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FÓRUM do Atelier do Bonsai - Mário A G Leal
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Autor |
Mensagem |
Sergivaldo PARTICIPANTE


Registrado: 11/07/04 Mensagens: 1800 Localização: Cabedelo-PB
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Enviada: Qua Dez 26, 2007 11:11 pm Assunto: Estilo Naturalista - Como Desenvolvê-lo?? |
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Olá Pessoal,
Já havia postado este tópico n'outro fórum, mas face à minha curiosidade também estou colocando-o aqui.
É sabido que a maioria das regras para a formação de um bonsai foram estabelecidas pelos japoneses e baseado nelas tenho me norteado na execução dos meus bonsai. Algumas vezes, entretanto, me deparei com situações onde alguns desses conceitos eram muito difíceis de serem aplicados.
Tenho visto vários comentários mencionando o Estilo Naturalista ("Naturalist Style") onde me dá a impressão de que se trata de uma alternativa mais livre, digamos assim, na realização de um bonsai.
Face ao crescente número de admiradores e adeptos desse estilo, veio-me a curiosidade de perguntar aos colegas seguidores dessa vertente se existe algum critério para a formação de um bonsai naturalista e, caso positivo, quais seriam?
Um grande abraço,
Sergivaldo _________________ "O que dá valor a uma xícara de barro é o espaço vazio que há entre suas paredes." [ Lao-Tse] |
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nickyfury PARTICIPANTE


Registrado: 11/11/04 Idade: 64 Mensagens: 7679 Localização: Brasilia-DF
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Enviada: Qui Dez 27, 2007 1:32 pm Assunto: bonsai |
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Grande Sergivaldo. Ainda que não seja um adepto dessa vertente, ao menos no sentido literal, creio que posso dar minha opinião.
Creio que um bonsaista naturalista que conhecemos bem seja o Charles Ceronio, que em seu livro retratou bem as características instrisecas desse estilo, ao aplicar em suas plantas e discorrer sobre seus trabalhos, adotou formas e parametros de arvores nativas de seu país. Em seu livro, mostra ilustrações e fotos em que buscou aprimorar, via bonsai, o que a natureza apresenta, em termos de estruturação definitiva, tão caracteristica quanto peculiar, a meu ver.
Mas os critérios que ele adotou serviriam para nós, para nossas nativas? Alguns colegas, no afã de tentar admitir tal possibilidade sem antes fazer um profundo estudo a respeito, chegaram a aventar a possibilidade de estar educando determinadas plantas dentro da linha naturalista sul-africana, o que, a meu ver, constitui um erro primário.
Penso eu que ao adotarmos uma linha naturalista de construção de um bonsai, obviamente iremos nos munir de material nativo, e não alienígena ao nosso país. Sendo assim, qual seria então o padrão, se é que exista, para seguirmos?
Nossos bonsai seriam todos, ou quase todos, formados numa unica estruturação, se usassemos por exemplo uma jabuticabeira, ou qualquer outra frutifera nacional. Ou, então, tomemos a bouganvillea (primavera): é uma trepadeira, todos concordamos, ainda que vez ou outra algum forista apresente fotos de verdadeiras árvores. Então, como formar um bonsai de uma trepadeira, seguindo os moldes naturalistas?
Perdoe, amigo velho, se discorro num sentido contrário ao da sua pergunta. Mas é que, se vamos nos aprofundar numa discussão séria e interessante, creio ser relevante salientar determinados tópicos, visando facilitar futuras colocações.
Observo ainda que os japoneses adotaram critérios e regras para plantas nativas, diferentes das chinesas, de onde copiaram a arte e seus principios. Os chineses têm critérios diferenciados, dos japoneses, dos tailandeses e de outros, de quem copiaram, por sua vez, a arte.
Charles Ceronio quis identificar e criar, tambem, bonsai diferentes do chines e do japones, culminando numa arte totalmente voltada para as nativas sul-africanas, que priorizassem sua naturalidade e ocorrencia na natureza daquele país, diferente por demais da conta do resto do mundo.
Vasculhando os magnificos trabalhos do site Sidião, vemos trabalhos muito diferentes dos bonsai japoneses. Temos uma história recente, no terreno do bonsai. Ainda engatinhamos nessa arte, penso eu. Mas é muito apropriado discutir tal particularidade, e quem sabe, a partir dessa discussão, chegar a um consenso que nos permita criar parametros e regras, flexíveis claro, para a identidade do nosso bonsai.  _________________ que a compreensão liberte a energia criativa que existe em nós.
http://www.brasiliabonsaiclube.com (faça-nos uma visita, vc é sempre bem vindo) |
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Wilson Fracassi 3.o PASSO

Registrado: 23/03/06 Idade: 55 Mensagens: 470 Localização: Jaú -S.P
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Enviada: Qui Dez 27, 2007 2:43 pm Assunto: |
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Passei por este tópico por diversas vezes, e após refletir um pouco, se me permitem, resolvi participar desta salutar discussão.
Acho prudente antes de mais nada tentar definir o que seria esse "naturalista".
Vejamos : no Aurélio temos - Naturalista = Referente ao naturalismo;
Ainda no aurélio temos que Naturalismo é "Estado daquilo que é produzido pela natureza".
Neste sentido então esse estilo, ou ao menos o termo não poderia ser aplicado ao Bonsai, visto que não há bonsai Natural, correto.
Porém é possivel subentender o que se quer dizer quando se aplica o termo "Naturalista", que seria a tentativa da reprodução do natural, correto.
Nesta linha de pensamento creio que o tal estilo "NATURALISTA" não recria nada, apenas reafirma aquilo que a escola Japonesa já preconisa. Vejamos que os estilos clássicos conhecidos por nós são nada mais e nada menos que a representação do natural das espécies daquele País, ou não ?
Lógicamente para nós são alheios, visto que nossa flora não contempla pinheiros, tuias, juníperus, etc.... assim não contemplaria naturalmente os estilos destes.
Em suma, no meu ponto de vista, o "estilo naturalista", seria uma tentativa de trazer a arte para o cotidiano, para aquilo que nossos olhos estão acostumados a ver em termos de árvore. Porém como foi sabiamente dito pelo Nick, é preciso refletir muito, caso contrário correria-se o risco da banalização. |
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Antonio Castro PARTICIPANTE

Registrado: 23/08/04 Mensagens: 1277 Localização: Lisboa - Portugal
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Enviada: Qui Dez 27, 2007 8:20 pm Assunto: |
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Olá a todos
Amigo Sergivaldo, parabéns pela tópico e pela coragem em o fazer....
É um tema deveras espinhoso, pelo que esperemos que sendo colocado uma vez mais (já que não é a primeira, por cá) nos leve a reflectir e amadurecer um pouco mais.
Tal como refere o Amigo Wilson, também tive bastantes reservas em participar neste tema...provavelmente terá sido mais um erro da minha parte...mas enfim...
Eu tal como o Amigo também tenho bastantes dúvidas acerca desta vertente, é um facto...não quanto à sua existência, mas sim quanto à sua concepção.
Tento seguir uma que já é conhecida pela maioria dos membros desta comunidade...por estar um pouco por todo o lado e minimamente explicita quanto às suas directrizes para que possa ser seguida.
Embora possa muita das vezes ser conotado por ser tradicionalista/demasiado tradicionalista/conservador...quem me conhece pessoalmente sabe que não o sou, de igual modo, desde que feitos com qualidade admiro as diferentes variantes do Bonsai, sejam em que quadrantes se encontrem...até mesmo porque não entendo o Bonsai na sua plenitude, enquanto vertente tradicional (a que sigo mais amiúde) para saber se estou a caminhar pela via correcta, logo resta-me beber de todas as fontes, descartar delas o "menos bom" e tentar saber os porquês de algumas coisas.
Uma coisa eu sei....isso já aprendi ou julgo que aprendi, mais importante que mostrar "estar aqui ou ali", é sentir prazer em o fazer... principalmente (por questões pessoais, ainda que aceite quem o faça) não o fazer por motivos profissionais, como muitos naturalistas fazem com a maior das naturalidades...o mesmo em relação ao lado tradicional, pessoalmente prefiro fazê-lo sem preocupação de paga, ou de qualquer outro tipo de interesses que não o meu enriquecimento interior..."o que está para além das técnicas; da razão; ou das palavras..o mistério do ser".
Bonsai não se limita à simples tradução de árvore envasada, vai muito para além disso...seja qual for a vertente...mas pode ser a minha interpretação que esteja errada...
Voltanto à vertente naturalistic/naturalista...basta já ter feito alguns trabalhos numa arvore para perceber que de "naturalistic" não existe nada...existirá sim, quanto muito a percepção que nos deixa...fruto da nossa análise...mas apenas percepção.
O simples acto de serem feitos sem as regras/directrizes da vertente tradicional, já por si só, se trata de uma regra/directriz "a ausência das regras tradicionais".
Como alguém referiu noutro local/tópico em relação ao Sr. "X", que não faz os cortes perfeitos com o alicate de bola, para evitar denunciar a existência de trabalho humano...por si só já é uma directriz/regra...directriz enquanto acto de como se deve fazer...regra enquanto avaliação do que não se deve evidenciar....nada está isento "de", outro aspecto tantas vezes citada como por exemplo a ausência de uma frente única ...no Bonsai tradicional diz-se para escolher uma, mas de igual forma para não descurar de todas as outras, pelo menos aprendi Bonsai assim, Bonsai é arte tridimensional...aquela é da nossa eleição face a um determinado aspecto, neste caso tendo em conta alguns aspectos que serão de cariz cultural...nos outros casos também assim será...mesmo para focar uma qualquer árvore na natureza , um fotógrafo será levado a escolher um plano que melhor represente o aspecto que pretende evidenciar, não que seja melhor ou pior que outro qualquer, mas aquele que na sua percepção é/será o mais adequado para mostrar aquilo que cativou naquele preciso momento...
Como estas, serão muitas mais que nos escapam por não privarmos com pessoas, que atingiram tal patamar... cujo actual saber foi por terem atingido determinado objectivo e procuraram novos horizontes...afinal "utrapassar um objectivo é como se nunca o tivéssemos atingido"...coisa bem diferente do que normalmente se vê...a imitação de forma superficial sem a minima tentativa de aprofundar os porquês...nem qualquer preocupação em perceber as bases, seja de um ou outro lado...mesmo naqueles que seguem a vertente Japonesa...tornando-se mais notório nos fóruns daqui (Brasil), talvez pelo numero de praticantes ou por ser onde participe mais e à mais tempo.
Assim como Sergivaldo também gostaria de perceber mais acerca dos como&porquês dessa vertente, não daquela onde reina o livre arbitrio, mas sim daquele com o qual se teçe/rege por ex: o Sr. Walter Pall entre tantos com o qual formam belissimos exemplares...cuja vertente aliás diga-se em abono da verdade, tenho vindo a gostar cada mais, ainda que não a compreenda...mas por apreciar o que é bonito, quando o é, e entender existir ali bastante trabalho de fundo, aliado a uma procura por parte destes pela excelência...e para isso, até o ser selectivo nos yamadoris conta...
Peço desculpa pelo desviar do rumo., mas também me parece importante focar outra questão...é que independentemente de nos instalarmos numa vertente qualquer, seria de toda a conveniência que nos tentassemos aprofundar um pouco mais, ou pelo menos dessemos igual importância, a aspectos não menos importantes para o patamar em que a maioria de nós nos encontramos.
Sendo estes por exemplo: a fitopatologia ou Fisiologia Vegetal, de nada serve andarmos a colectar uma árvore e a torce-la durante uns meses para seguir uma determinada tendência, se não percebemos minimamente como ela funciona...
Bom foi apenas a minha opinião acerca do referido tema, tem o valor que tem...afinal sendo também fruto da miha percepção, o mais certo é estar errada/"menos correcta"...logo não é para se sobrepor a qualquer outra, nem tão pouco para ser levada em consideração caso assim o entendam.
Boa sorte
[ ]s
Castro _________________ Bonsai não é o nome, mas sim o despertar
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fabianoscosta PARTICIPANTE


Registrado: 05/02/07 Idade: 51 Mensagens: 1564 Localização: Florianópolis - SC
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Enviada: Qui Dez 27, 2007 8:49 pm Assunto: |
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Bem amigos, gostaria de apenas dar minha singela e imatura opinião, pois bem observo nas matas aqui do sul, em SC mais precisamente, em morros mais altos e barrancos modificados pelo homem, com objetivo de construções de estradas e etc., várias árvores em estilo semelhente aos da escola japonesa como o cascata e semi-cascata, obviamente sem intervenção não temos a estrutura de bonsai, porém vários varridos pelo vento, aqui por nosso vento sul, e como disse Nicky, vassouras a rodo, que em maioria, nossas frutíferas.
acho q podemos desenvolver este estilo aqui sem problemas, tendo conhecimento e prudência,
grande abraço,
Fabiano _________________ Pequeno gafanhoto
Clube Floripa Bonsai
www.fabiano.projetobonsai.com
www.floriculturaflorabrasil.com.br |
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Kinashi
Registrado: 16/02/06 Mensagens: 27 Localização: Belo Horizonte
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 4:35 am Assunto: |
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Olá Sr. Sergivaldo,
Antes de mais nada, parabenizo-o por seu esforço no que refere-se ao estudo dos espécimes natos de sua região, condicionalmente distinta e agraciada com maravilhosos exemplares de formato irregular e retorcido.
Sua indagação como vê, tem um sentido muito técnico, podendo-se denotar-se pelo perfil daqueles que se propuseram a discutir o assunto, longe do contexto usual, característico do cotidiano do fórum.
Sua questão, aparentemente, simples, é detentora de uma complexa proposição discursiva, com partes de seu corpo embaraçadas em função da simples causa: o divergir de informações dentre seu destino e sua origem, ou em pior avaliação, a completa ausência desta, mediante a sóbria necessidade de criá-lo sem, lamentavelmente, tê-lo.
Acredito que posso atenuar, em partes, sua dúvida com relação ao polêmico “estilo naturalistic”. As explanações em voga ao que caracteriza-se o “estilo”, como algo inovador na Arte, de aspecto modernista, contrária à corrente clássica tradicionalista, sem maior co-ligação aos japoneses, de maior proporcionalidade prioritária pelos ocidentais, não são citações que colocam em evidência a realidade da Arte. Existe neste caso uma grande errata, característica familiar em quaisquer cenários, no qual presencia-se a dificuldade de disseminação de uma cultura por outrem, em função de n aspectos.
Por diversas ocasiões, em diversos fóruns, em diversos países (inclusive no Japão), temáticas envoltas na compreensão dos estilos em sua origem, e as diretrizes impostas para a sua prática, foram motivadores para extensos debates, sem contudo apresentar em seu fim, algo correlato para seu fechamento com Chave-de-Ouro. A circunstância tem, certamente, motivadores extras para este desfecho, identificando-se, pois, demasiado nro. de variantes de “escolas” e “estilos” no mundo, oriundos da personalização da Arte, óbvia e natural, por aqueles que já absorveram (ou não) mecanismos e informação para tal.
Existem no Japão, dentre algumas linhas, 2 referências: a primeira trata-se da escola Shizen Bonsai, ou literalmente, “Bonsai Natural”. A segunda, direciona o enquadramento do formato de um exemplar, agrupando-o a uma divisão de nome próprio, não comum ao atual meio bonsaístico brasileiro. Eis aí, quem sabe, o objeto de dúvida / intriga sobre a arquitetura / formato dos trabalhos apresentados por demais países, destacando-se, popularmente, os chineses conforme discutido no passado. Esta variante denomina-se no arquipélago, como Jiyuu Jukei, ou melhor, “Estilo / Formato livre”.
O Shizen Bonsai é uma escola mantedora de regras distintas, dentre as quais:
. Não utilização de métodos contrários à “vontade” da planta, tais como aramagem e ancoragem (prática, prioritariamente, proibitiva). Obtêm-se proveito do fenômeno natural instintivo de crescimento da planta em direção ao sol, para direcionamento das ramas, em alguns casos;
. Desnecessidade de compactação de ramas e da simetria triangular tradicional para a composição parcial, ou integral da planta;
. Inutilização de podas de manutenção visando a redução de tamanho de folhas / dispersão de energia vegetativa de focos de maior vitalidade para as áreas de menor força, não havendo, consequentemente, importância para o brotamento nas regiões sem ramas;
. Entrenós alongados são bem vindos;
. Folhas secas / amareladas, como também, ervas daninhas são reservadas como parte do acabamento, salvo os casos de infestação de pragas;
. Exemplares de imponente tronco, de baixa estatura, dimensionando idade avançada são atípicos;
. Adubação desnecessária ou escassa. Pratica-se o provérbio “Sui, you, fuu, do, you”, literalmente, “Água, sol, vento, terra e folhas (de mesma pronúncia you)”, onde tudo é atribuído pela natureza;
. O formato ideal tem sua regra deferida em função da adequação de cada exemplar, a seu respectivo espécime in natura;
. Em vista da natureza manter seu devido “Ponto de equilíbrio”, as trocas de substrato, no momento de reenvases, não são integrais, devendo-se atentar para que a terra antiga volte para o vaso, com mínimo complemento de novo substrato.
Em vista do relato, a idéia de que o Bonsai Natural seja uma linha onde preserva-se de forma absoluta, a condição natural do exemplar, deixando-o à “mercê dos ventos”, não necessitando de nada fazer para sua manutenção, merece, na verdade, uma especial atenção. Certamente, a isenção da operacionalização de rotina, induz a impressão de menosprezo, relevando à depreciação do bonsai, como explanado em outro fórum durante debate ocorrido junto ao popular Walter Pall. Porém, deve-se enfatizar que quando da obtenção de exemplares franzinos e mau acabados, apesar de enquadrarem-se nas condições citadas, o mesmo não ocorre para bonsais garimpados à exaustão, prévia e afortunadamente, “com cara de bonsai” de simetria perfeita, densidade e proporção. Caso haja interesse na utilização destes para a composição de um exemplo de Shizen Bonsai, deve-se, pois, “estragá-lo”, propositadamente, para a condução do espécime ao estilo. Não obstante, a referida escola mantém grande nro. de adeptos no Japão, sendo defendido com maior vigor, o subjetivismo Zen, onde a natureza e seu equilíbrio tem importante significado. Defensores do mesmo, censuram o artificialismo provindo da escola tradicional, no qual o perfeccionismo no acabamento clássico, tal como podas impecáveis, similares à topiaria, a branquidão aparente nos jins / sharis, folhas abaixo das ramas, galhos cruzados, dentre outros, tornam a Arte distante da verdadeira natureza.
O segundo caso, Jiyuu Jukei (Estilo / Formato livre) não faz referência a uma escola de regras e características distintas, sendo, simples e puramente, uma opção livre, flexível, quando um exemplar não enquadra-se aos formatos ortodoxos (chokan, moyogi, dentre outros mais), devendo-se ressaltar com proeminência, tratar-se de um clássico tradicional, e não uma variante modernista. Eis um trecho comum a manuais das principais associações japonesas de bonsai, dentre muitas, participantes do majestoso evento Kokufuten: “... Bonsai no jukeiwa kihontekini, shizenkaini arumonowo tehonto shimasu... Daihyoutekina bonsai jukeiga attemo, korewa keishikijouno bunruide atte, atehamaranai bonsaimo arimasu. Bonsaino jukeiwo sousaku suruniwa, bunruino jukeini kodawaru hitsuyouwa arimasen...” (... os estilos do bonsai têm como fundamento base, as características encontradas na natureza… Mesmo que hajam estilos padrões / principais, estes referem-se, unicamente, a identificação de formatos, havendo bonsai que não enquadram-se aos mesmos… Para a criação de um bonsai, não há a necessidade de fazer questão de inserção em um tipo de estilo…). A opção “livre” sempre existiu, não sendo pois, um conflito de interesses mediante a quebra de regras rígidas, por imposição dos clássicos. Este equívoco, aparentemente, é comum pelo visto, em grande parte dos bonsaístas, mesmo aqueles agraciados por maior experiência e informação.
Sua citação, Sr. Sergivaldo, “... Tenho visto vários comentários mencionando o Estilo Naturalista ("Naturalist Style") onde me dá a impressão de que trata-se de uma alternativa mais livre...” faz referência, na verdade, ao Jiyuu Jukei, e não ao bonsai ao “estilo natural”. Da mesma forma, o exemplar de jurema-branca, de bom acabamento, apresentado neste link http://papagoiaba.forumvila.com/papagoiaba-about1498.html por forista, de mesmo meio, não trata-se de um Shizen bonsai, mas meramente, um bonsai em estilo livre (Jiyuu jukei).
Defronte o ensejo, em mesmo debate, cita-se o nome do digno bonsaísta Walter Pall como desbravador / utilizador de uma vertente, substantivada “Naturalistic”. Indubitavelmente, não é utilizado neste caso, o termo correto, apesar de o mesmo assim o nomear, nem tampouco torna-se sua denominação, algo a ser corrigido. Water Pall é um exímio explorador do Jiyuu Jukei, podendo-se batizá-lo como “Walter Pall Style”. Tal fato pode facilmente ser constatado pelo perfeccionismo classicista no acabamento final de seus exemplares, a utilização de regras padrões, como a simetria triangular (agradável aos olhos), tridimensionamento de patamares, troncos afunilados, dentre demais outros. De forma sarcástica, Sr. Sergivaldo, caso tais exemplares fossem da “verdadeira” escola naturalista, o bonsai estaria enveredado entre um bom volume de capim, além do principal, o dito bonsai, ser também, meros arbustos de porte.
Em suma, seu comentário “... É sabido que a maioria das regras para a formação de um bonsai foram estabelecidas pelos japoneses e baseado nelas tenho me norteado na execução dos meus bonsai. Algumas vezes, entretanto, me deparei com situações onde alguns desses conceitos eram muito difíceis de serem aplicados...” deve atribuir-se, meramente, a utilização das sínteses operacionais e regras básicas, mas não a necessidade sôfrega de “encaixe” do formato da planta a um estilo padrão. Para compreensão do sentido da existência de depreciação, ou não, do bonsai em Jiyuu Jukei, como por exemplo, nos concursos nacionais, a explicação é ingênua e natural: concursos devem manter parâmetros de comparação / qualidade para que exemplares concorram entre si, ou seja, mesmo que hajam somente 3 exemplares participantes sendo todos horrendos e franzinos, por obrigação, elege-se, pois, o menos feio... Para testemunho desta teoria, a escolha de plantas com formatação atípica, torna as regras vulneráveis, pela ausência de comparativos que as “ranqueem”, porém... O ser humano é uma caixa de surpresas. Juízes ao se depararem com exemplares de magnitude divina, com créditos capazes de acobertarem diferenças oriundas de pontuacões e diretrizes, tornam então visíveis históricos de eventos onde “a regra” não é / foi o elemento principal. Mas ressalto, são todos clássicos sem teor nem intenção de modernismo...
Como de praxe, evitarei possíveis entraves mediante postagens extras, mas caríssimo Sr. Sergivaldo, acredito que já tenha decifrado seu enigma, e compreendido o “Calcanhar de Aquiles” de nossa Arte neste país.
p.s.: Camarada Castro, como sempre, wabi / sabi sempre presente em suas explanações! Espero poder ver mais comentários!
Tenham um Feliz Ano Novo!
Abracos!  |
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Sergivaldo PARTICIPANTE


Registrado: 11/07/04 Mensagens: 1800 Localização: Cabedelo-PB
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 9:56 am Assunto: |
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Senhores, estou encantado....
Face à extensão das respostas, efetuarei os comentários aos poucos. Agradeço pela paciência e participação de todos.
Embora saiba que discussões relacionadas a assuntos dessa natureza estão sujeitas à interpretações equivocadas, não hesitei em criar este tópico. Não tinha a menor dúvida da maturidade dos membros desta comunidade e, confesso, surpreenderam-me as respostas pelo altíssimo nível ora apresentado.
Assim como o Nickyfury, também não me considero adepto dessa vertente, mas não nego o gosto de apreciar belos trabalhos executados segundo a mesma. O meu interesse nesse tema deve-se ao fato de ter visto apresentações de diversas plantas com pouco ou nenhum critério técnico, sob a égide de que estas enquadram-se no “naturalistic style”, o estilo naturalista.
Antes de tecer qualquer comentário a respeito do mesmo, entendi que seria de bom alvitre ouvir primeiro a opinião dos nobres colegas.
Nickyfury escreveu: | Mas os critérios que ele adotou serviriam para nós, para nossas nativas? Alguns colegas, no afã de tentar admitir tal possibilidade sem antes fazer um profundo estudo a respeito, chegaram a aventar a possibilidade de estar educando determinadas plantas dentro da linha naturalista sul-africana, o que, a meu ver, constitui um erro primário.
Penso eu que ao adotarmos uma linha naturalista de construção de um bonsai, obviamente iremos nos munir de material nativo, e não alienígena ao nosso país. Sendo assim, qual seria então o padrão, se é que exista, para seguirmos? |
Nicky, não sei responder com exatidão se os critérios adotados pelo Charles Cerônio seriam válidos para nossas nativas. Sabemos que cada espécie possui características próprias e se desenvolve de acordo com as condições climáticas, relevo e tipo de solo. Se constitui um erro modelar uma mirtáceae como se fosse uma conífera, o mesmo vale para os demais gêneros, onde deve prevalecer, na minha humilde opinião, o bom senso.
Nickyfury escreveu: | Nossos bonsai seriam todos, ou quase todos, formados numa unica estruturação, se usassemos por exemplo uma jabuticabeira, ou qualquer outra frutifera nacional. Ou, então, tomemos a bouganvillea (primavera): é uma trepadeira, todos concordamos, ainda que vez ou outra algum forista apresente fotos de verdadeiras árvores. Então, como formar um bonsai de uma trepadeira, seguindo os moldes naturalistas? |
Acho oportuno ressaltar que não sou defensor dessa corrente, até porque ainda desconheço os critérios adotados para o desenvolviemnto do bonsai “naturalistic”. Mas, não obstante à forma natural dos pinheiros e juníperos, é comum vermos as mais variadas formas e estilos de bonsai envolvendo espécies desses gêneros.
Nickyfury escreveu: | Vasculhando os magnificos trabalhos do site Sidião, vemos trabalhos muito diferentes dos bonsai japoneses. Temos uma história recente, no terreno do bonsai. Ainda engatinhamos nessa arte, penso eu. Mas é muito apropriado discutir tal particularidade, e quem sabe, a partir dessa discussão, chegar a um consenso que nos permita criar parametros e regras, flexíveis claro, para a identidade do nosso bonsai. |
Eis algo que, a princípio, não me preocupa: estabeler critérios para uma possível identidade do bonsai brasileiro. Se ainda estamos engatinhando nessa arte, tentando desvendar o que ainda nos parece obscuro, não seria mais óbvio estudarmos com mais afinco os fundamentos da arte visual, sua composição, estética e equilíbrio, como bem referencia o Robert Steven (http://www.artofbonsai.org/feature_articles/rules.php) em seu blog?
Há uma evidente carência de artigos e fontes de pesquisas que abordem esses temas e sua relação com o bonsai.
Um grande abraço,
Sergivaldo _________________ "O que dá valor a uma xícara de barro é o espaço vazio que há entre suas paredes." [ Lao-Tse]
Editado pela última vez por Sergivaldo em Sex Dez 28, 2007 10:05 am; num total de 2 vezes |
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pedrotv 2.o PASSO


Registrado: 12/04/07 Mensagens: 264 Localização: Nova Friburgo - RJ
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 9:59 am Assunto: |
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Kinashi, explanação das mais (digo sinceramente) confusas e pouco esclarecedoras (infelizmente, pois percebe-se um conhecimento profundo e concreto da arte). Apenas uma correção: não é "Naturalist Style", Mas "Naturalistic style". A terminação promove uma enorme diferença no significado. Ela faz o termo significar "parecido com a natureza, mas não natural", ao contrário de naturalist que significaria "igual à natureza".
Nesse sentido, não seria um bonsai, pois é ilusório e infantil acreditar que pode-se reproduzir no bonsai todos os galhos, ramos e folhas de uma árvore que cresceu em meio natural, como seria o caso do naturalist. Assim, deixado solto e sem regras, ficaríamos todos com um arbusto num vaso cheio de ervas daninhas...
Já o termo naturalistic que eu traduzo como naturalístico (como bem disse o Sergivaldo no outro fórum, esse termo não existe em português), isto é, parecido com a natureza mas não natural, implica na maneira como o Walter Pall explica o estilo: parece uma árvore que nunca foi tocada pela mão do homem, mas trabalhada à exaustão com torções, aramações, ancoragem, etc. Apenas no resultado final isso não pode ficar visível.
O que me incomoda agora, não são exatamente os estilos, mas a busca que parece acontecer aqui no Brasil, de que tudo seja japonês. A idéia por trás do bonsai não é japonesa. Porque ficar usando termos japonese, estilos japoneses para querer ser japonês?
Não somos japoneses e não somos capazes de compreender sua cultura, pelo fato de estar longe das raízes que norteiam a nossa própria...
O resultado disso é que vejo jabuticabeiras, bougainvilles e até ipês ficando parecidos com pinheiros negros japoneses e áceres palmatuns... A jurema do Sergivaldo é um exemplo fantástico de árvore que não se parece com um alienígena, mas com uma autêntica representante da flora nacional e deve ser reverenciada por isso... _________________ Um amigo é uma estrada, um inimigo é um muro - provérbio chinês.
Abraços,
Pedro Bessa
http://pedrobonsai.wordpress.com |
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Alexandre S. Coelho PARTICIPANTE


Registrado: 16/09/04 Idade: 52 Mensagens: 3929 Localização: RECIFE - PE
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 10:23 am Assunto: |
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Oi pessoal,
Amigo Sergivaldo, bom “vê-lo” novamente por aqui
Muito bom o debate proposto, e que as belas respostas já me deixam claro a desconfiança do “novo” estilo proposto não passar de uma variante do bonsai japonês, quando praticado por tantas outras pessoas e países!
Eu particularmente sempre procurei guiar-me pelos estilos básicos e tradicionais japoneses, mas NUNCA levo isto a toda planta. Como já foi dito, fica difícil e artificial tentar mudar demais uma jabuticabeira, um yamadori ou qualquer outra planta de característica singular. Mas para toda criação devemos partir de um conceito, uma regra, uma idéia... Acredito que devemos antes de tudo mostrar o que a árvore tem de melhor, mesmo que não enquadre-se num estilo padrão. Se não fosse isto, o bonsai perderia o conceito de ARTE e nós, artistas , não poderíamos criar...
De tal forma, ACHO que não me agradaria aos olhos um bonsai da "escola" Jiyuu Jukei descrita pelo amigo forista Kinashi, pois aprendi e tento passar que quando formamos um bonsai, devemos buscar parecer natural, planta e vaso em harmonia, porém fazendo com que a árvore apresente o que tem de melhor, e na maioria das vezes isto terá que ser feito artificialmente...
Resumindo, podemos mudar o nome para “brazillian style”, “naturalistic style”, estilo africano... mas todos serão BONSAI regidos pela arte japonesa
amigo Pedro,
se fosse desta forma que descreves nos dois últimos paragrafos, então teriámos que dar outro nome a esta arte, não achas??? _________________ Abraços
Alexandre S. Coelho
Associação Nordestina de Bonsai
Bonsai, arte de transformar e ser transformado pela natureza... |
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Sergivaldo PARTICIPANTE


Registrado: 11/07/04 Mensagens: 1800 Localização: Cabedelo-PB
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 11:10 am Assunto: |
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Wilson Fracassi escreveu: |
Nesta linha de pensamento creio que o tal estilo "NATURALISTA" não recria nada, apenas reafirma aquilo que a escola Japonesa já preconisa. Vejamos que os estilos clássicos conhecidos por nós são nada mais e nada menos que a representação do natural das espécies daquele País, ou não ?
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Em suma, no meu ponto de vista, o "estilo naturalista", seria uma tentativa de trazer a arte para o cotidiano, para aquilo que nossos olhos estão acostumados a ver em termos de árvore. Porém como foi sabiamente dito pelo Nick, é preciso refletir muito, caso contrário correria-se o risco da banalização. |
Meu caro Wilson,
Você foi muito feliz nas suas explanações, pelo menos para mim. Também tenho a mesma opinião de que tudo converge para um só ponto: indenpendente da origem ou Escola, há de se levar em consideração os princípio básicos criados pelos japoneses, por mais que se tente reinventar a roda.
Um grande abraço,
Sergivaldo _________________ "O que dá valor a uma xícara de barro é o espaço vazio que há entre suas paredes." [ Lao-Tse] |
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pedrotv 2.o PASSO


Registrado: 12/04/07 Mensagens: 264 Localização: Nova Friburgo - RJ
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 11:12 am Assunto: |
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Alexandre, acredito que o termo bonsai, em japonês mesmo, tenha um significado muito mais amplo do que qualquer tradução que se faça. Não nego nem as regras, nem a arte, nem a descendência... Adoro os bonsai, seja de qual estilo for. Modelo muitas plantas minhas chamando-as de han-kengai, moyogi, etc. Isso não muda e adoro, afinal me apaixonei por uma arte que tem origem chinesa, mas que ganhou as cartas de nobreza no japão. O que me preocupa, é a excessiva modelagem artificial que tanto vejo por aí. Jabuticabeiras moyogi são o fim da picada... São belas, não nego. Mas tenho começado a achar que deve-se respeitar suas próprias características. Será que um japonês algum dia iria pensar em estilizar um PN como um piteco? _________________ Um amigo é uma estrada, um inimigo é um muro - provérbio chinês.
Abraços,
Pedro Bessa
http://pedrobonsai.wordpress.com |
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Sergivaldo PARTICIPANTE


Registrado: 11/07/04 Mensagens: 1800 Localização: Cabedelo-PB
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 12:29 pm Assunto: |
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Meu amigo Antonio Castro,
Não é de hoje que nutro profunda admiração pelas suas explanações, sempre muito coerentes e repletas de um profundo conhecimento. Só tenho que agrader pela tua participação.
Antonio Castro escreveu: | Tento seguir uma que já é conhecida pela maioria dos membros desta comunidade...por estar um pouco por todo o lado e minimamente explicita quanto às suas directrizes para que possa ser seguida. |
Esta, talvez, seja a razão maior pela qual defendemos (e tentamos seguir) a Escola Clássica Japonesa. Os livros e outras fontes de informações a que temos acesso tratam, em sua totalidade, das regras e técnicas japonesas para a criação de um bonsai. Através dessas fontes aprendemos, ainda que superficalmente, como se estrutura um bonsai, desde a mais tenra semente, passando pela formação das raízes, do "nebari", a importância do "tachiagari", do afunilamento do tronco, da boa distribuição e da disposição dos galhos, o valor dos espaços vazios, da formação da copa, dos artifícios que foram criados para dar a impressão de velhice, tais como os jin's, shari's e uro's., etc.
Gostaria muito, confesso, de conhecer todas as técnicas utilizadas na formação de um bonsai (ou outro termo mais condizente) alheio à Escola Japonesa.
Antonio Castro escreveu: | Uma coisa eu sei....isso já aprendi ou julgo que aprendi, mais importante que mostrar "estar aqui ou ali", é sentir prazer em o fazer... principalmente (por questões pessoais, ainda que aceite quem o faça) não o fazer por motivos profissionais, como muitos naturalistas fazem com a maior das naturalidades...o mesmo em relação ao lado tradicional, pessoalmente prefiro fazê-lo sem preocupação de paga, ou de qualquer outro tipo de interesses que não o meu enriquecimento interior... |
Isto, ao meu ver, está acima de tudo. Todos tem o direito de seguir ou criar a Escola que mais lhe convier. O inaceitável é a crítica sem fundamento, preconceituosa.
Um abraço fraterno,
Sergivaldo _________________ "O que dá valor a uma xícara de barro é o espaço vazio que há entre suas paredes." [ Lao-Tse] |
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nickyfury PARTICIPANTE


Registrado: 11/11/04 Idade: 64 Mensagens: 7679 Localização: Brasilia-DF
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 1:00 pm Assunto: bonsai |
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Pedro, visitando o forum em que vc mostrou a Jurema do amigo Sergivaldo, sou obrigado a discordar, quando diz que é um exemplar claro do termo que ora se discute em nosso forum.
Essa planta, em particular, mostra sim em toda a sua magnifica estrutura, que sofreu ação humana. Acredito que, para se enquadrar realmente dentro do estilo que o Sergivaldo ora busca aprofundar-se, teríamos que nos basear em alguma outra planta. Mestre Hidaka, por exemplo, tem em seu viveiro algumas plantas que certamente poderíamos dizer pertencer a esse estilo. Todavia, elas existem ali apenas em uma fase transitória, em que ele mesmo reconhece estar "estudando" a espécie, para depois adequá-la ao tratamento que julgar oportuno quanto à sua formação como bonsai.
E esteja certo, ao fazê-lo, mestre Hidaka certamente optará pela escola japonesa clássica (embora seja coreano de nascimento, seu espírito é japonês, sempre).
A explicação dada por Kinashi remete ao que melhor poderemos ter quanto ao estilo que ora buscamos compreender. Acredito que o esclarecimento quanto ao que o bonsaista Walter Pall fez em muito contribuiu para dirimir algumas dúvidas, mas, tal qual o Sergivaldo expõe, ainda fica muita coisa sem resposta.
Ao tentarmos explicar qual a melhor forma para algumas nativas nossas, sempre me lembro que mestre Hidaka, ao ser indagado a respeito, disse certa vez, em relação à jabuticabeira, que o estilo "natural" seria o de multiplos troncos, por ser esse o visual mais encontrável dessa frutifera.
À época não redargui a opinião do mestre, mas fiquei pensando: ora, as jabuticabeiras que todos conhecemos, Hidaka inclusive, são as que vemos plantadas em quintais, seja em chacaras, sitios ou fazendas. As mudas geralmente brotam expontaneamente nesses mesmos locais, vez que há uma forte distribuição das sementes, que não vão muito longe, mesmo quando levadas por passaros ou animais silvestres. Seria então, nesse caso, a ocorrencia da jabuticabeira multiplos troncos a melhor forma para nosso bonsai de jabuticabeira?
Onde a mesmice que citei em minha primeira colocação. Ora, a seguir essa linha de raciocinio, todos teríamos então bonsai de jabuticabeiras apenas em estilo multiplos troncos. E nem poderiamos fazer muito por elas, vez que, seguindo um curso natural, não há que se falar em tracionamento de galhos, nem aramagem, nem poda de manutenção.
Mas aí, abro um parentese: então não existe o estilo moyogi na natureza da jabuticabeira silvestre? Epa!!! Mas e quando a semente é levada para um local mais ingreme, por alguma ave, como um penhasco? Não poderia então ocorrer o crescimento de uma jabu em estilo Kengai ou han kengai?
Termos japoneses, embora não sejamos obrigados a compreender a cultura japonesa, servem melhor para designar certos tipos de trabalhos que todos realizamos na formação ou educação de um bonsai. Minha opinião, claro. Mas, para que eu entenda ao menos a razão da existencia desses termos, é necessário, para mim, entender um pouco a cultura desse magnifico país. Estudar bonsai é importante. Estudar a arte e a cultura japonesa, para mim, é igualmente importante, para poder entender melhor o que fazer e a razão de estar fazendo dessa ou de outra determinada maneira.
Voltemos às nossas nativas. Dentro da nossa cada vez maior integração bonsaistica nacional (constantemente temos tido a grata satisfação de participarmos de eventos realizados em todo o país, fugindo do singularismo regional a que estavamos presos antes), alguns amigos se depararam com a magnifica e extraordinaria ocorrencia das plantas do cerrado brasileiro. Admiraram-se com as caracteristicas arvores de troncos tortuosos, galhos com movimentos para lá de excepcionais e sinuosos, e uma das perguntas que mais ouço, nesse momento, é a razão do por quê não estamos explorando essas particularidades, de não estarmos fazendo bonsai com essas arvores, seguindo, então, esse estilo tão natural.
Bem, será que eu poderia, então, adequar esse estilo natural das arvores do cerrado a uma determinada espécie? digamos, uma caliandra? ou quem sabe uma jabuticabeira? Ora, alguns de nós tem tentado cultivar espécies nativas do cerrado, mas sempre esbarramos em certas dificuldades: raizes capilares muito profundas, não permitem um yamadori. Fogo anual no cerrado comprometem um provavel alporque visando obter raízes capilares mais ao nível do solo. Uma das espécies mais resquetada nesses questionamentos, o Pequizeiro, ainda traz embutido a dificuldade extra de não ser possível reduzir o tamanho de suas folhas, mesmo com a desfolha constante. Como proceder a um bonsai com essa espécie, então, já que a planta final teria que ter uns 90 cm de altura ou mais, e suas folhas são geralmente do tamanho de uma tela de monitor de pc (14 polegadas)?
Sergivaldo, desculpe minha digressão de tão espinhoso assunto. Mas é que certos parametros têm que ser colocados, para que possamos nos aprofundar melhor no estudo dessa possível vertente.  _________________ que a compreensão liberte a energia criativa que existe em nós.
http://www.brasiliabonsaiclube.com (faça-nos uma visita, vc é sempre bem vindo) |
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Sergivaldo PARTICIPANTE


Registrado: 11/07/04 Mensagens: 1800 Localização: Cabedelo-PB
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 1:44 pm Assunto: |
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fabianoscosta escreveu: | Bem amigos, gostaria de apenas dar minha singela e imatura opinião..............................................................................
acho q podemos desenvolver este estilo aqui sem problemas, tendo conhecimento e prudência,
grande abraço,
Fabiano |
Fabiano,
É muito legal vê-lo participando e dando seu parecer sobre esse tema. O que estou tentando buscar é justamente esse conhecimento.
Um grande abraço,
Sergivaldo _________________ "O que dá valor a uma xícara de barro é o espaço vazio que há entre suas paredes." [ Lao-Tse] |
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juliano
Registrado: 03/10/07 Mensagens: 22 Localização: Niterói-Rj
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Enviada: Sex Dez 28, 2007 5:42 pm Assunto: |
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Olá senhores...
Não possuo o grau de experiência de mtos dos srs, mas vendo a importância desse tópico, venho deixar minha modesta opinião e aproveito para levantar algumas outras questões.
Bem... seguir uma escola ou estilo, assim como suas regras técnicas é de suma importância. A partir daí que se tem o parâmetro para desenvolver um determinado trabalho.
O X da questão é:
Saber avaliar quando haverá condições de aplicar as regras técnicas de cada escola ou estilo e quando as mesmas não poderão ser aplicadas.
Seguir uma escola ou orientação, não significa renegar quaisquer outras.
Na realidade, creio que se deva buscar o melhor de cada uma.
Há também a questão da planta em seu ‘estado bruto’. Ela deve nos ‘mostrar’ o caminho a seguir e essa atenção só será obtida com a prática. Esse detalhe, eu aprendi e sedimentei a partir da observação do trabalho de mtos dos srs.
Outro fato interessante, é que, salvo melhor juízo, a escola japonesa tradicional tem algum embasamento ‘ZEN’ nos Bonsai. Isso os torna únicos.
Mas faço uma observação: o ‘ZEN’ visto não pelo lado da religião (longe de mim fazer tal insinuação), mas pelo lado da ligação com a natureza e observação da mesma. A partir dai também a grande ‘naturalidade’ daquela escola.
Ora... os estilos de bonsai não foram ‘catalogados’ a partir da observação da natureza (asiática)?
Qual o empecilho a criar-mos Bonsai observando a nossa natureza?
Creio que o grande problema da maioria dos bonsaístas, é não compreender o que venha a ser o BONSAI. Eu sou um deles e estou buscando corrigir esse problema.
O que venho observando nessa minha curta experiência é que o Bonsai está cada vez mais do lado comercial, afastando-se da sensibilidade do ser humano.
Notem bem, qdo digo 'sensibilidade', não estou levando para o aspecto religioso ou algo nesse sentido. Quero dizer que nós, de uma forma ou de outra, nos afastamos da natureza.
Além do ‘comercial’, há também o aspecto do ‘ego’, da competição não saudável e que se traduz nos termos:
‘O meu bonsai é melhor que o de fulano’;
‘Minhas plantas são mais bem cuidadas, são mais bonitas’;
‘Eu tenho mais conhecimento’;
‘Essa planta não está dentro das regras’... e etc...etc... etc....
Não estou dizendo que não devemos ter orgulho de um trabalho bem feito e nem que não devemos ganhar algum $ com esse trabalho. Mas devemos antes de tudo, respeitar e evidenciar aquela pequena planta.
Então teremos o seguinte discurso:
‘Aquela planta foi conduzida pelo fulano (a)’
ao invés de:
‘ O fulano trabalhou aquela planta’.
Tudo isso dificulta, no meu entender, o desenvolvimento dos menos experientes. Porém vejo que aqueles que obtiveram uma projeção nessa bela arte, de alguma maneira despertaram para esses aspectos e os corrigiram.
Com relação aos termos japoneses, mesmo que não se aprecie a cultura daquele país (eu particularmente aprecio mto tal cultura), deverá haver o respeito aos mesmos. Afinal de contas o Bonsai é asiático e foram eles que o desenvolveram. Isso não quer dizer que devemos ‘virar’ japoneses ou chineses para fazer bonsai.
Ficam aqui minhas observações... um pouco no ‘ar’, admito... mas, assim as deixo para que ajude numa reflexão sobre esta atividade que estamos desenvolvendo.
Abraços a todos
E FFELIZ 2008!!!!! _________________ Juliano Bolognini |
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