FÓRUM do Atelier do Bonsai - Mário A G Leal

[Junmatsui]

Opa, precisando de ajuda dos mais experientes.
Se alguém com experiência em pinheiro negro japonês puder me ajudar ficarei muito grato.
Minha duvida é a seguinte, adquiri um pinus de 8 anos de idade, estou trabalhando já a estrutura dos galhos e agora pretendo reduzir as agulhas.
Percebi que usam bastante a técnica de cortar as agulhas,até mesmo mestres japoneses.
Por outro lado percebi que muita gente não aceita essa técnica de jeito nenhum.
Gostaria de saber os prós e os contras dessa técnica, e também qual o período de se fazer a remoção ou ate mesmo o corte de agulhas.
Se possível alguma explicação de como proceder o corte das agulhas,pois não achei nada na internet.
Por favor a época se possível dizer em estações do ano pois como moro no japão fico perdido com as épocas de se fazer os cuidados.

Mais uma vez ficarei agradecido se me ajudarem.

[Junmatsui]

Alguem?

[Luni]

Você mora no Japão e vem perguntar pra brasileiros como proceder com pinheiro negro JAPONÊS?! hahahaha. Talvez seu vizinho que nem mexe com bonsais saiba mais que os melhores aqui! hehehehe. Brincadeiras à parte, o corte com tesoura das agulhas não é bem visto pois as agulhas ficam com a ponta marrom, seca. O que esteticamente não é tão agradável. Para redução das agulhas, é preciso muita pinçagem, puxas as agulhas com as pontas dos dedos. Mas lembre de só faze-lo depois da adubação, pois uma carga nutricional maior tende a levar um desenvolvimento mais forte.
O pinheiro negro é difícil de se cuidar e pra se ter um bom resultado precisa seguir muito bem suas regras. É praticamente uma questão de técnica e repetições anuais. Procure aqui no fórum mesmo que tem muita informação sobre a sequência de ações. Existe por aqui um desenho, um gráfico sobre a época do ano e o que se deve fazer. Como vc tá no hemisfério norte, creio que uma inversão das estações do ano e uma pequena adaptação já ajude bastante.

[Junmatsui]

Bom, ai que ta o problema, como perguntar. (Risos)
Más com o corte das agulhas as próximas virão menores?
A única desvantagem é a estética ou causa algum dano a planta?
Obrigado pela ajuda.

[Rodrigo-RS]

olá Junmatsui

talvez possa te ajudar, essa foi uma conversa aqui no fórum há muitos anos atrás ..

Os japoneses tem relativa preferência pelo “mishô”, em função deste cultivo retratar “toda uma vida”, de seu início ao seu fim. Apesar de ridículo para muitos brasileiros, a afinidade cultivador x bonsai é tão tamanha, que inúmeros exemplares são batizados com nomes próprios, em muitos casos personagens lendários, deuses, fenômenos da natureza, heróis da história, entre outros. Para enfatizar, conheci um velho bonsaísta, já bisavô, que mal se recordava do nome de seus poucos netos (nem a quantidade…), mas com lúcida avidez, conseguia, de forma rápida, citar os nomes de cerca de 250 bonsais! Para variar, todos os meus poucos exemplares são batizados… Rs, rs… Pelo contrário, o “Nae-shitate” (cultura através de mudas) trata-se de um meio dinâmico, com existência de pequenos deméritos, no que refere-se à restrinção de seleção de exemplares de bom formato, o que, claro, poder ser sanado através da visita de um viveiro de quantidade abundante de mudas.
O espessamento de tronco, embora do conhecimento de muitos, não é praticado de forma eficiente, em função da ansiedade em contemplar resultados em curto espaço de tempo. As mudas novas tem particular tendência de crescimento de franzinas ramificações de galhos (“Hikobae”), próximas à base, que tem o imprescindível papel de aumentar o fluxo de seiva e acelerar o processo metabólico, no local do tronco, onde se originam. O caule central, principal canalizador de nutrientes para as demais ramificações da árvore, quando podado para substituição do ápice (por outro galho mais fino), interrompe de forma abrupta, o desenvolvimento do tronco, em seu sentido horizontal (engrossamento).
Em função do exposto, a técnica utilizada para engrossamento, tem por combinação de ações, os seguintes procedimentos:
1. As “Hikobae” devem crescer de forma livre, podando-se, de forma integral, todos os pequenos galhos de seu corpo, juntamente à pinçagem de 2/3 das agulhas, ficando o galho totalmente limpo, com acículas somente em sua ponta. A extensão limpa deve ser cauterizada (2/3), atentando-se para tomar sol em abundância, em toda a sua superfície, com o periódico reposicionamento dos vasos. Após alguns anos, de desenvolvimento do exemplar em seu todo, escolha a parte frontal de seu bonsai, e retire, unicamente as “Hikobae” direcionadas à sua frente. As demais, permanecerão até que o tronco atinja a espessura final desejada (não precipite a poda, no intuito de que “o resto que falta engordar, é só adubar e deixar…”). O principal erro de grande parte parte dos bonsaístas, é praticar de forma antecipada a poda de galhos, com o fim de atenuar a estética da árvore. Para ilustrar tal cenário, as “Hikobae” atingem cerca de 2m, para as laterais, á semelhança de uma árvore “careca”, de longos galhos lisos, e densas agulhas em suas extremidades... Deve-se pinçar quaisquer brotos ao longo das mesmas, e excluir gemas secundárias, deixando somente as de maior vigor, uma única, por cada galho;
2. Da mesma forma, o caule principal, será podado somente, quando atingido sua espessura definitiva. Muitos praticam a troca de àpice em mudas novas (até 5 anos), no desejo de que a engorda seja efetuada de forma natural. Todavia, em função do lento crescimento desta espécie, o desenvolvimento em sentido horizontal, faz-se de forma completamente retardada, mediante este procedimento. De mesma manipulação, deverão ser excluídos todos os galhos e agulhas (com exceção às de interesse para formação da estrutura básica do bonsai) em cerca de 2/3 de sua extensão, e retirada de brotos e gemas, deixando sempre, a gema mais forte. Seu ápice também atingirá cerca de 2m, em função da espessura a ser atingida;
3. Nas condições expostas, o desenvolvimento livre do sistema radicular em substrato arenoso, onde a densidade de longas raízes de armazenamento, faz-se pela maior procura de água em substrato de pouca umidade, dinamiza o nível metabólico da árvore, favorecendo sua engorda.
Convém ter em mente que, a manutenção das “Hikobae” deverão ser equilibradas, em função da proporção de afunilamento do tronco, devendo para tal propósito, manter-se “Hikobae” reservas no perímetro inicial do tronco (1/3) a partir do nebari, permanendo um maior ou menor nro. das mesmas, em função da proporção de seu corpo. Deve-se observar que a proporção de 1/3, não contempla a árvore em sua transição (1/3 de 2m de altura), mas sim, do exemplar em seu tamanho final. No momento de sua poda, o diâmetro das mesmas poderá atingir consideráveis dimensões, não devendo-se desanimar-se por tal fato (cicatrizes de tronco). A região próxima ao nebari, possui acelerado metabolismo, podendo-se para conforto transitório, utilizar-se de cicatrizantes de cor. Cultivei, no Japão, através de Mishô, exemplares com 7 anos, com diâmetro de 11cm em sua base, sendo que vejo, atualmente, a constatar viveiros com exemplares de 20 à 30 anos, de diâmetro reduzido, no desejo sôfrego da esperança de sua engorda (excluindo-se, claro, aqueles que já se satisfizeram em sua proporção, ou perderam as esperanças)…
Prezado Illex, considere-se enganado pelas técnicas expostas, e faça um teste comparativo junto às demais padrões existentes. Caso você obtenha sucesso, você tem um sério compromisso: tornar-se fã de carteirinha dos matsu… Abraços!


Piondy, mestre bonsaísta e especialista em PN.
_________________
Rodrigo