Qua Fev 01, 2012 12:20 am    Assunto: Responder com citação

Ótimo, Nickyfury. Vou providenciar o material tanto para o replante de minha muda quanto para o desenvolvimento das sementes, pois em breve comprarei sementes de Romãzeira anã.
Gostaria que me ajudasse em uma coisa, a minha muda tem estado meio estranha: suas folhas, mesmo as verdes, estão desprendendo facilmente e a coloração está progressivamente mais amarelada no interior dos ramos. Creio que ela foi acometida por alguma enfermidade. Desde a compra umas manchas brancas na parte inferior das folhas me chamou a atenção, mas por desconhecimento achei que era normal, e até pode ser. Mesmo assim, seguem as fotos com as folhas e as ditas manchas brancas em alta dimensão:

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MensagemEnviada: Qua Fev 01, 2012 10:59 am    Assunto: bonsai Responder com citação

Se for adquirir sementes de romanzeira, não compre as de frutos mini, pois essa espécie além de extremamente dificultosa quanto ao cultivo, demora uma eternidade para atingir uma altura razoável ou para produzir um bonsai que preste. Prefira plantas com frutos de tamanho médio, que são bem melhores nos quesitos acima.

Não é por que a planta é "bonitinha", cheia daqueles frutos pequeninos, que a variedade seja boa para um bonsai sério, de qualidade técnica superior. Quando muito, presta apenas para os "fabricantes" de bonsai de supermercado: vendem super bem, morrem super rápido e logo volta o comprador, querendo outro, acreditando que a culpa pelo secamento da planta tenha sido exclusivamente sua, quando na verdade teve inicio lá atrás, quando o cultivador depositou a semente da planta para germinar.

Aliás, a melhor variedade para bonsai tem um nome: PUNICA GRANATUM NEJIKAN. Punica granatum é o nome em latim da romanzeira, e Nejikan sua caracteristica principal, isto é, dessa variedade, que consiste no enrolamento do tronco, tipo um parafuso de rosca soberba, que se retorce sobre si mesmo à medida que a planta cresce e se desenvolve:





Os japoneses chamam a romanzeira de ZAKURÔ. Repare no exemplar abaixo, como o tamanho dos frutos médio combina bem melhor com a planta:



Os japoneses costumam cultivar a planta, tão logo as sementes germinem e as mudas tenham entre dois e tres anos, no chão, para desenvolver melhor o tronco e obter o movimento retorcido (nejikan) mais rapiamente, que se cultivada apenas no vaso:



Imagine como ficaria melhor ainda a planta acima se o japones que o cultivou tivesse usado a técnica que falei sobre o uso da tela metálica. Certamente, o tronco, além do movimento retorcido, ainda ganharia em maior sinuosidade. O desconhecimento da técnica não é só dos brasileiros, mas até mesmo dos cultivadores japoneses, mais antigos nessa arte do que nós, diga-se.

Bem, tenho em meu viveiro em desenvolvimento quatro mudas de grossura mediana de NEJIKAN, sendo tres no chão e uma envasada. Até agora, apenas a que está envasada (mais antiga) foi que produziu um unico fruto, do qual separei as sementes e logrei exito em reproduzir algumas mudinhas, que estão na primeira fase de cultivo (inferior a um ano). Por outro lado, tenho outras plantas obtidas via estaquia das nejikan que estão no chão, e essas estão indo bem tambem.

Há alguns anos ganhei de uma senhora uma romanzeira normal, de frutos grandes, que estava plantada na fazenda do pai dela. Munido de ferramentaria adequada, retirei a planta e a conservei num recipiente de cultivo, para facilitar e melhorar seu condicionamento. Atualmente está num vaso chinês, onde o cultivo está tão bom que até frutificou pela primeira vez, depois que a coletei (há mais de oito anos, creio eu):



Aqui, para ter noção do tamanho real do fruto:





Ela tem uma boa area de madeira exposta (shari extensivo), e mudei recentemente o formato de sua estrutura aerea, para tentar seguir um projeto elaborado para ela por um amigo bonsaista de Lisboa/Portugal, chamado Antonio Castro, que há até alguns anos participava ativamente do forum.

Bem, se adquiriu as sementes da mini, plante-as e as cultive então. Mas que as próximas sejam de frutos médios, para ter bonsai melhores a partir delas.

Quanto às manchas brancas nas nervuras das folhas de sua Tuia, são normais, não se preocupe. O que preocupa é quando a planta começa a queimar as folhas ou elas secam sem que contribuamos em nada para isso. Mas mesmo esse aspecto parece ser natural dessa espécie, então não há com o que se preocupar, exceto se isso ocorrer muito constantemente e muito intensamente, colocando toda a planta em risco.

Para voce ter uma idéia da complexidade dessa espécie, a planta abaixo foi capa de uma revista nacional de bonsai há anos atrás, e na ocasião pertencia ao grande mestre Hidaka, de Atibaia/SP. Atualmente faz parte da coleção do bonsaista brasiliense, meu grande amigo Junior. Essa planta tem a forma que tem por que, segundo mestre Hidaka, secou alguns galhos, o que o obrigou a converte-la ao estilo atual (literati), quando antes se tratava de um Moyogi:



Essa parte na frente da planta, totalmente seca, constituia o corpo principal da estrutura aerea da planta, antes que secasse inexplicavelmente, só não morrendo toda a planta por que alguns galhinhos, na parte traseira, sobreviveram, permitindo então que a formação estrutural fosse renovada com elas, mudando o estilo da planta:



A melhor dica de cultivo dessa espécie quem tem é meu amigo Elio, de Curitiba/PR (Bonsai Sul e Bonsai RS):

"Cultivá-la, não como coníferas, mas mais como uma myrtácea.
Solo rico em matéria orgânica, pouco adubo, pouco sol e evitar mexer (intervir) frequentemente. Transplantes, aramações, pinçagens, devem ser feitas em tempos bem espaçados".

Portanto, siga as dicas dele, que elas valem ouro, e talvez tenha sorte e não venha a perder a planta.
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MensagemEnviada: Qua Fev 01, 2012 11:48 am    Assunto: Responder com citação

Obrigado mais uma vez, Nickyfury.

Eu ainda não comprei as sementes de romã anã. Estou analisando as possibilidades, já que não são todas as espécies que se disponibilizam para vender na internet e aqui no meu estado não existe uma loja especializada em bonsai e que lá venda as sementes de arvores boas para cultivo desta forma. Ficarei agora por um tempo analisando isto, porque realmente é difícil cultivar bonsai a custo alternativo sem uma loja ou viveiro que me ampare, tudo tem que ser pela internet e nunca encontro as espécies próprias para cultivo.

Obrigado por tudo, Nickyfury!
Até breve.
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