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ESCRITOS DO DIA A DIA

LENDAS DO JAPÃO!
30.12.2011
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MensagemEnviada: Seg Abr 07, 2008 10:41 am    Assunto: Responder com citação

Um lírio de 33 flores
Texto e desenhos: Claudio Seto



Certo dia, perto de Aomori, um jovem lavrador vinha voltando da cidade e viu duas meninas sentadas sobre uma rocha à beira de um riacho. Percebendo que elas estavam tristes, o moço perguntou se havia acontecido alguma coisa desagradável.
Elas responderam simultaneamente:
– Há muitos anos, moramos na casa do milionário Magozaemon, mas agora estamos de mudança para a casa do lavrador Jinbei, porque Magozaemon ficou pobre e perdeu a sua casa.
O moço, que já havia ouvido várias histórias sobre Zashiki Warashi (crianças que aparecem nos quartos à noite), lembrou que essas criaturas estranhas trazem prosperidades enquanto estão morando em determinada casa. Porém, quando elas resolvem abandoná-la, começa a decadência, podendo levar o recinto a falir, trazendo a pobreza.
Diante disso, o jovem lavrador ficou muito preocupado.
– Será que são Zashiki Warashi?
Realmente, algumas semanas depois, correram notícias de que os negócios do milionário Magozaemon iam de mal a pior e, tempos depois, a empresa do milionário acabou por falir.
Na aldeia vizinha, havia um lavrador de nome Jinbei, que havia sido pobre durante toda a vida, porém a situação começou a melhorar aos poucos.
Certa noite, Jinbei teve um sonho quase real, no qual duas meninas diziam para ele procurar um lírio com 33 flores e cavar até suas raízes, onde poderia encontrar uma coisa boa.
Na manhã seguinte, Jinbei encontrou o jovem lavrador e contou seu estranho sonho.
– Elas são Zashiki Warashi e estão morando em sua casa – disse o amigo, contando tudo o que ele havia ouvido tempos atrás, das meninas na rocha à beira do riacho.
Jinbei, entusiasmado, saiu à procura das flores de lírio. Como não era época de florada, andou por campos e montanhas, mas nada encontrou. Persistente, continuou mais meio ano procurando, até que começou a duvidar da existência de um pé de lírio com tantas flores.
Um dia, quando voltava cansado de andar pelas florestas e jardins em busca daquelas flores, sentou-se numa rocha na beira do riacho e começou a resfriar os pé cansados nas águas. Qual não foi sua surpresa ao avistar, na outra margem, um pé de lírio carregado de flores. Atravessou o riacho e contou quantas flores havia naquela planta. Exatas 33 flores foram contadas. Imediatamente, Jinbei cavou até a sua raiz e encontrou sete potes cheios de moedas de ouro!
Assim, Jinbei virou um milionário do dia para a noite. Parou de cuidar da roça e viveu fazendo farra com bebidas e mulheres. Um dia, porém, alguém viu duas crianças saírem de sua casa. Em pouco tempo, o dinheiro foi acabando e ele tornou-se mais pobre do que era.
Zashiki Warashi é assim. Aparece e desaparece sem motivo específico. Embora os casos aqui narrados sejam bastante antigos, hoje, existem lendas urbanas recentes no Japão que falam da presença desses seres em várias cidades.
– Boa noite!

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MensagemEnviada: Ter Abr 08, 2008 12:59 pm    Assunto: Responder com citação

Ôoka Tadasuke e o caso do cheiro roubado
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



Existem no Japão vários casos resolvidos pelo juiz Ôoka Tadasuke (1677-1751) que se tornaram legendários. Ôoka, natural de Edo (nome antigo de Tóquio), foi um juiz muito respeitado durante o governo dos Tokugawa (1603-1867). Indicado para trabalhar a serviço do xogum Tokugawa Yoshimune (1716-45), Ôoka logo ganhou a reputação de ser um dos oficiais mais competentes e incorruptíveis do governo. Como recompensa por sua sabedoria e grande capacidade como mediador, Yoshimune, nomeou-o também senhor de um pequeno feudo hereditário.

Depoimentos antigos dão conta de que o honorável juiz Ôoka Tadasuke nunca recusou ouvir qualquer queixa, por mais estranha ou absurda que se apresentasse. As pessoas às vezes vinham a sua corte com casos incomuns, mas Ôoka concordava em ouvi-las e fazer um julgamento justo. Entre os casos inusitados, está, por exemplo, o do “cheiro roubado”.Edo era a capital do Japão e centro dos acontecimentos mais importantes da época. A cidade era um formigueiro para onde todos convergiam em busca de oportunidades. Muitos jovens de pequenas cidades do interior dirigiam-se para a capital para aprender uma profissão que lhe garantisse sustento. Foi nessa época que um jovem aprendiz alugou um pequeno quarto sobre uma casa de tempurá. A loja vendia alimentos fritos que servia de mistura para o arroz nas refeições.

O aprendiz era um jovem muito esforçado e criativo, mas o dono da loja era um homem mesquinho e desconfiado. Não permitia que seus empregados beliscassem sequer uma pontinha das frituras e vivia desconfiado de que estava sendo lesado pelo seus auxiliares. Um dia, ele ouviu a conversa de dois aprendizes.

– É duro ser pobre. Mexemos com tanta comida e depois temos que engolir arroz puro, sem mistura – queixou-se um deles.
– É verdade – respondeu o outro –, mas eu encontrei uma maneira satisfatória de solucionar esse problema. Vou para o meu quarto almoçar e jantar nos horários em que a loja está fritando peixes e tempurá. O cheiro sobe e eu vou comendo meu arroz puro, com o cheiro da mistura. Assim, o arroz parece mais saboroso. Você sabe que o bom cheiro desperta o apetite e é responsável pelo bom gosto da comida.
O dono da loja ficou furioso ao ouvir a conversa. Sentiu-se lesado por alguém estar se aproveitando do cheiro de seus alimentos sem nada pagar.
– Eu exijo que você pague pelo cheiro que roubou!
– Um cheiro é um cheiro – respondeu o jovem aprendiz – qualquer pessoa pode cheirar o que quiser, pois o cheiro está no ar. Portanto, não vou lhe pagar nada.
Ofendido com a resposta, o dono da loja pegou o aprendiz pelo colarinho e o arrastou até a corte do juiz Ôoka Tadasuke.
Quem assistiu à cena achou-a absurda. Comentaram que um homem honrado e honorável como Ôoka jamais perderia tempo dando ouvidos a uma acusação de roubo de cheiro. Ledo engano, o juiz concordou em levar o caso a julgamento.
– Todos os cidadãos têm o direito de ser ouvidos por essa corte. Se esse homem sente que foi roubado e quer fazer uma queixa, como magistrado da cidade, devo ouvi-lo.
Assim, procedeu-se o julgamento. Todas as vezes em que o dono da loja dizia ao juiz que o aprendiz havia roubado o cheiro de sua comida, o povo presente ao ato caía na risada.
Pouco tempo depois, o juiz proferiu o seu veredicto:
– Nesse caso, obviamente o aprendiz é o culpado – disse com severidade na voz. Apropriar-se de algo sem que o proprietário saiba é roubo. Não posso considerar o cheiro diferente de qualquer outra propriedade. Portanto, esse caso é um ato de apropriação indevida.
O dono da loja ficou muito feliz; mas o aprendiz, horrorizado. O jovem era filho de um pobre lavrador do interior e, certamente, não tinha como pagar por três meses que ficou usufruindo do cheiro de tempurá da loja. Não tendo dinheiro para pagar, seria jogado na prisão até apodrecer.
– Quanto dinheiro você tem, meu jovem? – perguntou o juiz Ôoka.
– Somente cinco moedas de pequeno valor – respondeu o menino – e, se eu não pagar o aluguel do quarto com esse dinheiro, certamente serei jogado no olho da rua.
– Deixe-me ver o dinheiro.
O aprendiz tirou o dinheiro do bolso com uma mão e despejou-o na outra mão, para que o juiz pudesse vê-lo. Ouvindo o tilintar do dinheiro, o juiz perguntou ao dono da loja:
– Ouviu esse tilintar gostoso das moedas?
– Sim meritíssimo – respondeu o dono da loja, estalando os olhos para as moedas.
– Pois então considere-se pago pelo cheiro que lhe roubaram. Se, no futuro, tiver mais queixas a fazer, por favor, pode trazê-las a essa corte. Nosso desejo é que todos os crimes sejam punidos e todas as virtudes sejam recompensadas.
– Mas, meritíssimo, o ladrãozinho passou o dinheiro de uma mão para outra, mas nas minhas mãos nada chegou. Veja! – disse o dono da loja, mostrando suas mãos vazias ao juiz.
Ôoka olhou fixamente para o dono da loja e disse energicamente:
– Essa corte determina a punição de acordo com a gravidade do crime. Assim, decidi que o preço a ser pago pela apropriação e utilização do cheiro de alimento será o som característico do tilintar das moedas. Devo lembrar que o som das moedas quando estamos sem dinheiro é tão agradável quanto o cheiro da comida quando estamos com fome. Tenho dito!
Assim, a justiça foi feita, como de costume naquela corte.


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MensagemEnviada: Qua Abr 09, 2008 10:07 am    Assunto: Responder com citação

Zashiki Warashi
Texto e desenhos: Claudio Seto



Há muito tempo, havia uma grande hospedaria na pequena vila de Hachinohe (atual prefeitura de Aomori), localizada no norte do Japão. Naquela hospedaria, havia vários quartos e um, na parte dos fundos, especialmente bonito, junto ao jardim interno.

Certa ocasião, na hora do boi, um hóspede deitado, quase pegando no sono, viu a porta se abrir deslizando e um menino entrando no quarto. Aproximando-se do hóspede, a criança disse:

– Tio, vamos medir forças jogando braço-de-ferro?
O hóspede imaginou que o menino fosse filho do dono da hospedaria e havia vindo ao quarto para lhe dar as boas-vindas. Assim, brincaram algumas vezes jogando queda-de-braço. O incrível de tudo isso era que a criança tinha se mostrado muito forte, vencendo todas as partidas.
Na manhã seguinte, o homem comentou com o dono da hospedaria:
– Seu filho é muito forte, ontem à noite jogamos braço-de-ferro e eu não consegui ganhar nenhuma, por mais força que fizesse.
O hospedeiro olhou-o surpreso e disse:
– Mas, senhor, eu não tenho filho! De onde será que apareceu essa criança?!

Depois daquele dia, outros visitantes que também dormiram naquele quarto contaram que, à noite, uma criança aparecia pedindo para jogar braço-de-ferro. Interessante que nem o hospedeiro nem os empregados daquela casa haviam visto essa criança. Somente as pessoas que se hospedavam e dormiam naquele quarto podiam vê-la. Esse fato se espalhou pela redondeza, e todos passaram a comentar que naquela hospedaria morava um Zashiki Warashi.

(Zashiki em japonês significa quarto e Warashi, no dialeto da região de Aomori, significa “criança”, portanto Zashiki Warashi quer dizer “criança do quarto”. Muitas pessoas acreditam na existência dessas estranhas crianças que tanto podem ser do sexo masculino ou feminino, mas ninguém sabe definir se são fantasmas ou duendes. Existem muitos casos registrados no Japão e diversas situações em que as aparições desses seres se fizeram presentes. Nos dias atuais, existem várias casos ou lendas urbanas que falam da aparição desses seres nas grandes cidades).

A fama da hospedaria foi crescendo, e muitas pessoas que se julgavam fortes queriam pernoitar naquele quarto para jogar braço-de-ferro com o Zashiki Warashi. Outros que se julgavam corajosos queriam se hospedar simplesmente ver a criança. Assim, a hospedaria ficou muito disputada e os negócios foram de vento em popa, entrando muito dinheiro no cofre do hospedeiro, que se tornou um homem muito rico.

Com tanto dinheiro acumulado, o hospedeiro parou de trabalhar e deixou tudo por conta dos empregados. Assim, passou a levar uma vida folgada, com muitas festas e bebidas. Certo dia, quatro ou cinco anos depois, o dono da hospedaria estava sentado na varanda de seu estabelecimento e viu um menino andando no corredor.

– Quem é ele? – quis saber o hospedeiro.
E a criança saiu correndo para fora da hospedaria.
– Um menino que veio do quarto lá do fundo e foi embora – disse a mulher da limpeza.
Depois desse dia, a criança nunca mais apareceu para ninguém. Por isso, os hóspedes daquela casa foram diminuindo dia após dia e finalmente, alguns anos mais tarde, a hospedaria faliu.
Ninguém soube dizer porque a criança foi embora. Sabe-se apenas que, em outros lugares e situações, principalmente no norte do Japão, Zashiki Warashi tem aparecido, não só em hospedarias como em grandes hotéis e até em residências particulares. Há quem acredite que ele seja um deus que traz prosperidade e não faz mal a ninguém. O fato estranho e assustador é que, quando uma pessoa está sozinha na calada da noite, a porta do seu quarto se abre, e uma criança estranha lhe diz “boa noite”.

Se por acaso você está lendo essa lenda sozinho em seu quarto, preste atenção se não está ouvindo passos vindo na direção da porta.

– Boa noite!

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MensagemEnviada: Qui Abr 10, 2008 8:19 am    Assunto: Responder com citação

A Tartaruga e a Garça
(Kame-san to Tsuru-san)

Texto e desenhos: Claudio Seto



Antigamente, a tartaruga tinha o casco liso como casca de cabaça. Nessa época, Kame-san, o sr. Tartaruga, vivia num pequeno lago. Quando chegou o verão, a água foi baixando e baixando, devido à seca. Preocupado, o sr. Tartaruga ficava horas e horas olhando para o céu à procura de uma nuvem carregada de chuva. Mas o tempo foi passando e nada de chover.
Certo dia, o sr. Tartaruga viu Tsuru-san, o sr. Garça, nas margens da lagoa e aproximou-se dele.
– Tsuru-san, você, que vive voando nas alturas, será que não viu nenhuma nuvem chuvosa vindo para essa direção?
– Sabe, Kame-san, o céu está azul de ponta a ponta. Nenhuma nuvem à vista, nem chuvosa, nem branca.
– Tsuru-san, estou preocupado. Se a seca continuar, a lagoa vai secar, e eu não vou sobreviver por muito tempo. O que devo fazer?
– Olha, Kame-san, essa lagoa é pequena e tem pouca água. Se a seca continuar, ela será a primeira a secar até o fundo. Você deve se mudar para uma lagoa maior enquanto é tempo.
– Mas Tsuru-san, será que existe alguma lagoa grande nas proximidades?
– Bem... Se você atravessar aquela montanha, do outro lado encontrará uma grande lagoa, cinco ou dez vezes maior que esta. Lá, moram cerca de 20 tartarugas, que vivem nadando folgadamente, levando a vida que pediram a Deus. Aquilo sim é um bom lugar para você.
– Eu gostaria de mudar para lá. Mas tenho os pés curtos e levaria alguns anos para atravessar a montanha. Se fosse na estação da chuva, poderia agüentar bastante tempo; porém, em tempo seco como esse, creio que seja impossível eu agüentar até chegar do outro lado da montanha. Oh, como sou infeliz! Queria tanto ir para lá, mas não vejo como.
– Se você realmente quer ir até lá, podemos carregá-lo através da montanha.
– Realmente, Tsuru-san, isso é possível?! Eu imploro, leve-me até a grande lagoa!
O sr. Garça abriu as asas e começou a gritar: “kuwaa, kuwaa!”. Ele estava chamando outra garça. Não passou muito tempo, outra garça veio voando através da montanha e pousou no pequeno lago.
Tsuru-san então pegou no bico um galho seco e levou-o para a frente da tartaruga.
– Tudo bem, Kame-san, morda a parte do meio deste galho e segure-se firmemente. Eu e meu amigo vamos morder nas extremidades do galho e levantar vôo em direção à grande lagoa.
Assim, a tartaruga travou os maxilares em torno do galho, e as garças, batendo as asas, levantaram vôo no sentido da montanha.
No caminho, sobrevoaram uma aldeia de lavradores no pé da montanha. Algumas crianças da aldeia viram a tartaruga pendurada no galho e duas garças carregando-a. As crianças acharam engraçado e riram para valer. Apontando para tartaruga voadora, gritavam:
– Olha que tartaruga maluca, está tentando voar como as garças!
– Que tartaruga ridícula, pendurada pelo pescoço, até parece cabaça achatada.
Kame-san ficou irritado e gritou:
– Garotos mal-educados!
Porém, ao abrir a boca para gritar, o sr. Tartaruga desprendeu-se do galho e caiu em queda livre em direção ao solo. Espatifou-se no chão de costas. Se seu casco não fosse duro, teria morrido; porém, com o impacto, o casco ficou com várias rachaduras. Por isso, até hoje o casco da tartaruga é todo fragmentado.

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MensagemEnviada: Sex Abr 11, 2008 8:53 am    Assunto: Responder com citação

O Kozo e a Yamanbá (Parte 1)
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



Há muito, muito tempo, havia no Japão um templo aos pés de uma montanha. Nesse templo, moravam um monge e um kozo (menino aprendiz de monge). Certa ocasião, o monge disse ao seu auxiliar que fosse à floresta para apanhar flores, pois o dia seguinte seria o Shunbun no Hi (Dia do Equinócio da Primavera) e era preciso deixar o altar muito bonito, pois os fiéis viriam rezar. Muitas oferendas seriam trazidas por eles, principalmente ohagi, que é uma pelota de arroz branco coberta com pasta de feijão azuki, pois os espíritos dos antepassados das famílias japonesas juntam-se em volta das oferendas alimentícias.
– Sim, senhor – disse Kozo, enquanto se preparava para sair em busca das flores.
– Vou lhe dar três omamori (talismã protetor) especiais, pois existem na floresta monstros ferozes, como a Yamanbá (bruxa) e o Tengu (gênio da montanha). Se qualquer coisa perigosa acontecer, atire o talismã no chão e peça um encanto dizendo uma palavra que você deseja para o momento. Se você quiser um oceano, diga exatamente: “venha oceano” e haverá um oceano.
– Sim – disse o menino.
Pegando os talismãs encantados, ele saiu do templo. Na montanha, as flores da primavera surgiam por toda a parte. Eram flores grandes e vermelhas que chamavam muito a atenção. Kozo examinou-as seletivamente, procurando saber qual delas colher, pois todas eram lindas. Como estava difícil dizer qual era a mais bonita, tentou fazer uma escolha por tamanho. Procurou pela maior delas, mas que também fosse bonita. O menino finalmente chegou a uma moita de flores onde todas eram grandes, acima até de sua altura.
– Vou ficar com esta – pensou Kozo – Não, aquela é maior ainda! Oh! A outra lá atrás é maior e mais bonita! – assim, o menino foi se embrenhando na floresta, completamente embriagado pela beleza das flores. Quando se deu conta da situação, a noite já vinha chegando.
– Oh! Está escurecendo, preciso voltar correndo, senão não vou enxergar o caminho.
Kozo deu meia volta e começou a andar com pressa, mas logo percebeu que não havia passado por ali quando veio. Tentou ir para um lado e para outro, mas entendeu que já não conseguia saber o rumo do templo. Começou a ficar apavorado, caminhando sem direção e apressadamente. Nessa altura dos acontecimentos, o sol já havia desaparecido e a floresta era completa escuridão.
O menino pensou em gritar pedindo socorro, mas lembrou-se que seus gritos podiam atrair as feras e resolveu que andaria até encontrar algum lugar conhecido. Depois de caminhar um bocado, viu uma luz brilhar entre as árvores no alto da montanha.
– Que bom, deve ter alguém morando lá! – disse, aliviado, o menino e resolveu ir pedir ajuda. Foi em direção à luz até que pôde distinguir uma janela de cabana. Era de onde vinha a claridade. Kozo agradeceu ao Buda em pensamento e aproximou-se do casebre.
– Boa noite. Sou o Kozo. Perdi o caminho de volta ao templo e peço que me deixe passar a noite aqui.
Uma estranha voz se fez ouvir e a porta foi aberta. Era uma velha Yamanbá de aspecto horroroso quem atendeu a porta. Assim que viu o menino, a Yamanbá esfregou as mãos uma na outra e disse:
– Oh! Um belo menino entre, entre. Então está perdido nesta densa floresta? É um terrível problema.
Kozo sabia que estava encrencado, mas não havia nada a fazer, senão tentar ser agradável com a Yamanbá e não despertar sua fúria.
Dentro da casa, ele tomou uma sopa do caldeirão da Yamanbá e pensou:
– Vou dar no pé quando ela dormir.
Porém, na hora de dormir, a velha Yamanbá deitou-se ao lado de Kozo, aparentemente para vigiá-lo. Então, o garoto fingiu que estava dormindo, roncando bem alto durante alguns minutos. Depois, tentou ver os olhos da Yamanbá, que lhe pareceram fechados. Para certificar-se, disse baixinho:
– Yamanbá-san, Yamanbá-san...
– O que é? – perguntou a bruxa com voz repreensiva.
– Eu preciso ir a casinha. Acho que sua sopa de ervas foi muito forte para mim – disse Kozo, para justificar o fato de tê-la chamado.
Alegando que era para não se perder na escuridão, a Yamanbá amarrou uma corda na cintura de Kozo e indicou a direção da casinha, que ficava fora da casa, e ficou deitada segurando a outra extremidade da corda.
Chegando na casinha, imediatamente Kozo desatou o nó e amarrou a corda numa viga. Em seguida, curvou-se e suplicou com todo o fervor:
– Senhor deus da casinha! Senhor deus da casinha! Por favor, eu lhe peço, se a Yamanbá me chamar, diga apenas: “um minuto que já vou...” (bost! bost!) Eu imploro, por favor...
Assim, Kozo saiu de fininho, engatinhando apressadamente entre os arbustos.

Kozo e a Yamanbá (parte final)
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



Na primeira parte desta lenda, o kozo de um templo japonês aos pés de uma montanha foi enviado por seu mestre para colher flores na floresta para o Shunbun no Hi (Dia do Equinócio da Primavera). Entretanto, o menino se distraiu enquanto tentava cumprir sua missão e, perdido, quando a noite chegou, resolveu pedir abrigo em uma cabana. Para o seu azar, lá morava uma Yamanbá (bruxa). Agora, Kozo precisa fugir da velha para voltar ao templo. Tentando enganar a bruxa, o garoto pediu para usar o banheiro e aproveitou a deixa para fugir.
A Yamanbá pensou que o aprendiz de monge demorava em fazer suas necessidades, tanto quanto são demoradas as rezas budistas. Porém, como a demora já estava demais, gritou irritada:
– Kozo, que demora é essa? Volte logo, seu...
Nisso, uma voz apertada respondeu da casinha:
– Um minuto que já vou... (bost! bost!)
Como não havia outra alternativa senão esperar, resmungando, a Yamanbá deu um tempo. Passado esse tempo, o garoto ainda não havia retornado. Cada vez mais irritada, a Yamanbá gritou chamando Kozo três ou quatro vezes. Entretanto, cada vez que gritava ouvia a mesma resposta:
– Um minuto que já vou... (bost! bost!)
Como a demora estava exagerada, a Yamanbá deu um puxão na corda, dizendo:
– Não importa o que você está fazendo, volte já para cá.
O puxão foi com tal força que a velha e malfeita casinha desmoronou, fazendo um barulho escandaloso.
– Caramba, acho que, com o puxão da corda, derrubei o menino para dentro da fossa! – pensou a Yamanbá, levantando-se. Quando chegou com a lamparina na casinha desmoronada, viu que o menino lhe havia enganado.
– Aquele Kozo pestinha me passou a perna!
Imediatamente, saiu correndo atrás do menino. Kozo estava perdido e havia andado em círculos pela floresta. Com seu faro aguçado, a Yamanbá logo localizou o menino.
– Kozo! Kozo! Me espera, seu pestinha! – gritou a bruxa às costas do menino.
O aprendiz de monge ficou arrepiado de medo ao ver a Yamanbá se aproximando em incrível velocidade. Quando ela já estava para botar as mãos nele, o garoto tirou um dos talismãs que o monge havia lhe dado, atirou-o no chão e disse:
– Transforme-se num rio, um rio grande!
De repente, seu omamori (talismã) transformou-se num enorme rio, cheio de fortes correntezas, e a Yamanbá ficou do outro lado. Kozo, então, tratou de fugir correndo.
A Yamanbá, com um gesto mágico, arrancou um pêlo do nariz e deu um tremendo espirro que derrubou uma árvore. O tronco caiu transversalmente sobre o rio, improvisando uma ponte. Então, a velha recomeçou a perseguição. Kozo não teve tempo nem para descansar. Logo ouviu atrás de si a voz cadavérica da Yamanbá:
– Kozo, Kozo! Seu pestinha, espere!
O aprendiz de monge então atirou no chão o segundo omamori e gritou:
– Transforme-se numa montanha muita elevada!
Nesse momento, surgiu uma montanha alta, mas a Yamanbá, que sempre morou em montanhas, sabia que, para chegar ao outro lado, bastava contorná-la, ao invés de subir ao pico e descer. Então correu em direção contrária à que Kozo fugia.
Horas depois, quando Kozo pensou ter se livrado dela definitivamente, deu de cara com a bruxa que vinha correndo em sua direção:
– Kozo, Kozo! Seu pestinha! Agora te peguei.
O aprendiz de monge imediatamente lançou mão de seu último talismã protetor. Atirou-o na direção da Yamanbá, gritando:
– Transforme-se em fogo! Um mar de fogo!
Naquele instante, uma labareda surgiu, e as chamas logo subiram tão altas como as árvores. Uma cortina de fogo impedia a passagem da Yamanbá. Com gestos mágicos, ela apanhou um ramo de árvore. Em seguida, recitando palavras incompreensíveis, começou a atravessar o fogo agitando o ramo.
Kozo pensou em fugir, mas, de repente, com a claridade do fogo, descobriu que estava quase em frente do templo.
– Oh! É o nosso templo! – disse, aliviado, o Kozo.
O garoto correu para a porta, mas, como era noite, estava trancada. Então, bateu com toda a força, chamando o monge.
– Osho-san, Osho-san! Abra a porta depressa! Estou sendo perseguido por uma Yamanbá. Abra depressa! Depressa!
De dentro do templo, Kozo ouviu a voz do monge.
– Calma menino, já vou abrir, espere um pouco que preciso fazer xixi primeiro.
– Osho-san, o senhor não entendeu! A Yamanbá está chegando perto da porta, abra logo, porta favor!
– Não seja impaciente, esqueceu os ensinamentos de Buda?! Estou lavando a mão e logo vou abrir.
Finalmente a porta abriu e Kozo, que já estava branco de medo, entrou correndo e se escondeu no cesto das roupas sujas da lavanderia, pedindo que o monge lhe escondesse da Yamanbá. Então, o monge içou o cesto para cima do telhado do poço. Nisso, ouviu a voz da Yamanbá, que havia chegado ao templo.
– Osho! Osho! Onde foi parar o Kozo?
– Yamanbá-don, aqui não apareceu nenhum Kozo.
– Osho, como não está, se eu vi com meus próprios olhos quando ele entrou aqui?
– Deve ser engano, Yamanbá-don. Se duvida, pode procurar à vontade.
A Yamanbá percorreu todo o templo, mas nada encontrou. No quintal, com seu faro aguçado, sentiu cheiro de criança. Foi seguindo a direção indicada pelo faro e chegou ao poço. Olhou para dentro dele e viu algo refletido na superfície da água. Como era noite, ela não percebeu que via o seu próprio reflexo.
– Ah! Descobri, o pestinha está escondido dentro do poço!
Assim, ela saltou para dentro do poço para pegar o Kozo. Vendo aquilo, o monge tratou de tampar o poço colocando uma pesada rocha sobre a tampa.
Desde então, ninguém mais removeu a rocha, que ainda hoje está sobre o poço, no quintal de um templo na montanha do Japão.

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MensagemEnviada: Sáb Abr 12, 2008 8:57 am    Assunto: Responder com citação

A história de Shiro
(Lendas do Japão em Literatura de Cordel)

Texto e desenhos: Claudio Seto



Papai Noel você conhece
É o velhinho de Natal
Mas muita gente desconhece
Um velhinho quase igual

Ele viveu em outra era
No outro lado do mundo
É o Velhinho da Primavera
Que tinha sentimento profundo

Hanasaka Jiji era o seu nome
Literalmente o “Velhinho Floração”
É personagem de renome
De uma lenda do Japão

Os japoneses adoram esse velhinho
E por ele tem muito carinho
Pois quando existem dificuldades
Ele indica um florido caminho

Se sua vida é um galho seco
E seu pedido não tem eco
Peça ao velhinho o que quiser
Para uma graça receber

Esta história começa assim:
Há muitos e muitos anos
Vivia um casal de velhinhos
Muito além dos oceanos

Não tinha filho o casal
E para amenizar a solidão
Tratava Shiro como tal
Com carinho e devoção

Shiro não era gente, não,
Era um animal de estimação
Um cachorro de pêlo branco
Dócil, meigo e muito franco

É bom que seja lembrado
Porque assim era chamado
Era branco como suspiro
E branco em japonês é shiro

Certo dia quando o velhinho
Capinava devagarzinho
Shiro cavava sem parar
Latindo no mesmo lugar

Como era tanta a barulheira
Num esforço sem brincadeira
Para o osso desenterrar
O bom velhinho foi ajudar

Cavando o local indicado
Para o osso encontrar
O velho ficou assustado
Com o que acabara de achar

Eram muitas moedas
Todas elas de ouro!
Uma vez desenterradas
Um verdadeiro tesouro!

O velhinho encheu a cesta
Com o reluzente achado
Comemorou dando uma festa
Ao cachorro venerado

Com avanço da idade
E o empenho esforçado
A labuta diária na roça
Tornou-se um fardo pesado

Por isso aquele rico achado
Encontrado no local indicado
Foi uma dádiva divina
Que veio de uma ação canina

Foi assim que de repente
O casal que era tão pobre
Mudou completamente
E até parecia nobre

Acontece que na casa vizinha
Morava um velho ranzinza
Que tinha um coração maldoso
E a fama de ganancioso

Sem perguntar se era bem-vindo
Dirigindo-se a casa do lado
O ganancioso foi logo pedindo
O cachorro Shiro emprestado

Não sabendo dizer não
O bom velhinho à contra-gosto
Deixou o vizinho levar o cão
Para o terreno oposto


Sempre sendo maltratado
Por uma corda foi puxado
Pelo pescoço amarrado
Shiro foi levado arrastado

Na roça do velho malvado
Ainda que solicitado
Shiro permaneceu calado
Deixando o homem irritado

Seu cachorro teimoso
mostre-me onde tem ouro.
Dizia o velho asqueroso
Bufando como um touro


Arrastado por toda horta
Puxando sempre na marra
Em seu lombo chicotadas
O cachorro sentiu a barra.

Numa tremenda agonia
Shiro se esperneava e debatia
A beira de uma taquicardia
Brecando com as patas, resistia.

Mesmo assim o velho maldoso
Num gesto covarde e vergonhoso
Arrastou o cachorro feito escravo
Ferindo seu corpo com agravo

Não suportando o sofrimento
E para expor o seu tormento
Shiro, bravo como nunca se viu
Mostrou os dentes e latiu

Porém, cego pela ganância,
O latido soou com relevância
O cérebro do velho malvado
Pensou ser o local indicado

O invejoso com uma pá na mão
E olhos estalados de ambição.
Cavou feito um doidão
Fazendo logo um buracão

Delirando e suando sem parar
Depois de muito cavar
Ouro que queria não achou
Mas muitas pedras encontrou

Quando já estava desistindo
Viu algo na terra à cintilar
Cavou com as mãos insistindo
Indagando: – Seria ouro a brilhar?

Nisso, a seus pés a terra cedeu
E tudo em sua volta fedeu
O malvado se viu atolando
Num poço de fezes afundando

O desastrado havia encontrado
Uma velha fossa enterrada
E banhado na podre sujeira
Sentiu na pele a fétida meleira

Quando o velho do saiu do buraco
Com expressão de maldito carrasco
Tendo uma pá assassina na mão
Golpeou Shiro sem perdão

No crânio em cheio a pá atingiu
O violento impacto os ossos esmagou
Enquanto o malvado de lá fugiu
Shiro sem vida estendido ficou

O bom velho ao ser notificado
Do ocorrido sentiu-se culpado
Pois um animal muito estimado
Sem recusar ele havia emprestado

Recolhendo o corpo na cesta
Ao cachorro pediu perdão
Pois filho não se empresta
Nem mesmo por milhão

Ao ver o cadáver descer à cova
A velhinha acendeu um incenso
Ao sopro do vento magoada trova
Sentindo na alma vazio imenso

Regado a lágrimas o velho plantou
Semente de pinheiro na sepultura
E o casal chorava diariamente
Lagrimejando na árvore futura

Junto a sepultura do amigo fiel
Chorar todo dia virou ritual
Lágrimas tantas a terra umedeceu
E um fenômeno inesperado aconteceu



A olhos vistos a árvore cresceu
Em pouco tempo se tornou gigante
Tendo o tronco grosso como apogeu
E uma abela copa verde radiante

Numa bela tardezinha,
Consultando seu coração,
Disse o velho à velhinha
Com muita inspiração:

– O bom espírito de Shiro
Nessa árvore reencarnou
Reside hoje com muita paz
Pois um tronco se tornou

A velhinha então lembrou
Que Shiro gostava de moti
E comia com muita satisfação
A massa de arroz socada no pilão

Disse então o velho: – Bem lembrado
Vamos fazer desse tronco um pilão
Assim o espírito dele fica vinculado
Ao o que mais comia com devoção

Cortado o tronco foi feito um pilão
E um malho para arroz socar
Puseram o arroz glutinoso à cozinhar
Resolveram testar com grande emoção

Arroz cozido, começaram a socar
E houve um milagre no martelar
Da massa, saltaram moedas de ouro
E encheu a casa de tesouro

O casal vizinho, que a tudo assistiu,
Espiando da cerca como sempre fez
Veio pedir o pilão emprestado
Dizendo que agora era sua vez

Sem coragem para dizer não
Mais uma vez o bom velhinho
Atendeu ao incômodo pedido
Emprestando o pilão ao vizinho

O casal invejoso pôs o arroz a pilar
Cheio de ganância, queria faturar
E, para as moedas encontrar,
Foi socando sem parar

Porém, o milagre não acontecia
A massa ficou escura sem explicação
Quanto mais batia, mais fedia
E tornou-se uma imensa podridão

Do pilão saia uma tremenda meleca
Como num pesadelo de deixar careca
Com imundícies jorrando em cachoeira
A casa foi tomada de sujeira

Danado da vida, o velho malvado
Rachou o pilão com o machado
E queimou os pedaços de madeira
Fazendo dela uma bela fogueira

Ao saber do ocorrido,
As cinzas o bom velho foi buscar
Ia levá-las para ao santuário
Para o fiel amigo rezar

Era uma triste manhã de inverno
Carregando as cinzas do pilão
O velhinho caminhava fraterno
Cabisbaixo pela seca vegetação

De repente, uma brisa invernal
Carregou a camada superficial
Das cinzas que estavam na cesta
Espalhando feito festa

Em galhos secos as cinzas pousaram
E os pozinhos em botões se transformaram
Em seguida, desabrocharam todas faceiras
Em lindas flores de cerejeiras

O inverno virou primavera
Quebrando as regras da estação
E a aldeia ficou encantada
Graças ao Velhinho Floração

Nesse dia, passou pela aldeia o governador
Ao saber do milagre, chamou o benfeitor
– Mostre-me sua magia, meu bom ancião
Dizem que com a natureza tu tens comunhão

Com o pedido honrado ficou
E na árvore com o cesto o velho subiu
As cinzas pelos galhos espalhou
E o milagre das flores se repetiu

A árvore seca encheu-se de flores
Cerejeira, símbolo dos samurais,
O governador ficou admirado
Mais que isso, emocionado.

– Apreciar flores de cerejeiras
Fora da primavera, a sua estação,
É um privilégio sem fronteiras
Velhinho, aceite minha gratidão

Como recompensa pelo espetáculo,
Ricos quimonos e moedas de ouro
Recebeu o velhinho oráculo
Aumentando mais o seu tesouro

Novamente o vizinho invejoso,
Que poderoso queria ser,
Pegou o resto das cinzas no forno
E esperou pelo governador no retorno

– Velhinho da Primavera eu sou
Em galhos secos faço dar flor
Assim o ganancioso saiu gritando
Quando o governador veio chegando

Em seu belo cavalo montado
O nobre que amava as cerejeiras
Sem conhecer o velho abusado
Acreditou em suas baboseiras

– Que aldeia fantástica! – disse o senhor
Muitos aqui conhecem a magia da flor!
E, para agradar a visão do governador,
O mesquinho jogou cinzas a todo vapor

Porém, nada aconteceu
Por mais que o velho tentasse
Nenhum galho floresceu
E criou-se um grande impasse

– Homem, que está esperando?
Quero ver as flores de cerejeiras.
Disse o governador esbravejando
Com o velho que tentava de mil maneiras

Desesperado, o rufião
Jogou cinzas de montão
Mas, levado pelo vento,
Provocou um grande tormento

As cinzas foram parar
Nos olhos do governador
E de toda comitiva,
Provocando grande dor

Até o cavalo do nobre
Um banho de cinzas levou
Levantando as patas no ar
Quase o governador derrubou

– Em toda minha vida
Nunca vi tamanha afronta
Que prendam esse impostor
O atrevimento passou da conta

Conta a lenda que o velho insolente,
Com medo de perder a cabeça,
Começou a raciocinar como gente
E de joelhos fez promessa

Ao governador pediu perdão
Jurando nunca mais bancar o vilão
Prometeu não cobiçar coisas alheias
E ajudar todos da aldeia

A história de Shiro ao governador contou
Com lágrimas nos olhos a chorar
Dizendo que o cachorro castigou
E que pela alma do animal ia orar

Depois de repreendê-lo duramente
O nobre libertou o velhinho
Para cultuar certamente
O arrependimento no caminho

Diz uma crença japonesa
Endossado com muita certeza:
“O castigo dos mortos é mais abrasivo
que os castigo dos vivos”

Esta é a história do cachorro Shiro
Que, mesmo depois de morto,
Não esqueceu a dívida de gratidão
Com o Velhinho Floração


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MensagemEnviada: Sáb Abr 12, 2008 4:03 pm    Assunto: Responder com citação

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MensagemEnviada: Dom Abr 13, 2008 1:35 pm    Assunto: Responder com citação

Caro Fabiano,

Para mim cada lenda postada é um momento de reflexão e de satisfação.

Fico feliz por ter gostado!
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MensagemEnviada: Dom Abr 13, 2008 1:39 pm    Assunto: Responder com citação

A bela mulher do desenho
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



Há muitos e muitos anos, existiu um jovem lavrador chamado Heiroku, que tinha a fama de ser muito trabalhador. O moço já estava na idade de contrair matrimônio, porém, como era pobre, pretendia juntar algum dinheiro antes de desposar sua prometida noiva. Na verdade, ele nunca a tinha visto, pois, ainda quando criança, seus pais haviam firmado compromisso matrimonial com a filha de um amigo da família que morava na província vizinha.
Heiroku perdeu seu pai quando ainda era adolescente. Cuidou de sua velha mãe durante muito tempo, até que ela veio a falecer. Heiroku ficou então morando sozinho, e sua vida era um tanto monótona; de casa para a lavoura de arroz e do trabalho para casa.
Um vizinho então lembrou que ele tinha uma noiva prometida e resolveu procurá-la para realizar o casamento. Heiroku pediu ao vizinho que não fosse à procura da família dela, pois o acordo foi feito com seus pais há muito tempo, e eles já haviam falecido. Outro motivo era a falta de dinheiro; assim que conseguisse juntar algum, ele mesmo iria à procura de uma noiva.
O vizinho concordou com Heiroku, porém, vendo seu esforço no arrozal e sua solidão, resolveu procurar a moça para ajudar o bom rapaz.
Dias depois, o vizinho retornou com a noiva prometida e foi realizado o casamento numa cerimônia simples, com poucos convidados. A noiva era linda e foi considerada a mulher mais bonita da província. Heiroku ficou completamente apaixonado pela esposa, pois, além de bonita, ela era muito carinhosa. Ele não cansava de admirá-la e não conseguia sair de perto dela. Assim, na lavoura de arroz o mato foi crescendo, pois o lavrador não conseguia fazer outra coisa senão ficar admirando sua bela esposa.
A esposa, por sua vez, começou a ficar preocupada, pois, se o marido continuasse sem trabalhar, logo não teriam o que comer. Então, ela, que além de linda tinha dotes artísticos, desenhou seu auto-retrato num papel e entregou-o a Heiroku.
O rapaz ficou maravilhado com o retrato da esposa e concordou que poderia voltar à roça levando aquele desenho. Quando quisesse vê-la, bastava dar uma olhada no desenho para matar a saudade. Dito e feito. A cada cinco enxadadas, ele sacava o desenho do bolso e ficava apreciando. E, cada vez que olhava o desenho, ficava com a cabeça nas nuvens, imaginando os mais belos sonhos de amor.
Não demorou muito e, enquanto estava absorto em seu sonho, um vento traiçoeiro arrancou o desenho de suas mãos e o elevou às alturas. Vendo o desenho voar alto e distante, o lavrador correu desesperado, tentando perseguir o vento. Apesar do esforço, não conseguiu alcançá-lo, o retrato de sua esposa voou em direção à cidade e pousou dentro dos muros altos do castelo do governador da província.
O governador era um homem vaidoso. Considerava-se o homem mais bonito da região. Por isso, mandou um artista da capital pintar um retrato seu e vivia se auto-admirando. Foi em um desses momentos de auto-idolatria que um papel trazido pelo vento adentrou no salão nobre.
Ao olhar o desenho no papel, o governador ficou surpreso com a beleza da mulher ali retratada.
– Nossa, que mulher linda! Se ela existe, merece casar-se comigo. Seremos o casal mais bonito do Japão.
Assim, o senhor do castelo reuniu seus guerreiros e ordenou que vasculhassem toda a região à procura daquela mulher. Vestidos com elmos de batalha, os bravos samurais cavalgaram em todas as direções para cumprir a missão que o poderoso governador lhes atribuíra.
Os guerreiros entravam em aldeias e vasculhavam casa por casa à procura da bela mulher. Houve muitas choradeiras e confusão até chegarem à casa de Heiroku. Logo que os guerreiros entraram na casa do lavrador, depararam-se com uma linda mulher. Não havia dúvidas, não podia haver duas iguais. Aquela era a mulher do desenho. Tão linda quanto a retratada.
– Vamos levá-la ao castelo. O governador vai ficar muito feliz, pois ela é linda demais!
– Esperem, ela é minha mulher, vocês não podem levá-la para o castelo! – gritou Heiroku, desesperadamente.
– Cale-se, insolente! Como se atreve a levantar a voz a um nobre samurai?! – dizendo isso, o guerreiro deu um safanão em Heiroku, que voou de cara no chão.
Mesmo apanhando, Heiroku tentava teimosamente impedir que os guerreiros levassem sua esposa, gritando sem parar. Então, foi imobilizado e submetido a um rigoroso shibari (arte de amarrar prisioneiros). Mesmo amarrado, ele continuou gritando:
– Senhores samurais, podem levar pepinos, beringelas, nabos e tudo que existe na minha horta, mas, pelo amor de Deus, deixem minha mulher!
Cada vez que abria a boca, Heiroku levava um safanão dos guerreiros. Amarrado, sangrando na boca e com os olhos roxos, o moço estava em estado lamentável. Sua esposa, chorando, entregou-lhe um saquinho de pano e disse:
– Aqui, existem sementes de pêssego. Por favor, plante-as. Quando houver frutos, vá vendê-los no castelo. Nunca se esqueça disso.
Heiroku chorou de ódio quando viu sua mulher sendo levada para o castelo enjaulada pelos samurais.



Heiroku ficou arrasado quando os samurais levaram sua amada esposa.
Sozinho, sem seu grande amor, a vida perdeu todo o sentido para Heiroku. Ele ia diariamente à roça, mas ficava mais lamentando que trabalhando. Plantou as sementes de pêssegos, como pediu sua mulher. O pedido foram as últimas palavras que ouvira dela.
Três anos se passaram, e os pessegueiros começaram a dar frutos. Heiroku encheu a cesta de pêssegos e levou-os para vender na cidade, que ficava ao redor do castelo.
– Olhem os pêssegos, comprem os pêssegos que nasceram das sementes do amor.
Naquela mesma hora, no salão nobre do castelo, estava havendo um concerto musical. Uma dama da corte dedilhava com maestria as cordas de um koto (harpa japonesa). Apesar de a música ser encantadora, o governador estava chateado, porque a bela mulher que ele mandou trazer à força, não havia dado um sorriso sequer nestes três anos de permanência.
A voz de Heiroku sobrevoou os muros do castelo e chegou ao salão nobre. Ao ouvir a voz do vendedor de pêssegos, a bela mulher sorriu. Notando o sorriso dela, o governador exclamou:
– Milagre! Ela sorriu! Sorriu pela primeira vez! Sorrindo, ela é mais bela ainda!
Imediatamente, o governador ordenou que trouxessem o vendedor de pêssegos para dentro do castelo.
– Jovem, acho que você conseguiu fazer um milagre. Quero que repita o que estava gritando para confirmar o milagre.
Heiroku ficou emocionado ao ver a sua amada, porém teve que controlar seu impulso para não se trair. Fingindo que não conhecia a esposa, ele gritou:
– Olhem os pêssegos, comprem os pêssegos que nasceram das sementes do amor.
A bela mulher sorriu alegremente, seu semblante irradiava felicidade. O governador ficou muito impressionado, queria que ela sorrisse para ele e ordenou ao vendedor de pêssegos:
– Vamos trocar de roupa, quero a cesta também.
Heiroku tirou sua pobre e surrada roupa e deu-a para o governador. Este vestiu-a imediatamente e, apanhando a cesta de pêssegos, começou a andar gritando:
– Olhem os pêssegos, comprem os pêssegos que nasceram das sementes do amor.
Entusiasmado porque a bela mulher sorria sem parar, o governador saiu andando a gritar satisfeito. Em seguida, resolveu dar uma volta na cidade. Atravessou o portão do castelo, e o guarda não percebeu de quem se tratava. Assim, ganhou as ruas gritando e divertindo-se com a situação em que se metera.
Depois de andar algumas horas, resolveu voltar ao seu castelo. Como a entrada estava fechada, gritou ao guarda que abrisse o portão.
– Porteiro, abra imediatamente esse portão, estou de volta.
O porteiro, vendo por cima do muro aquele pobre e maltrapilho vendedor de pêssegos querendo lhe dar ordens, ficou furioso.
– Que atrevimento é esse?! Um vendedor de pêssegos querendo dar ordens a um samurai? Suma daqui, senão lhe corto o pescoço.
– Eu sou o governador, seu idiota. Será que além de burro você é cego?
– Saiba que o governador está finalmente de amores com sua bela esposa. Em frente da sua alcova existe, neste momento, uma placa dizendo que não quer ser perturbado por um bom tempo. Mas vou lhe ensinar a nunca mais chamar um samurai de idiota, burro e cego.
Assim dizendo, o guarda do portão saiu e deu uma grande surra no “vendedor de pêssegos”. Em seguida, entre tapas, socos e pontapés, ele ordenou que o maltrapilho nunca mais voltasse, senão perderia a vida no fio de sua espada.
Heiroku, ao vestir os ricos trajes de seda pura do governador, ficou realmente parecido com o senhor do castelo. O tempo foi passando e ele assumiu o lugar do governador.
Por sua vez, o governador, vestido como um maltrapilho, não conseguia convencer ninguém de quem realmente era. Então, sem poder voltar ao castelo, passou a viver de lembranças, olhando para um velho papel, onde havia um desenho de uma bela mulher.

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MensagemEnviada: Seg Abr 14, 2008 10:31 am    Assunto: Responder com citação

O rei das trutas iwana
(Texto e desenho: Claudio Seto)



Numa das montanhas de Aizu, existe um pequeno rio de águas transparentes onde ainda hoje podemos apreciar trutas iwana nadando rapidamente, entre pedras e corredeiras características de rios montanhosos. Há muitos e muitos anos, vários lenhadores viviam na região. Certo dia de verão, quatro lenhadores cortavam árvores perto do riacho e resolveram descansar em suas margens, esfriando os pés nas águas geladas. Vendo que havia várias trutas iwana subindo o rio, os lenhadores resolveram apanhar algumas com as mãos. Os quatro homens entraram no riacho e começaram a cercar alguns peixes que procuravam se esconder entre as pedras.
Cercados por todos os lados, os peixes pareciam sem saída, mas, quando os lenhadores levavam as mãos para segurar as trutas, elas escapavam com incrível rapidez, nadando para a liberdade. Depois de várias tentativas infrutíferas, um dos pescadores comentou:
– Esses peixes são saborosos na mesa, mas rápidos demais para serem pescados à mão.
– Sei como pegá-los – disse o outro lenhador – se jogarmos veneno no rio, podemos apanhar um monte de uma vez. Vendendo esses peixes no povoado, ganharemos mais dinheiro do que ficando aqui, cortando toras nesse sol quentíssimo.
Todos acharam boa a idéia do companheiro e resolveram colocá-la em prática. Imediatamente, embrenharam-se na mata e voltaram com folhas de ervas peçonhentas. Fizeram uma fogueira e puseram todas as folhas num grande caldeirão. Logo, começaram a preparar um poderoso veneno.
Algumas horas depois, quando já estava escurecendo, apareceu por ali um monge. Chegando próximo da panela, sentiu um cheiro forte e perguntou:
– Estão preparando veneno? Pretendem jogar esse líquido no rio?
Os lenhadores concordaram, fazendo movimentos positivos com as cabeças. O monge ficou visivelmente alterado e disse, em tom enérgico:
– Vocês não podem fazer uma coisa dessas. Se querem pegar peixe, pesquem do modo normal. Envenenar o rio vai matar todos os seres viventes que nele habitam. Mesmo os peixinhos ainda pequenos serão exterminados e vai demorar muito tempo para que as águas voltem a ter peixes. Será um ato de crueldade e de absoluta ignorância. Parem imediatamente com isso!
O lusco-fusco da fogueira que iluminava o rosto do monge dava um ar místico e ao mesmo tempo tenebroso ao ambiente. Os lenhadores sentiram uma espécie de medo vendo que os olhos do monge brilhavam no escuro, enquanto ele falava sem parar. De repente, um dos lenhadores ofereceu bolinhos para amenizar a ira do religioso.
– Oh, sim, claro que aceito! Gosto de bolinhos.
O monge puxou a tigela de bolinhos para perto de si e começou a comê-los de um modo estranho. Jogava um por um os bolinhos para cima e engolia-os sem mastigar. Os lenhadores ficaram olhando boquiabertos aquele modo nada convencional de comer bolinhos. Aquela cena causou desconforto a todos que a assistiam, e o lenhador que tinha certa liderança sobre os demais disse:
– O senhor tem razão, não vamos mais despejar esse veneno no rio.
– Ótimo! Fico aliviado em saber que criaram juízo. Então, já posso continuar minha caminhada rio acima.
Assim, o monge saiu andando às margens do rio em direção ao topo da montanha. Quando ele desapareceu, o lenhador que havia dito que não usariam mais o veneno reconsiderou o que havia dito.
– O veneno vai estar no ponto amanhã cedo. Tratem de dormir, pois vamos despejar todo o caldeirão assim que o sol nascer.
Mal o sol surgiu entre as árvores, os lenhadores carregaram o enorme caldeirão para a margem do rio. Logo em seguida, despejaram todo o líquido esverdeado na água cristalina.
Pouco tempo depois, vários peixes começaram a boiar, tentando respirar na superfície. Os lenhadores entraram no rio eufóricos e começaram a dar pauladas nos peixes atordoados. Sem vida, os peixes eram colocados num cesto de bambu que, em pouco tempo, ficou cheio.
Os lenhadores ganharam muito dinheiro e estavam satisfeitos com o que haviam conseguido. Porém, do local onde derramaram o veneno para baixo, já não existia um só tipo de ser vivente. Então, levados pela ganância, subiram rio acima e despejaram mais veneno. A operação foi repetida algumas vezes, até que um dia chegaram no alto da montanha. Havia uma clareira com uma bela cachoeira. No pé da cachoeira, águas profundas formavam uma grande bacia natural.
Habitantes da aldeia ao sopé da montanha costumavam dizer que aquela bacia era o santuário do rei das trutas iwana. Ali, ele morava e por isso ninguém ousava pescar junto à cachoeira. Porém, os lenhadores estavam cegos de ambição para enxergar a sabedoria popular. Assim, despejaram sem pestanejar todo o veneno na água.
Em pouco tempo, muitos peixes começaram a boiar e os lenhadores foram apanhando um por um, como loucos desvairados. De repente, a água ficou escura e vários corvos pousaram nos galhos secos próximos da cachoeira. Os lenhadores ficaram assustados, sem entender o que estava acontecendo. Foi então que uma truta de tamanho inacreditável começou a boiar sem vida.
– Nossa! Então não era lenda, o rei das trutas iwana existia mesmo! – disse um lenhador, não acreditando no que via.
– Pegamos o rei dos peixes! É tão grande quanto uma baleia! – festejou outro lenhador, pulando de alegria.
Enquanto arrastavam o enorme peixe para as margens, o líder dos lenhadores comentou:
– Se vendermos esse enorme peixe, vamos ficar ricos. Se fôssemos na conversa daquele monge, jamais teríamos conseguido essa façanha.
Mas havia um problema. O rei das trutas iwana era tão grande, tão grande, que era impossível carregá-lo montanha abaixo. Os lenhadores então resolveram cortá-lo em pedaços para poder transportá-lo. Quando cortaram a barriga do peixe, encontraram vários bolinhos redondos. Os mesmos que o monge havia comido dias antes.
– Aquele monge era o rei das trutas iwana! – observou, tremendo de medo, o líder dos lenhadores. Em seguida, abriu a boca como os peixes sufocados pelo veneno e entrou em convulsão. Seu corpo tremia, tremia, até que caiu sem vida.
Os outros lenhadores ficaram apavorados e saíram correndo. Desceram montanha abaixo em disparada, largando tudo o que haviam “pescado”.
Na aldeia, o povo já sabia que alguém estava envenenando o rio, pois muitos peixes mortos foram levados pela correnteza até próximo de suas casas. Quando os três lenhadores desceram morro abaixo, foram recebidos a pedradas e expulsos do povoado.
Tempos depois, as águas do rio voltaram a ser límpidas e cristalinas. As trutas iwana voltaram a percorrer as corredeiras com alegria. A vida voltou ao rio da montanha. A natureza sempre se renova.

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MensagemEnviada: Ter Abr 15, 2008 8:50 am    Assunto: Responder com citação

O gato assombrado de Nabeshima
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



As folhas de momiji (acer), que da cor verde passaram para o amarelo e depois para o laranja, agora ganhavam uma cor vermelho vivo. Não só as árvores como o chão, forrado de folhas caídas, davam a impressão de que todo o jardim do castelo de Nabeshima havia pegado fogo. Era final de outono no Japão.
O príncipe de Hizen, um membro da família honrada de Nabeshima, tinha como sua concubina favorita uma mulher charmosa, cujo nome era Otoyo. Certa ocasião, os amantes passeavam no jardim do castelo e permaneceram apreciando as flores até o pôr-do-sol. No retorno, sem que eles percebessem, foram seguidos por um enorme gato negro.
Otoyo dirigiu-se para o seu quarto e sentiu uma inesperada indisposição. Tentou manter-se acordada, mas logo dormiu. À meia-noite, foi despertada por uma estranha sensação e viu dois olhos enormes que a fixavam brilhando na escuridão. Prestando bastante atenção, percebeu que se tratava de um enorme gato negro. Porém, antes que ela pudesse gritar pedindo ajuda, o animal saltou em sua garganta e mordeu-a profundamente, estraçalhando seu pescoço até a morte. O gato, então, foi lambendo o sangue da moça e adquirindo forma humana, ficando igual a sua vítima. Então, arrastou Otoyo para baixo do assoalho e enterrou o corpo sob a varanda.
O príncipe, que de nada sabia, não desconfiou nem um pouco da bela mulher que naquela noite o procurou para fazer amor. Assim, nos dias seguintes, como um ritual, ela o procurava no meio da noite e ia sugando seu sangue sem que a vítima percebesse. Em poucos dias, o príncipe de Hizen perdeu toda a força e seu rosto estava mais pálido que uma vela. Permanecia o dia todo deitado, pois já não tinha força para se levantar.
Os médicos do palácio prescreveram vários medicamentos, mas nenhum fez o efeito desejado. Suspeitaram então que alguém estava envenenando o príncipe.
Vários samurais montaram guarda ao redor de seu quarto. Porém, quando chegou o meio da noite, todos pegaram no sono e só acordaram na manhã seguinte. Nas noites que se seguiram, as mesmas coisas aconteceram. Nenhum soldado conseguia ficar acordado.
Os conselheiros concluíram que alguma força estranha, de poder sobrenatural, estava agindo naquela alcova. Chamaram monges budistas e sacerdotes xintoístas para fazer exorcismo no quarto, já que a saúde do príncipe ia piorando dia a dia. Foram semanas de orações e rituais diversos, mas de nada adiantou, a saúde do príncipe de Hizen ia de mal a pior.
Naquela ocasião, um samurai de nome Ito Soda, que serviu na infantaria de Nabeshima, atravessou o jardim de inverno e invadiu as proximidades do quarto do príncipe. Ele solicitou aos conselheiros que permitissem a ele permanecer escondido no quarto do enfermo, para desvendar como agia o espírito maligno que estava prejudicando seu senhor.
Seu pedido foi prontamente aceito, já que todas as tentativas tinham se mostrado infrutíferas. Ito ficou firme em seu posto, no entanto, como aconteceu com os guardas que o antecederam, a partir das dez horas, começou a sentir um sono irresistível. Para espantar seu sono, espetou sua faca profundamente em sua coxa, de modo que a dor aguda o mantivesse acordado.
De repente, as portas deslizantes do quarto do príncipe abriram-se, e uma linda mulher entrou e dirigiu-se ao leito. Ela agachou na cabeceira do príncipe e esticou o pescoço como quem vai beijar o adormecido. Porém, a mulher, pressentindo a presença de mais alguém no quarto, virou a cabeça e, com olhos brilhantes, disse:
– Tem alguém aí?
Ito permaneceu escondido e em silêncio, espiando pela fresta da porta do quarto ao lado. Percebendo que alguém a observava, ela levantou e saiu do quarto às pressas.
Na noite seguinte, a cena se repetiu. Assim, por não ter sido subjugado por duas noites seguidas enquanto dormia, a saúde do príncipe melhorou consideravelmente. Para Ito Soda, ficou claro que Otoyo era alguma entidade maligna tentando acabar com a vida do príncipe de Hizen. Diante disso, traçou um plano para acabar com ela.
Fingindo ser um mensageiro do príncipe, foi até o quarto dela, para entregar um bilhete que sua alteza lhe enviara. Ao aproximar-se da falsa Otoyo para entregar o suposto bilhete, Ito sacou da espada e desferiu um golpe na direção dela. Porém, com percepção felina, ela esquivou-se da lâmina pulando para trás. Na seqüência, assumiu a forma de um gato preto e saltou pela janela. Ganhou o telhado do castelo e, segundos depois, fugia em direção à montanha.
Esse gato que gostava de lamber sangue humano passou a incomodar os habitantes da montanha. Tempos depois, o príncipe de Hizen, completamente recuperado, organizou uma caçada ao gato maldito de Nabeshima. Um exército com milhares de samurais vasculhou a montanha. Somente no oitavo dia, finalmente, o gato maldito foi liquidado e a paz voltou à região.


Comentário:
Os primeiros gatos foram introduzidos no Japão por Fujiwara-no-Sanesuke, um nobre da corte do imperador Ichijo (987–1011). Trazidos da China, esses animais de estimação eram vistos com reserva pelos japoneses. Além de não serem obedientes como os cachorros, eram considerados destrutivos por natureza, por rasgarem tatami de palhas (tablado que servia de assoalho) e fazerem furos no shoji (parede de papel) para apanhar insetos que vinham as casas atraídos pelas lamparinas. Na época, a iluminação das casas era à base de lamparina a óleo, e os gatos gostavam de lamber esse óleo combustível, muitas vezes causando incêndio.
Assim como a raposa, o texugo e a serpente, o gato era considerado um animal assombrado no antigo Japão.


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MensagemEnviada: Qua Abr 16, 2008 9:39 am    Assunto: Responder com citação

Tanokyu e a serpente gigante
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



Há muitos e muitos anos, havia, na capital do Japão, um ator de teatro chamado Tanokyu. Certa ocasião, foi procurado por um vendedor viajante, que trouxe a notícia de que sua mãe estava com grave doença. Tanokyu teve então que largar tudo e voltar para casa, que ficava numa aldeia distante. Caminhou por vários dias até chegar numa casa de chá no sopé de uma montanha. Nesse momento, como já começava a anoitecer, o velho proprietário da casa deu um conselho ao jovem ator.
– Não cruze a montanha à noite, pois existe uma enorme serpente encantada que vive devorando as pessoas que por lá passam.
Embora ciente do perigo, Tanokyu, resolveu cruzar a montanha, pois estava muito preocupado com a saúde de sua mãe. No íntimo, ele sempre se culpava por ter deixado sua mãe sozinha e ter ido para a capital atrás de seu sonho de artista. Agora, estava preocupadíssimo, pois lhe informaram que a doença dela poderia ser fatal. Ele sabia que se sua mãe viesse a falecer sozinha, na casinha da roça, ele jamais se perdoaria. Se ele tivesse dinheiro para levá-la à capital, tudo seria diferente.
Enquanto refletia sobre sua vida e a da sua mãe, com passos apressados foi atravessando o pequeno caminho que cortava a montanha. No meio da escuridão, percebeu que algo se movia. O ator parou tremendo de medo. O vulto veio em sua direção até que, pela luz do luar filtrada entre as árvores, pôde ver que se tratava de um homem muito grande. Um yamabushi, asceta mago da montanha, praticante da seita Shuguendô.
– Quem é você? – perguntou o yamabushi.
– Ta...Ta...Tanokyu – respondeu o ator, tremendo de medo.
– Tanuki?! – perguntou o homem grande. Ele havia confundido Tanokyu com Tanuki (texugo).
O tamanho avantajado do religioso era assustador. Tanokyu nem tentou corrigir a confusão, pois, passando por um texugo encantado, talvez estivesse mais seguro. Afinal, aquele brutamonte poderia ser um bandido disfarçado de religioso.
– Nossa! Sua transformação em forma humana está perfeita! – disse o yamabushi – vocês, tanukis, são famosos por praticar ilusionismo e enganar os humanos. Gostaria que você desse uma demonstração de seu poder de transformação na minha frente.
Tanokyu pensou que estava perdido, mas lembrou que, como ator, em cena fazia papel feminino e, assim, tirou umas roupas de seus embrulhos e, num piscar de olhos, transformou-se numa jovem mulher.
O grandalhão gostou do truque e aplaudiu. Em seguida, disse a Tanokyu, que ele, por sua vez, mostraria a sua forma original tirando o disfarce de yamabushi. Assim, despindo seus trajes, surgiu uma enorme serpente. Tanokyu quase desmaiou de susto. Vendo Tanukyu tremendo de medo, a serpente disse:
– Não precisa ficar receoso, eu não como texugos, só seres humanos.
Passado o susto inicial, Tanokyu começou a fumar para relaxar um pouco. Precisava mostrar-se calmo diante da grande serpente. Porém, quem começou a tremer desta vez foi a serpente.
– Pare de fumar, não suporto o cheiro da fumaça de fumo. Me sinto mal, tenho verdadeiro pavor de cigarro. Porém, jure que não vai contar este meu segredo para os humanos da aldeia. Se você me trair, vou te castigar devidamente.
Após pensar um pouco, o ator disse:
– Já que você confidenciou seu segredo, vou contar o meu. Tenho verdadeiro pavor de dinheiro. Não posso ver dinheiro que me sinto mal e fico doente.
Assim dizendo, continuou a caminhada e atravessou a montanha. Na manhã seguinte, já estava na aldeia onde morava sua mãe. Tanokyu reuniu o povo da aldeia e contou o segredo da apavorante serpente que devorava o povo daquele vilarejo. As pessoas aprenderam que podiam atravessar a montanha sem receio, desde que estivessem fumando. Desse dia em diante, a serpente nunca mais atacou ninguém no caminho que cortava a montanha.
A grande serpente, então zangada, resolveu vingar-se de Tanokyu. Numa noite, chegou sorrateiramente perto da casa da mãe dele e despejou um monte de dinheiro para apavorar o ator.
Tanokyu tornou-se o homem mais rico da aldeia. Com o dinheiro, contratou os melhores médicos da região, e sua mãe ficou completamente curada. Neste mesmo ano, mudou-se com sua mãe para capital e tornou-se um ator de sucesso. Conta a lenda urbana de Edo (antiga Tóquio) que toda vez que Tanokyu se apresentava, havia, na primeira fila da platéia, um velhinha que não se cansava de aplaudir o filho.

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MensagemEnviada: Qui Abr 17, 2008 8:22 am    Assunto: Responder com citação

Anchin e Kiyohime
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



Há muitos e muitos anos, havia um jovem monge chamado Anchin. Todos os anos, ele fazia uma peregrinação nos Caminhos de Kumano. Certa ocasião, quando se dirigia a um templo em Kumano, começou a escurecer, então ele procurou uma casa onde pudesse passar a noite. Encontrou uma aldeia chamada Hidaka e bateu à porta da primeira casa. Foi atendido por um senhor que era o administrador da aldeia.
– O senhor poderia me dar pousada por esta noite? Estava indo para um templo, quando fui surpreendido pelo entardecer.
O homem recebeu-o cordialmente. Ele tinha uma bela filha adolescente chamada Kiyohime. Anchin elogiou a beleza da garota e disse brincando que viria buscá-la depois de três anos para se casar com ela.
Na manhã seguinte, Anchin seguiu em peregrinação.
Três anos se passaram e Anchin novamente estava fazendo a peregrinação pelos Caminhos de Kumano. Por coincidência, quando passava próximo da aldeia, o tempo fechou e começou a escurecer. Lembrando que já conhecia o administrador local, foi pedir hospedagem.
O monge já nem se lembrava da menina Kiyohime, mas, ao vê-la na casa do administrador, a lembrança voltou à mente do monge. Ao mesmo tempo, o religioso ficou muito surpreso ao constatar que ela havia se transformado em uma bela mulher.
Anchin já havia pegado no sono quando foi despertado pela presença de Kiyohime ao lado de seu leito. Ela se atirou em seus braços e disse emocionada.
– Obrigada por ter vindo me buscar. Esperei tanto por esse momento que, durante três longos anos, fiquei contando os dias à sua espera.
Foi uma noite de amores ardentes. Ao despertar, na manhã seguinte, Anchin, caiu em si. Como bonzo, estava proibido de se casar. Mas não teve coragem de contar a verdade para Kiyohime. Prometeu a ela que iria até o templo em Kumano e na volta passaria lá para assumir compromisso matrimonial com ela.
Na tarde deste dia, Anchin chegou ao templo. Como estava com a cabeça nas nuvens, Osho-san, o monge superior, logo percebeu que ele estava pensando em alguma mulher. Por isso, aconselhou-o que meditasse bastante antes de fazer alguma bobagem.
Anchin meditou muito e finalmente disse para si mesmo:
– Eu sou um bonzo. Não posso querer Kiyohime. Regressarei por outro caminho para não me encontrar com ela. E assim fez.
Enquanto isso, Kiyohime, preocupada, se perguntava:
– Por que Anchin não volta do templo?
Ela decidiu ir ao seu encontro. Perguntou para um peregrino que passava por ali se ele não havia visto um monge e fez a descrição de seu tipo físico.
– Sim, eu o vi no templo, ele tomou outro caminho para retornar a sua cidade.
– Não posso crer. Ele havia prometido que viria ao meu encontro – disse Kiyohime surpresa e quase chorando.
Ela correu muito para alcançar Anchin e chegou a vê-lo na travessia do Rio Hidaka.
– Anchin, me espere! Anchin, me espere! – ela gritou com toda a força de seus pulmões.
Ao vê-la, Anchin disse:
– Remador, rápido, zarpe o bote.
Kiyohime surpreendeu-se e ficou sem entender porque ele estava fugindo.
Ela ficou muito triste, e seu amor transformou-se em ódio.
– O rato entrou no rio e desapareceu. Somente uma serpente aquática pode acabar com um rato da água.
Kiyohime estava com tanto ódio, que mergulhou no rio para tentar atravessá-lo a nado. Pessoas que estavam na beira do rio ficaram pasmas com o gesto impensado de Kiyohime. Naquele rio, a correnteza era tanta que era impossível atravessá-lo nadando. Testemunhas contaram mais tarde que a moça atravessou o rio nadando e, quando surgiu na outra margem, havia se transformado em uma enorme serpente. Dizem que o desejo de sua mente moldou seu corpo, transformando-o numa serpente aquática. Assim que a transformação se completou, mergulhou no rio e foi nadando atrás do bote onde estava o monge fujão.
Anchin desembarcou do bote e refugiou-se no Templo Dodoji (atualmente na província de Wakayama).
– Socorro, socorro, escondam-me por favor!
Os monges do templo, mesmo sem saber de que se tratava, abaixaram um enorme e pesado sino, ocultando Anchin em seu interior.
A serpente subiu a escadaria e encontrou o sino.
Anchin rezava desesperadamente.
A serpente se enrolou no grande sino, jorrando chamas de sua enorme boca.
O sino começou a esquentar, esquentar, até que o metal avermelhou completamente e deformou-se, derretendo um dos lados. Em seu interior, com o calor, Anchin morreu assado.
Os monges de Dodoji fizeram o enterro de Anchin. Após a tragédia, encomendaram a fundição de um novo sino e determinaram que nenhuma mulher poderia se aproximar de sua plataforma.
O tempo passou, e o novo sino chegou ao Templo Dodoji. Foi preparada uma grande festa para instalação do sino com a participação da comunidade local, porém a cerimônia de intronização estava proibida para mulheres. Entretanto, durante a cerimônia, uma bela jovem veio pedir que a deixassem fazer um número de dança clássica para dar mais brilho ao grande evento. Dada a permissão, ela foi dançando em direção ao sino e, embora tivesse sido proibido, tocou nele. Empurrando-o com uma força sobrenatural e levantando um de seus lados, a jovem entrou dentro do sino.
Em seu interior, ela se transformou numa serpente gigante e, soltando fogo pela boca, fez o sino avermelhar em brasa. Assim, Kiyohime morreu como seu amado Anchin.
Dizem que, tempos depois, Anchin e Kiyohime apareceram abraçados e felizes em sonhos dos monges do Templo Dodoji. Eles teriam aparecido para desculpar-se pelos transtornos que haviam causado. Contaram que estavam felizes, pois haviam encontrado caminhos a seguir na Sutra de Lótus.

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MensagemEnviada: Sex Abr 18, 2008 12:27 pm    Assunto: Responder com citação

O legendário Hidesato
Texto e desenhos: Claudio Seto



Tawara Touda Hidesato, historicamente Fujiwara-no-Hidesato, foi um guerreiro da Era Heian (794~1185) que se tornou conhecido por combater na rebelião de Taira-no-Masakado na província de Hitachi, matando seu líder na batalha de Kojima, em 940. Esta foi a primeira e a principal rebelião da classe dos guerreiros contra o governo imperial. Muitas histórias fantasiosas nasceram em torno de Hidesato, que ficou conhecido popularmente como Tawara Touda.
Entre as legendárias histórias atribuídas a Hidesato, a mais conhecida é aquela na qual ele enfrenta uma lacraia gigante. Tudo começou quando Hidesato atravessava a Ponte Seta-no-Karashi, no Lago Biwa, a maior lagoa do Japão. No meio da ponte, havia um dragão adormecido, obstruindo a passagem. Sem se incomodar, Hidesato passou por cima do rabo do dragão e seguiu seu caminho. Depois que deu alguns passos, ouviu uma voz feminina chamando por ele. O guerreiro virou-se e deparou-se com uma linda donzela que o chamava.
– Sou a filha do rei Dragão, que tem um palácio no meio deste lago. Há dias que estou aqui na ponte na forma de um tenebroso dragão, tentando encontrar alguém corajoso que não tenha medo de monstros. Todas as pessoas chegavam até a ponte e, quando me viam, saíam correndo. O senhor foi o único que seguiu seu caminho por cima de meu corpo.
– Se isso é um elogio, eu agradeço – disse Hidesato.
– Queria lhe pedir um grande favor.
– Se estiver ao meu alcance, terei prazer em atendê-la.
– A pedido de meu pai, estava a procura de um guerreiro corajoso e acho que finalmente o encontrei. Uma lacraia gigante desce do Monte Mikami e está devorando todos os membros da minha família. Um a um estão sendo vitimados pelo monstro, que fez de nós, do palácio de Dragão, seu alimento. Creio que serei a próxima vítima, pois minhas irmãs foram todas devoradas pela criatura gigante.
Hidesato, que nada temia e adorava aventuras, concordou prontamente em ajudá-la. Assim, ele seguiu a donzela e foram para o palácio do rei Dragão.
Lá chegando, conheceu o rei Dragão, que havia preparado uma grande festa para lhe dar boas-vindas. Foi um grandioso banquete com muitas iguarias deliciosas, regadas com fino saquê (vinho de arroz). Todos da corte dançavam e cantavam como não faziam há muito tempo, pois estavam esperançosos de que havia chegado o salvador. Em plena festa, o dia começou a escurecer e uma bateria de trovões ribombou nas nuvens.
Hidesato correu para a varanda do segundo andar com arco e flecha em punho. O Monte Mikami estava irreconhecível. Envolta em neblina, dava para perceber uma forma espiral com mil pernas, enrolando completamente a montanha. A lacraia gigante tinha uma enorme cabeça com duas bolas de fogo no lugar dos olhos.
O guerreiro preparou a flecha no arco e retesou a corda o quanto pôde. A flecha partiu em direção ao brilho dos olhos do monstro e acertou-o no meio da testa. Porém, o gigantesco inseto continuou avançando em direção ao palácio, como se nada tivesse acontecido.
Imediatamente, Hidesato colocou outra flecha no arco e disparou. E mais uma vez nada aconteceu.
Só lhe restou uma flecha das três que ele levara para a varanda. A lacraia gigante estava bem perto. A princesa e o rei Dragão estavam apavorados e tremendo de medo. Ao colocar a última flecha no arco, o guerreiro lembrou que as crianças brincavam cuspindo em centopéias, pois diziam que a saliva humana era mortal para esse tipo de inseto. Então, colocou, por um momento, a flecha na sua boca, lubrificou-a com saliva e mirou-a na testa do monstro. Quando atirou a flecha, um grito horrível ecoou no palácio. Trovões ribombaram, relâmpagos cortaram o ar, e o palácio parecia desmoronar. Em seguida, as bolas de fogo apagaram-se e começou a cair uma chuva torrencial.
Todas as pessoas do palácio estavam prostradas no chão, tamanho o susto. A tempestade assustadora atravessou a noite, clareando ao amanhecer.
No dia seguinte, o céu estava claro. O sol brilhou radiante. Na superfície do Lago Biwa, boiava o corpo sem vida da lacraia gigante. O rei Dragão e toda a corte festejaram com euforia o fim do pesadelo. Hidesato foi festejado como o grande herói do Lago Biwa.
Quando Hidesato foi se despedir do rei Dragão para continuar suas andanças pelo Japão, recebeu deste alguns presentes: um saco de arroz, um rolo de seda, dois sinos e uma caçarola.
– São lembranças simples, mas de todo o coração.
Uma comitiva liderada pela bela princesa Dragão carregou os presentes até a ponte, onde se despediram do herói.
Quando chegou em casa, Hidesato descobriu que os presentes não eram nada comuns. O rolo de seda, quando se cortava um pedaço para fazer quimonos, aumentava automaticamente na mesma proporção, portanto, nunca acabava. Da mesma forma, o saco de arroz, à medida que era esvaziado, tornava a se encher. Era inesgotável. Então, quando a vizinhança ficou sabendo disso, passaram a chamá-lo de Tawara Touda, ou seja, senhor saco de arroz.
Por sua vez, a caçarola cozinhava mesmo sem fogo, e os sinos, cujo som ecoava até os limites da província Oomi (atual Shiga), foram doados ao Templo de Mii para serem tocados em horas determinadas, servindo de marcador de horas para toda a população.

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MensagemEnviada: Sáb Abr 19, 2008 7:15 am    Assunto: Responder com citação

A princesa Peônia
Texto e desenhos: Claudio Seto



Há muitos e muitos anos, em Gamo-Gun, na província de Omi, havia um castelo chamado Azuchi. Era um lugar antigo e magnífico, cercado por uma alta parede de pedras e um fosso cheio de lótus. O senhor feudal era um homem muito rico, porém mau humorado, chamado Yuki Naizen no Jô. Sua esposa tinha estado doente por alguns anos e teve uma única filha, que todos chamavam carinhosamente de Aya Hime (princesa Aya).
Na época, o Japão vivia um longo período de paz e tranqüilidade, e os senhores feudais haviam abandonado a idéia de guerrear constantemente para conquistar novos territórios. Como os feudatários mantinham relacionamento amigável, Naizen no Jô percebeu, então, que a época era oportuna para encontrar um bom marido para sua filha.
Depois de vários contatos, ele optou pelo segundo filho do senhor do castelo de Ako, da província de Harima, para ser o marido de sua filha. Os dois feudatários ficaram muito satisfeitos com a possibilidade de que seus filhos viessem a se casar, pois a aliança matrimonial fortalecia sobremaneira o poder bélico de ambos.
Nessa época, no Japão, as famílias ricas marcavam os casamentos de seus filhos sem que estes tivessem prévio conhecimento um do outro. Já que era obrigada a aceitar a determinação de seu pai, a princesa Aya fez grande esforço mental para amar seu futuro marido, falando e pensando nele positivamente, mesmo sem nunca tê-lo visto.
Certa ocasião, junto com sua dama de companhia, Aya Hime caminhava pelo enorme jardim do castelo e foi até o canteiro das peônias. Daquele local, ela adorava apreciar o reflexo da lua, projetada nas águas do lago, e fazia isso principalmente em noites de lua cheia, que lhe trazia belas inspirações para compor poesias.
Naquela noite, quando Aya Hime estava passeando distraidamente na beira do lago, tropeçou em uma raiz exposta e desequilibrou-se em direção à água. De repente, foi amparada por um jovem que surgiu como num passe de mágica, evitando milagrosamente que ela afundasse lago adentro.
Em seguida, assim que a colocou no chão, o rapaz desapareceu tão rapidamente como apareceu. A dama de companhia viu, quando ela tropeçou, um clarão de luz em torno da princesa refletido na água, mas não chegou a ver claramente nenhum rapaz protegendo-a da queda. Já Aya Hime tinha visto perfeitamente o rosto de seu salvador.
– Um belo moço de semblante nobre, que parecia um príncipe. Vestia roupas com peônias bordadas a fios de ouro. Gostaria que estivesse aqui para agradecer por me salvar a vida, evitando minha queda na água...
– Mas princesa, como ele teria chegado ao jardim, se todo o castelo está cercado pelo fosso e existem muitos guardas no portão? Acho melhor não comentar nada a ninguém, pois seu pai pode ficar zangado, se souber que um estranho esteve no jardim.
A partir daquela noite, Aya não conseguiu esquecer o misterioso rapaz. Várias vezes esteve no jardim, mas nunca mais o viu.
Tempos depois, ela ficou muito doente e com dificuldades para comer e dormir. Cada dia foi ficando mais pálida e tornou-se impossível realizar seu casamento com o príncipe de Ako na data marcada.
Vários médicos vieram de Quioto para examinar Aya Hime, porém ninguém conseguiu diagnosticar de que doença se tratava. Como último recurso, o senhor feudal Naizen no Jô, interrogou com veemência Sadayo, a dama de companhia de sua filha, pois sabia que ela era a confidente da princesa.
– Os médicos chegaram a pensar que ela estava fingindo estar doente, só para não se casar com o prometido príncipe de Ako. Se você sabe de algum amor secreto dela, me diga, pois, se continuar assim, ela vai acabar morrendo. Você não quer que ela morra, quer? – perguntou o feudatário.
– Senhor, prometi à sua filha que jamais revelaria seu segredo. Porém, diante do risco de vida que ela está correndo por causa de sua enfermidade, sou forçada a revelá-lo, se é que isso contribuirá para sua salvação.
Assim, Sadayo contou detalhadamente o que aconteceu na noite de lua cheia no canteiro das peônias...




– Senhor, acho que a doença da princesa Aya é uma doença de amor. Ela está profundamente apaixonada pelo jovem que viu por alguns instantes e depois desapareceu misteriosamente. Tenho medo de que, se não conseguirmos encontrar o tal jovem, ela definhe dia a dia até morrer – disse Sadayo, a dama de companhia da princesa.
– Mas o nosso castelo é muito vigiado, é humanamente impossível que alguém consiga entrar e sair sem ser visto pelos guardas dos portões... – murmurou o pai de Aya, Naizen no Jô.
– Está sugerindo alguma coisa senhor?! Bem sabes que raposas e texugos têm o poder de se transformar em seres humanos e nos enganar. Será possível que algum desses bichos tenha entrado no castelo por alguma pequena abertura no muro?!
Nessa noite, para tentar reanimar a princesa, foi trazido da capital o famoso músico Yashakita Kengyo, mestre num instrumento de cinco cordas chamado biwa. A noite estava quente, e o concerto musical foi ao ar livre. Os acordes espalharam-se pelo ar, tomando conta do belo jardim do castelo. De repente, no canteiro das peônias, um jovem de ar nobre apareceu para ouvir a música. Desta vez todos o viram, e ele trajava a mesma roupa com bordados de peônias em fios de ouro.
– É ele! – gritaram todos os que assistiam o concerto. Diante da reação das pessoas, o jovem desapareceu instantaneamente.
A princesa ficou visivelmente excitada. Levantou-se e foi procurar pelo moço no jardim, mas nada encontrou. O pai dela, senhor do castelo, ficou muito confuso com a situação. No dia seguinte, mandou fazer uma busca minuciosa no jardim, revirando pedras, removendo canteiros de arbustos e procurando em cima das árvores, porém, não encontrou ninguém escondido, nem mesmo raposa ou texugo.
Nessa mesma noite, quando dois músicos da castelo, Yaesan e Yakumo tocavam seus instrumentos, respectivamente a shakuhachi (flauta) e o koto (instrumento de cordas), o jovem novamente apareceu e desapareceu ao ser notado. O mistério aumentou, pois a vigilância tinha sido triplicada, e tudo no castelo foi vasculhado palmo a palmo.
Yuki Naizen no Jô resolveu chamar, então, o renomado Maki Hyogo, um veterano oficial do exército que atuava como conselheiro na corte do Shogun, para capturar o jovem misterioso. O astuto Maki, que adorava desafios, aceitou prontamente a missão. Vestiu-se de preto, como um ninja, para fazer-se invisível e escondeu-se no canteiro das peônias.
Todos tinham percebido que a música exercia certo fascínio sobre o jovem misterioso. Conseqüentemente, os músicos Yaesan e Yakumo fizeram um concerto naquela noite. O público presente prestou mais atenção no canteiro das peônias do que na música. A certa altura, um belo jovem surgiu no jardim, com magnífica veste ornada de peônias bordadas.
Maki Hyogo levou um susto, pois o jovem surgiu do nada exatamente a um passo de onde ele estava escondido. Em seguida, agarrou o jovem por trás, na altura da cintura. Manteve-o apertado por alguns segundos, quando sentiu uma baforada de vapor na cara e caiu no chão agarrado firmemente ao jovem.
Os guardas e o pessoal do castelo que assistiram à cena correram para o canteiro e deparam-se com Maki Hyogo no chão:
– Vejam, consegui agarrá-lo – disse Maki, mas, vendo o que estava abraçando, descobriu que se tratava apenas de uma enorme peônia. Como Hiogo também era astrólogo, logo descobriu do que se tratava.
– Raposas e texugos não conseguiriam passar pelos portões e os guardas do castelo, porém, o jovem sim, pois ele é o espírito da peônia e nasceu aqui mesmo.
Os videntes que estavam no local concordaram plenamente com Maki Hiogo. O espírito da peônia manifestava-se sob aparição de um belo jovem, porém não era na verdade um ser material.
Esclarecido o caso, a princesa Aya levou a grande flor de peônia para seu quarto e colocou-a num vaso com água. Dia a dia, ela foi melhorando de saúde, até recuperar-se completamente. Inexplicavelmente, a grande peônia do vaso também ficava cada vez mais radiante, não dando nenhuma mostra de murchar, apesar de o tempo ir passando.
Como a princesa estava agora com ótima aparência, seu pai não via nenhum motivo para continuar adiando o casamento dela. Então, dias depois, o senhor de Ako e sua família chegaram com uma luxuosa comitiva, para realizar o casamento de seu segundo filho.
A princesa Aya despediu-se da grande peônia e foi para a cerimônia de casamento. Após o ofício, seguiu com seu marido para o castelo de Ako. As camareiras que acompanharam a princesa viram a incomparável beleza da flor quando foram para a cerimônia. E, após o evento, quando passaram pelo quarto da princesa novamente, viram a peônia murchar e despetalar-se. A alma da flor, não suportando a dor de ver sua amada princesa casando-se com outro, despedaçou-se de tristeza.
O povo local, quando contava o caso da princesa Aya ou Aya Hime, passou a referir-se a ela como Botan Hime, ou princesa Peônia.


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