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ESCRITOS DO DIA A DIA

LENDAS DO JAPÃO!
30.12.2011
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MensagemEnviada: Dom Abr 20, 2008 9:08 am    Assunto: Responder com citação

A tennin e o pescador
Texto e desenhos: Claudio Seto



Era primavera na bela praia de Miho no Matsubara, na região costeira de Suruga (hoje Shizuoka). E, por ser primavera, os pássaros cantavam alegremente nas formosas árvore de matsu (pinheiro) e davam um encanto todo especial àquela praia. O mar azul dançava ao sabor das ondas, iluminado pela luz do sol, fazendo brilhar pontos luminosos, como vaga-lumes cintilantes em pleno dia. Ao fundo, o imponente Monte Fuji, com seu topo nevado.
Hakuryo, um pescador que morava nas proximidades, vinha andando pelas brancas areias da praia e, de repente, sentiu um agradável perfume.
– Ah! Que perfume maravilhoso! – tentando localizar de onde vinha, viu algo cintilante movendo-se no galho de um pinheiro. Apurou bem os olhos e viu que se tratava de um tecido leve flutuando com o sopro da brisa. O pescador apanhou o tecido e percebeu que era um manto branco tecido com fios de penas. O perfume agradável vinha daquele delicado pedaço de tecido.
A peça era realmente deslumbrante e, a cada movimento, mudava de tonalidade, revelando-se algo de grande valor.
– Este manto deve ter caído do céu. É bonito demais para ser algo terrestre. Acho que encontrei algo muito precioso, digno de ser guardado como um tesouro do Japão – pensou o pescador.
Ato seguinte, Hakuryo foi para casa exalando o gostoso perfume que o véu desprendia. Resolveu que, naquele dia, não iria mais pescar. O achado era mais valioso que qualquer quantidade de peixe que conseguisse pescar. De repente, ouviu uma voz feminina, que pedia:
– Por favor, devolva-me esse véu, que é meu.
O pescador olhou para trás e viu uma jovem de admirável beleza.
– Eu encontrei esse manto, por isso ele vai ficar comigo. Pretendo levá-lo ao palácio imperial, para ser colocado junto aos tesouros sagrados do Japão. Portanto, é impossível dar a você esse véu de rara beleza.



– Sem o véu tecido com fios de pena, eu não posso voltar à Alta Planície Celeste. Ficarei presa na terra para sempre. Por favor, devolva meu véu.
Foi então que o pescador notou que a bela garota era uma tennin (habitante do céu). Seus cabelos negros e longos desciam pelo ombro dançando sobre sua veste prateada. Nunca, em toda sua vida, Hakuryo havia imaginado que pudesse existir uma criatura tão bela.
– Por favor, devolva meu hagoromo (véu de fios de penas) – disse, chorando, a ninfa celeste.
O pescador sentiu grande emoção ao ver as lágrimas rolarem pela alva e macia face da ninfa. Ela parecia ainda mais bonita derramando lágrimas.
– Está bem, vou devolver o véu, mas, antes, quero que dance para mim. Ouvi dizer que as ninfas celestes dançam maravilhosamente bem.
– Sim, eu dançarei para você, mas, por favor, devolva-me o véu, pois sem ele não poderei dançar.
– Oh, não! Se eu devolver o véu, você vai embora voando para o céu sem dançar para mim. Não sou idiota como você imagina – protestou o pescador.
– Nós, habitantes do céu, não mentimos jamais. Se eu disse que vou dançar para você, com certeza assim vou fazer. Esse tipo de desconfiança só existe aqui na terra. E, sem o véu, como posso dançar?
Hakuryo ficou envergonhado de ter desconfiado da bela tennin e devolveu, então, o véu, com pedidos de desculpas.
Assim que recebeu o véu, a bela ninfa celeste colocou-o sobre seus ombros e começou a dançar. Aos poucos, ela começou a flutuar, encantando o pescador com o ritmo harmonioso de seus gestos. Um indescritível perfume envolveu Hakuryo, que, hipnotizado pelo encanto da tennin, apreciava admirado aquele belo espetáculo. Dançando e dançando, a garota foi subindo em direção ao céu. Subiu mais alto que os pinheiros da praia de Miho, continuando sempre a dançar, e atingiu o sagrado Monte Fuji, desaparecendo nas nuvens que envolvem seu topo.


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MensagemEnviada: Seg Abr 21, 2008 7:14 am    Assunto: Responder com citação

Kitsune tokoya
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



No folclore japonês, a raposa e o texugo eram considerados ilusionistas e viviam pregando peças. Conta uma antiga lenda que, nos arredores de uma pequena cidade, vivia uma família de raposas. Elas eram famosas pelo modo original de iludir as pessoas. Muito criativas, ninguém conseguia escapar de suas artimanhas.
Uma dessas raposas transformava-se em um homem barbeiro e deixava careca todos os clientes que o procuravam para fazer penteados ou aparar os cabelos. Assim, todos os homens da cidade ficaram de cabeças raspadas. Por isso, o animal encantado acabou ganhando o apelido de kitsune tokoya, ou seja, “raposa barbeira”.
Certo dia, houve, na casa do conselheiro da cidade, uma reunião para por fim àquela situação. Afinal, numa época em que os penteados estavam na moda para homens em todo o Japão, não era admissível que só aqueles da pequena cidade não pudessem andar de cabeça erguida. Apesar de haver unanimidade na decisão de fazer a raposa parar com a brincadeira, ninguém tinha sugestão de como fazer isso. Então, descobriram que, entre todos os homens da cidade, havia um que ainda mantinha seu belo penteado. Era um samurai jovem e esperto chamado Saizoemon. Diziam que seu único defeito era ser convencido.
Assim, o conselho de cidadãos resolveu chamá-lo para saber como havia conseguido safar-se da ardilosa brincadeira da raposa barbeira.
Chegando ao local da reunião, o samurai foi logo dizendo:
– Sabem por que se deixaram enganar por uma raposa? Simples, porque vocês são tolos. Sendo assim, não adianta ficar discutindo o dia todo, porque não vão chegar a conclusão alguma. No entanto, eu sei como dar um jeito. Então, o que estão esperando? Admitam a incompetência e me implorem para castigá-la.
Apesar de a arrogância irritar os presentes, ninguém viu outra alternativa senão pedir humildemente para que Saizoemon desse um jeito na atrevida raposa.
O samurai pegou uma lança e foi para o bosque, onde todos diziam que havia esconderijos de raposas. Quando caminhava por uma trilha entre árvores de pinho, cruzou com uma bela garota de olhar malicioso, que o cumprimentou:
– Boa tarde, Saizoemon, está passeando pelo bosque?



O samurai logo desconfiou que era um truque ilusionista da raposa e atacou com sua afiada lança. A moça, assustada, esquivou-se do golpe deixando aparecer uma cauda branca.
– Eu tinha razão, sua raposa proibido o têrmo. Agora, você não vai escapar de meu golpe – assim dizendo, atacou a raposa, que voltou ao seu formato e fugiu apavorada.
Vitorioso na primeira investida, ele ficou mais convencido de sua esperteza e foi caminhando mata adentro.
Numa clareira do bosque, viu outra mulher que parecia estar descansando. Logo desconfiou de que se tratava de outra raposa.
Assim que a mulher saiu andando, ele a seguiu, escondendo-se atrás das árvores enquanto observava-a.
Num momento, a mulher agachou e juntou um punhado de capim seco. Dobrou os capins e, com eles, fez um boneco.
Saizoemon segurou a respiração e observou atentamente.
A mulher esticou os braços levantando o boneco e assoprou com força. Como num passe de magia, o boneco ganhou vida, transformando-se num bebê humano. Embora espantado, o samurai não tinha mais dúvida de que se tratava de uma raposa.
Com o bebê no colo, a mulher entrou na casa de um lenhador e foi recebida por uma velhinha com grande alegria.
– Nossa – pensou Saizoemon – a raposa está tentando enganar a pobre velhinha. Preciso agir imediatamente. Assim dizendo, adentrou a casa derrubando a porta com o pé. Encostando a lança no pescoço da mulher, ele disse:
– Cuidado, minha senhora, esta raposa está tentando lhe enganar. Este bebê é um punhado de capim seco, vi com meus próprios olhos quando ela fez a magia – dizendo isso, o samurai apanhou uma corda e amarrou a mulher. A velhinha, que não estava entendendo nada, protestou:
– Senhor samurai, o que está fazendo com a minha nora, o senhor é um maluco?
– Santa ignorância a sua, minha senhora! Será que não percebe que esta é uma raposa astuta?! Fique olhando calada que vou provar o que estou dizendo.
– Pare, senhor, está completamente enganado. Meu neto não é um punhado de palha, veja é uma criança de carne e osso.
– Minha senhora, quando uma raposa se faz passar por gente, para quebrar o encanto, é necessário fazer fumaça com folha de cedro. Assim que a fumaça encobrir a raposa encantada, logo aparece um rabo branco e, depois, ela volta ao seu formato original.
Assim dizendo, Saizoemon arrastou a mulher amarrada para fora da casa, fez um monte de folhas de cedro e botou fogo para fazer fumaça.
A velhinha gritava desesperada para que Saizoemon parasse com aquele ato bárbaro.
– Por favor, pare com isso, o senhor vai matar a minha nora, a mãe de meu querido netinho.
Sem se importar com as súplicas da velha senhora, o samurai deixou a mulher coberta de fumaças, o que provocou muitas tosses.
– Não se preocupe, senhora, assim que quebrar o encanto, seu netinho vai voltar a ser um simples punhado de capim.
Por mais que a fumaça envolvesse a mulher, não aparecia nenhum rabo de raposa e ela continuava tossindo desesperadamente.
– Pare com isso, ela está morrendo, não está vendo o mal que está fazendo?
Saizoemon não parava. Estava convicto que aquela era uma raposa encantada. De repente, a mulher caiu e ficou esticada no chão.
– Minha nora morreu! Você matou a minha nora! Meu netinho vai ficar órfão! Quanta crueldade!
Saizoemon levou um susto. Balançou e desamarrou a mulher desesperadamente. Todas as tentativas para reanimá-la pareciam inúteis. O samurai foi tomado de um grande arrependimento e, prostrado no chão, reconheceu seu engano.
– Matei essa pobre mulher por engano. Que erro terrível cometi! Não sou digno de continuar sendo um samurai.
Nesse exato instante, apareceu um monge no local.
– O que aconteceu por aqui? Parece uma tragédia.
O samurai contou todo o seu infortúnio dizendo quanto estava pesaroso pelo imperdoável engano.
– Sua alma jamais terá paz enquanto não purificar seu espírito. A alma da pobre mulher, morta por engano, inconformada por tamanha injustiça, não terá paz. Vai se tornar, com certeza, uma alma penada. É necessário que reze muito, mas muito mesmo, por ela. Raspe sua cabeça e torne-se um monge, assim poderá dedicar muitas orações a sua pobre alma.
Saizoemon concordou que essa era melhor solução, já que era indigno de continuar sendo um samurai. Pediu, então, ao sacerdote que lhe raspasse a cabeça e o ordenasse monge.
Atendendo à vontade do samurai arrependido, o monge raspou a cabeça de Saizoemon. Quando terminou de raspar, o monge desapareceu num passe de mágica. Não só ele como a casa, o bebê, a velhinha e a mulher que parecia morta.
Nisso, o povo da cidade encontrou Saizoemon sentado sobre uma pedra com a cabeça raspada.
– Vejam, a raposa barbeira conseguiu enganar Saizoemon também!
A raposa conseguiu iludir Saizoemon seguindo todos os seus passos. Assim, o samurai tornou-se alvo de gozação de todos na cidade, até que
se tornou um cidadão humilde.


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MensagemEnviada: Ter Abr 22, 2008 7:58 am    Assunto: Responder com citação

A Gata Encantada
Texto e desenhos: Claudio Seto



Há muito, muito tempo, existia um lavrador que, por mais honesto e trabalhador que fosse, sempre vivia na pobreza. Já estava na casa dos 40 anos e ainda não havia conseguido uma esposa.
Numa noite chuvosa, ouviu um miado na porta de sua casa.
– Deve ser algum gato que perdeu o caminho de casa devido à forte chuva – pensou o homem.
Ao abrir a porta, deparou-se com uma gata molhada e logo conheceu a bichana. Pertencia à família mais rica da aldeia.
O homem apanhou a gata e enxugou seus pêlos molhados com uma toalha. Em seguida, deu-lhe uma tigela de arroz.
– Sou pobre, não tenho comidas gostosas como as da casa em que você mora, porém, não posso deixá-la passando fome.
Cuidou da gata da melhor maneira possível e tratou de arrumar um cantinho quente para a bichana dormir. Como o homem não tinha com quem conversar, disse à gata, brincando:
– Se você moesse as sementes de trigo enquanto eu cuido da lavoura, eu seria um homem feliz, pois adiantaria bastante o meu serviço.
No dia seguinte, quando retornou do trabalho, logo percebeu que a gata não tinha ido embora. Viu, com grande surpresa, que ela havia moído as sementes de trigo e produzido farinha usando pilão e almofariz.
– Oh, meu Deus! Que gata maravilhosa! Você moeu o trigo e fez farinha! Como sou feliz em ter uma gata tão agradável como você!
O homem preparou bolinhos de chuva e comeu junto com a gata.
– Que coisa engraçada, parece que você entende o que digo, só falta falar.
Três dias depois, a gata falou, de repente, umas palavras:
– Caro mestre, eu fui chutada pelos meus donos anteriores, porque não tinha nenhuma serventia para eles. Eles são ricos e têm bastante serviçais, nada restando para eu fazer. Aqui, encontrei a felicidade de poder servir meu novo amo. Porém, como gata, meu trabalho pode ser limitado, por isso, gostaria de ir ao Santuário de Ise para rogar por minha transformação em ser humano.
O rapaz não acreditou muito que isso fosse possível, porém, amarrou um amuleto em torno do pescoço da gata e disse:
– Isso é para eu reconhecê-la quando virar humana.
Dias depois, uma linda mulher apareceu na casa do rapaz.
– Não está me conhecendo? – perguntou a bela donzela.
Vendo o amuleto no pescoço dela, o rapaz foi tomado de uma grande sensação de felicidade. Os dois se casaram e trabalharam muito dia e noite. Dizem que, anos depois, ele era um dos homens mais ricos da aldeia.

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MensagemEnviada: Qua Abr 23, 2008 9:09 am    Assunto: Responder com citação

Kinuhime, a deusa da seda
Texto e desenhos: Claudio Seto



Há muitos e muitos anos, havia uma linda jovem chamada Kinu (seda), numa aldeia famosa pelo cultivo da sericultura. Anualmente, na primavera, muitos dekasseguis (trabalhadores temporários) vinham para essa região e trabalhavam no corte dos galhos de amoreiras. Nessa época, a aldeia ficava muito populosa e todos trabalhavam felizes e com grande entusiasmo. Conseqüentemente, havia muitas festas na região. Os bichos-da-seda alimentavam-se das folhas de amoreiras cortadas e colocadas nos barracões pelos trabalhadores e faziam seus casulos nos galhos.

Quando terminavam os trabalhos de colheita dos casulos, os dekasseguis voltavam para suas províncias de origem e a aldeia voltava a ser pacata e até solitária.

A família de sericultores que acolheram Kinu temporariamente percebeu que, em todos os anos em que ela trabalhou na cultura da seda em suas terras, os casulos eram maiores e mais brancos, sendo considerados pelo comprador da produção melhores que os da China.

No final da temporada daquele ano, os sericultores fizeram grandiosa festa em agradecimento aos dekasseguis pelo trabalho e serviram um delicioso banquete. Durante a festividade, tentaram descobrir de que região do Japão Kinu teria vindo trabalhar, mas foi em vão. Ela nada contou, esquivando-se com respostas educadas. Assim, ninguém ficou sabendo de onde ela veio, nem para onde retornaria após a temporada de trabalho, nem sobre sua família.

Na hora da partida, a família que a acolhera naquele ano pediu encarecidamente que Kinu voltasse no ano seguinte. Ela despediu-se de todos e deixou a aldeia por uma estrada estreita. Para assegurar que ela voltaria na próxima temporada, alguns aldeões a seguiram sorrateiramente no meio da mata.

Porém, poucas horas depois de sair da aldeia, ela desapareceu de repente. O local onde ela desapareceu era na beira de um lago. Os aldeões vasculharam toda margem, mas não a encontraram. Um dos rapazes observou que no lago havia um ovo branco de serpente, fora isso, nada havia de diferente.

Na primavera seguinte, ela não apareceu, apesar de todos a esperarem ansiosamente. Alguns membros daquela família de sericultores viram várias vezes uma serpente branca andando na plantação de amora e no barracão da seda. Apesar de Kinu não ter aparecido, mais uma vez os casulos colhidos naquele ano foram brancos e bonitos.

A família concluiu que aquela serpente branca que eles viram era Kinu. Transformada em serpente, ela estava protegendo os bichos-da-seda contra os ratos.

Assim, fizeram uma estatueta com a forma dela e a colocaram num santuário Shintô (religião originária do Japão) na primavera, para ser reverenciada como deusa da seda. Após a temporada da seda, os aldeões, agradecidos, levam a estatueta até um lago e a colocam num pequeno barco, mandando-a de volta. Ainda hoje, em muitas aldeias de sericultores no Japão, esse ritual é praticado em reverência a Kinuhime, a deusa da seda.

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MensagemEnviada: Qui Abr 24, 2008 8:07 am    Assunto: Responder com citação

Os ratos sumotoris
Texto e desenhos: Claudio Seto



Há muitos e muitos anos, no Japão, vivia um casal de velhinhos no sopé de uma montanha. Por serem pobres, raramente os velhinhos iam até a cidade fazer compras ou tomar banho em onsen (termas de água quente). O velhinho tinha uma pequena horta e cultivava verduras para o consumo do casal, e a velhinha cuidava dos afazeres domésticos.
Um dia, quando o velhinho se embrenhou na mata para apanhar lenhas, ouviu um ruído diferente entre as árvores. Espiou em silêncio detrás de uma árvore e viu dois ratos lutando sumô.
Foram várias rodadas, e o rato maior jogava sempre o rato menor para fora do ringue circular. Observando atentamente o rato menor, o velhinho reconheceu que era o ratinho que vivia em sua casa.
Assim que voltou para sua morada, o velhinho contou o que tinha assistido.
– Então são ratos sumotori (lutadores de sumô)? – perguntou a velhinha.
– Não, o rato grande e forte parece ser um choja nezumi (rato milionário), e o fracote é o rato que vive em nossa casa – respondeu o velhinho.
– Sinto-me culpada. O ratinho comendo migalhas de uma casa de pobre só pode ser fraco mesmo – observou a velhinha.
– Então vamos socar o que nos resta do arroz glutinoso (motigome) e fazer moti (bolinho de arroz) para ele ficar forte!
– Boa idéia!
Assim, lavaram o arroz glutinoso no primeiro dia do ano novo, cozinharam-no e colocaram-no para pilar. O velhinho batia com um pilão em forma de enorme martelo, enquanto a velhinha virava habilmente a massa de arroz socado para não grudar na cova do almofariz. Depois que a massa ficou bastante glutinosa, a velhinha foi tirando pedaços e girando na palma da mão. Fez vários bolinhos e os colocou numa bandeja comprida de madeira.
– Ratinho de casa, coma bastante moti e adquira força para derrotar o rato grandão – dizendo isso, o velhinho colocou a bandeja no cantinho da casa, perto de um buraco na parede.



Foi um verdadeiro banquete para o ratinho, que comeu a noite inteira e só parou para descansar para a luta.
Durante o dia, no meio da mata, as lutas desenrolaram-se da seguinte maneira:
No primeiro round, o rato grande empurrou o pequeno para fora do ringue circular.
No segundo, o rato pequeno jogou o grande para fora do ringue.
No terceiro round, o rato grande levantou o pequeno e o arremessou para fora do círculo.
No quarto round, o rato pequeno empurrou o grandão para fora do ringue. Assistindo à luta escondido, o velhinho sorriu satisfeito.
Com o empate no sumô, o rato milionário perguntou ao rato pequeno:
– Como foi que você adquiriu tanta força de um dia para outro?
– Ah, eu comi bastante moti, feitos carinhosamente por meu mestre e sua esposa – respondeu o pequeno.
– Eu gostaria de comer esses bolinhos de arroz na sua casa.
– Meu mestre é muito pobre, mas, se você trouxer dinheiro para ele comprar o arroz, acho que ele vai fazer para você também.
Quando o velho chegou em casa, a velha perguntou:
– Como foi a luta de sumô hoje?
– Ah, foi ótima, o nosso ratinho está tão forte quanto o grandão.
– Fico feliz! Foi bom ajudá-lo fazendo bolinhos de arroz.
– Bem, ouvi o ratão dizendo que gostaria de provar nosso moti.
– Só sobrou um pouquinho de arroz para comermos nesse ano novo, pois o que socamos ontem nós demos para o ratinho.
– Podemos ficar sem; vamos socar para os ratos.
Nessa noite, o rato grande veio visitar o rato pequeno trazendo um saco grande nas costas.
– Esses bolinhos de arroz glutinosos foram feitos pelo meu mestre e sua amável esposa. Por favor, sirva-se.
– Oh! Realmente são deliciosos. Eu nunca comi bolinhos tão gostosos. Dizem os japoneses que bolinhos feitos com carinho dão muita sorte para quem os come.
Os dois ratinhos comeram e comeram até ficarem com a barriga estufada, como os lutadores de sumô. A velhinha bondosa costurou uma tanga vermelha para cada um usar na luta.
Na manhã seguinte, quando o casal acordou, encontrou um saco cheio de dinheiro no armário. Os velhinhos tiveram um início de ano muito feliz fazendo compras na cidade e tomando banho diariamente nas termas de água quente.

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MensagemEnviada: Sex Abr 25, 2008 9:14 am    Assunto: Responder com citação

A origem da estrela-do-mar
Texto e desenhos: Claudio Seto



Uma antiga lenda da província de Okinawa conta que, certa ocasião, o deus Estrela Polar e a deusa Cruzeiro do Sul resolveram trazer vida para a terra. Então, quando a deusa Cruzeiro do Sul estava pronta para dar à luz, ela perguntou ao deus Poderoso do Céu onde poderia ter seus bebês.

O deus Poderoso do Céu olhou para a terra e avistou uma pequena ilha chamada Taketomi-jima, onde existia, ao sul, um belo mar de coral. Então, ele disse à deusa Cruzeiro do Sul: – Vá ao lado sul de Taketomi-jima, pois lá existe uma praia com águas mornas e ondas mansas, isso será muito bom para seus bebês.

Assim, a deusa Cruzeiro do Sul desceu da Alta Planície Celeste e dirigiu-se à ilha, conforme sugerira o deus Poderoso do Céu. Lá chegando, deu à luz a várias estrelinhas cintilantes. A deusa estava muito feliz, pois realmente aquela praia tinha a água morna e uma temperatura perfeita para que suas filhas pudessem passar os primeiros anos de suas vidas.

– Assim que crescerem, elas subirão a Alta Planície Celeste para se encontrar comigo e viveremos cintilantes no céu. Disse a deusa retornando ao seu lugar.

Entretanto, o deus Sete Dragões do Mar ficou irritado, porque a deusa Cruzeiro do Sul não lhe pediu permissão e usou a praia para parir seus filhos. Ele então chamou uma das suas serviçais, a dona Serpente Gigante, e ordenou:

– Não admito que ninguém dê à luz em meu oceano sem minha permissão. Vá e devore todos os bebês que encontrar na região sul da ilha.

A dona Serpente Gigante, obediente à ordem de seu amo, engoliu todos os bebês da deusa Cruzeiro do Sul com sua enorme bocarra, matando-os todos. Em seguida, cuspiu seus corpos.

As estrelinhas mortas flutuaram no mar até alcançarem uma praia chamada Higashi Misaki, no lado leste da ilha Taketomi. As estrelinhas, empurradas pelas ondas, pararam na praia e ficaram com o corpo salpicado de areia. Nessa localidade, havia um santuário onde vivia a semideusa Amável. Quando encontrou as estrelinhas sem vida, Amável sentiu muita pena delas e levou-as para o santuário.

- Oh! Pobres estrelinhas, vou colocá-las no incensório. Assim, quando os aldeões vierem me trazer oferendas durante o festival e queimarem os incensos, suas almas poderão subir ao céu junto à fumaça. Lá, na Alta Planície Celeste, poderão reencontrar sua mãe.

Conforme a semideusa Amável planejou, quando chegou o dia do festival, os aldeões queimaram muitos incensos e as almas dos bebês-estrelas subiram ao céu levadas pelas fumaças.

Esta é a origem lendária da estrela-do-mar. Em Taketomi-jima, apesar de séculos terem se passado, ainda hoje é possível encontrar estrelas-do-mar com corpos salpicados de areia nas belas praias que ficam ao sul da ilha de Okinawa. Elas são conhecidas como Hoshi-suna (estrelas de areias), nome que nasceu em referência a esta lenda.

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MensagemEnviada: Sáb Abr 26, 2008 7:02 pm    Assunto: Responder com citação

Guengoro e o tambor encantado
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



Há muito e muitos anos atrás havia no Japão um jovem de nome Guengoro. Certa ocasião ele encontrou um estranho tambor e casualmente descobriu que quando batia nele e dizia “nariz cresça e apareça”, seu nariz ia crescendo, crescendo, enquanto duravam as batidas. E quando batia novamente dizendo “nariz diminua e desapareça”, o nariz ia diminuindo até voltar ao tamanho normal. Era realmente um tambor de estranho poder.
- “Tenho que arranjar alguma maneira para que o poder desse tambor possa ser útil para mim”. Assim pensando, Guengoro saiu em peregrinação com seu amigo Taro.
Dias depois os dois chegaram em uma cidade . Numa das ruas próximas ao santuário dedicado ao deus Zenchi no Mikoto, os amigos viram uma linda jovem, ricamente vestida. Ela caminhava em direção do templo acompanhada de sua irmãzinha. Guengoro aproximou-se das duas para pedir informações.
- Como se atreve a dirigir-me palavras, seu plebeu insolente. Sou filha do governador da província, coloque-se na posição de sua insignificância e fique longe de mim.
Guengoro assustou-se com a grosseria de uma garota tão linda. Pensou imediatamente que ela merecia uma lição. Logo arquitetou uma brincadeira maldosa e escondeu-se em um arbusto. Sem que ela pudesse ver ou ouvir, começou a bater o tambor dizendo: - Nariz da menina bonita, cresça e apareça. Nariz da menina bonita, cresça e apareça...
De repente o nariz da bela jovem começou a crescer e ela, assustada, voltou correndo para casa aos prantos.
A mocinha era filha do governador e homem mais rico da província. Seus pais ficaram chocados com o terrível acontecimento. Precisava curar imediatamente aquela deformação que estava tornando feio aquele rosto angelical. Primeiro chamaram um monge budista para fazer fortes orações, pois aquilo parecia praga de demônio. Como as rezas bravas do monge não estavam resolvendo a situação, chamaram um sacerdote shintô para invocar as forças dos deuses da natureza na cura do nariz da mocinha.
Todos os esforços religiosos foram em vão. Então mandaram chamar os médicos taoístas, que tudo curavam com chá e elixir de ervas e raízes. Mesmo assim de nada adiantou e o nariz crescia, cada vez que, escondido perto da mansão do ricaço, Guengoro batia o tambor.
O governador milionário estava desesperado. Com aquele nariz sua filha não teria chance de se casar com um príncipe imperial, e seu sonho de se tornar um nobre da corte na capital do Japão, por ser sogro de príncipe, estava indo por água abaixo.
Foi no auge desse desespero que Taro, amigo de Guengoro, apareceu na mansão disfarçado de sacerdote shintô. Na verdade, ele era mais um no meio de muitos sacerdotes, monges e médicos que tentavam, cada um a seu modo, a cura do nasal da mocinha.
Assim que terminou a encenação de prece, Taro olhou solenemente para o milionário e fez uma sugestão:
- Estamos diante de um raro fenômeno. A cura não está na simples oração de monges budistas, sacerdote shintô ou doutores taoistas. É necessário alguém muito mais poderoso. Sugiro que faça cartazes oferecendo boa recompensa, para quem conseguir curar o nariz de sua filha.



Pensado no seu desejo de tornar-se nobre, com casamento de sua filha com um príncipe imperial, o governador milionário mandou fazer vários cartazes oferecendo grande quantia em moedas de ouro. Esses cartazes foram espalhados por toda região.
Alguns dias depois, Guengoro se apresentou na mansão do milionário.
- Sou terapeuta nasal, vim atraído por esse cartaz.
Convidado a entrar até o quarto da mocinha, Guengoro levou um susto: o nariz dela estava atingindo o teto.
-Acho que exagerei nas batidas do tambor - pensou Guengoro.
Guengoro alegou que um nariz daquele cumprimento não poderia ser curado num passe de mágica. Levaria alguns dias para concluir o trabalho. Assim, hospedado na casa do milionário, comendo do bom e do melhor, diariamente dava umas batidinhas no tambor dizendo: “nariz diminua e desapareça”. Dessa forma o nariz ia diminuindo diariamente aos poucos.
A família milionária ficou encantada com a terapia de Guengoro. O pai da garota então perguntou:
- Esse tambor é poderoso, será que não dá pára você bater mais e curar mais rápido o nariz da minha filha.
-Não diga uma bobagem dessa. Esse tambor certamente pertenceu a Zenchi no Mikoto, o poderoso Deus da Graça Divina, cujo dizer consagrado é: “a paciência é a mãe de todos os milagres”.
Assim quando chegou ao décimo primeiro dia, o nariz da mocinha atingiu o tamanho normal e o trabalho de cura foi considerado um sucesso. Guengoro e Taro deixaram a casa carregando um cesto cheio de moedas de ouro.
Assim os dois voltaram para casa ricos e nunca mais seria preciso trabalhar para ganhar o sustento.

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MensagemEnviada: Sáb Abr 26, 2008 8:19 pm    Assunto: Responder com citação

muito bom este topico, espero que continue postando....
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MensagemEnviada: Dom Abr 27, 2008 7:11 am    Assunto: Responder com citação

Caro Zé,

Enquanto encontrar novas lendas estarei postando, pois gosto demais destes contos.

Fico feliz em poder compartilhar.
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MensagemEnviada: Dom Abr 27, 2008 7:16 am    Assunto: Responder com citação

Toguênkyo
Texto e desenhos: Claudio Seto



Antigamente no Japão havia muitos vendedores ambulantes que levavam as mais distantes aldeias, vários produtos que só era possível encontrar apenas na capital. Certa ocasião um desses vendedores, cujas mercadorias que vendia eram chás e produtos de beleza femininos, andava nos atalhos de uma montanha, e ficou perdido no meio da mata. Havia então um enorme bambuzal que parecia não ter fim. Enquanto se esforçava para atravessar o bambuzal, o vendedor ia lamentando a sua falta de sorte.
-Além de não conseguir vender nada, ainda fui me perder...
Depois de muito esforço e ganhar alguns arranhões nos braços, o vendedor finalmente conseguiu chegar a uma enorme clareira cor de rosa. Havia ali grande quantidade de cerejeiras em flor que espalhava no local uma deliciosa flagrância.
O vendedor de chás respirou fundo e se deliciou com o agradável perfume que fazia ele esquecer o cansaço da longa e árdua caminhada. Nisso alguns rouxinóis começaram a cantar nos galhos das cerejeiras.
-“Nossa, isso parece o Toguenkyô, o Paraíso Terrestre!” -Disse o vendedor de chás se maravilhando em vários sentidos: com os ouvidos acompanhava o harmônico canto dos rouxinol; com o olfato absorvia o delicioso perfume das flores; a visão se extasiava com o céu cor de rosa coberto de flores da cerejeira e o tato experimentava a leveza das pétalas que desprendiam dos galhos, e choviam como flocos de neve, pousando levemente, na sua cabeça, ombro e braços. E o rapaz se deixou levar pela sensação maravilhosa que estava experimentando, deixou sua caixa de chás no chão e começou a dançar ao som dos rouxinóis.
Abriu os braços em gesto generoso e dançou, dançou, dançou, com gostoso sorriso nos lábios até cair de costas no grosso tapete de pétalas. Sentia-se feliz como nunca. Então suspirou o vendedor:
- “Ah! só falta a companhia de uma linda garota para completar este cenário perfeito!” Daí, como num passe de mágica, de trás dos troncos das cerejeiras surgiram quatro lindas garotas que cercaram o moço deitado.
- “Devo estar sonhando” - raciocinou o vendedor.
Sem nada dizer, as garotas o levantaram pelos braços e conduziram para um lindo palacete. O vendedor notou que havia uma grande curiosidade por parte das moças, em conhecer os produtos que ele trouxera e começou a mostrar. Havia além dos vários tipos de folhas trituradas para chás, cosméticos, pentes, enfeites para penteados e vários produtos femininos.
As moças ficaram encantadas com as mercadorias e manifestaram desejo de comprar vários produtos. Nisso adentrou a sala uma bonita senhora que se apresentou como Shizen, dona do palacete que tinha seu nome e era a mãe das quatro lindas garotas. Ato seguinte a senhora Shizen comprou todas as mercadorias.
Sem dúvida nenhuma a sorte tinha mudado para o vendedor. Produtos que não havia conseguido vender em uma semana de exaustiva caminhada, foram vendidos em alguns minutos como num passe de mágica. Quando agradeceu a todas pelas compras e se preparava para partir, a senhora lhe disse:
- O dia está acabando e o caminho de volta é longo. Na escuridão da mata poderá se perder. Por favor, aceite nossa hospedagem.
O vendedor não pensou duas vezes. Aceitou imediatamente a boa oferta e foi conduzido a um quarto do palacete. Haviam acontecido muitas coisas para um só dia. Bastou deitar para sentir uma canseira gostosa e logo pegou no sono.
Na manhã seguinte, durante a refeição matinal, dona Shizen fez uma surpreendente proposta ao vendedor.
- O senhor já deve ter percebido que neste palacete só vivem mulheres. Eu e minhas quatro filhas: Haruko, Natsuko, Akiko e Fuyuko. Gostaria que ficasse a vontade pelo tempo que quiser. Mais que isso, gostaria que casasse com uma das minhas filhas.
O jovem vendedor que sempre foi uma pessoa pobre e solitária não podia deixar passar uma oportunidade maravilhosa como aquela. Um rico lar e uma bela esposa. Assim concordou em casar com a filha mais velha, Haruko, cujo nome significa “Filha Primavera”. Foi uma cerimônia simples mas maravilhosa. Sob as vistas da bela e imponente mãe Shizen, as irmãs de Haruko dançaram para o casal, enquanto a noiva servia saquê para o noivo.
Sua vida mudou completamente. Já não precisava andar milhas e milhas oferecendo chás e cosméticos para pobres lavradores, para ganhar alguns trocados. Naquele maravilhoso palacete nem dinheiro precisava. Passava o dia ouvindo músicas de shamisem e koto tocadas pelas garotas, jogando cartas e criando poesias. Era feliz. Vivia um sonho.
Bem dizem que quando se é feliz, o tempo passa em incrível velocidade. Um ano se passou num piscar de olhos. O cheiro do ar denunciava a chegada da primavera. Ao acordar naquela manhã e dirigir-se ao refeitório do palacete, encontrou a mãe e suas quatro filhas vestidas em lindos trajes de gala.
- “Vamos ao Hanami (ritual de apreciação das flores de cerejeiras), por favor tome conta do palacete para nós.”, disse a senhora ao genro e antes de sair complementou: “Se ficar entediado de ficar sozinho, pode abrir e espiar um pouco, três dos quatro portões que existem salão principal, para se distrair. Porém o quarto portão você não deve abrir em hipótese alguma. Não está autorizado. Promete que não vai abrir?”.
- “De jeito nenhum.”
- “Ótimo, então até à tarde.”



No palacete Shizen havia um salão central onde haviam quatro portões fechados. O rapaz sempre teve curiosidade em saber o que haveria por atrás daqueles portões, porém como lhe haviam dito para não abrir, nunca tinha feito. Agora, pela primeira vez a dona da casa tinha autorizado que ele abrisse pelo menos três dos quatro portões. Sua curiosidade foi aguçada. Então se dirigiu ao salão central do palacete e abriu o primeiro portão.
O primeiro impacto foi um enorme clarão. Depois, as vistas foram acostumando e percebeu nitidamente uma paisagem de praia. O mar estava azul como só acontece no verão e uma brisa suave soprou amenizando o calor. O rapaz ficou admirando a paisagem durante alguns minutos, teve vontade de caminhar descalço pela praia, mas a curiosidade de ver o que existe atrás de outros portões o deteve. Fechou o primeiro portão e abriu o segundo.
Novamente um enorme clarão e as vista foram acostumando e o moço pode vislumbrar uma maravilhosa paisagem de outono. As folhas de momiji (acer) tingidas de amarelo-avermelhado cobriam matas e montanhas apresentando um cenário outonal de incrível beleza.
- Dá vontade de escrever uma poesia, pintar um quadro, plantar um bonsai! Pensou o rapaz.
Pouco depois, quando abriu a terceira porta, deparou com uma branca paisagem de neve que cobria campos, rios e montanhas. Apesar do frio invernal havia ali, uma vista de incrível beleza. Sendo aquele o último portão que ele estava autorizado a abrir, pensou em ficar mais tempo apreciando os flocos de neve que caiam mansamente. Porém como a proibição é a mãe da curiosidade, num impulso rápido, o moço fechou o terceiro portão e se dirigiu diante do quarto portão.
Vacilou por um momento ao lembrar as palavras de dona Shizen que o proibiu veementemente de abrir aquele portão. O moço até sabia o encontraria ali. Estava começando a entender que atrás de cada portão estava a alma de cada uma das filhas de Shizen (Natureza): Haruko (Filha Primavera), Natsuko (Filha Verão), Akiko (Filha Inverno) e Fuyuko (Filha Inverno). Entendeu porque mesmo abrindo o portão de três delas, apreciando a beleza da alma delas, nelas não permaneceu. Ele havia casado com Haruko, cujo portão não lhe fora autorizado abrir.
Com a mão tremendo na maçaneta, o jovem lutou consigo mesmo e foi vencido pela curiosidade. Abriu o quarto portão. Após um intenso clarão, tornou visível a paisagem que já esperava encontrar. Cerejeiras cobertas de flores e cantos de rouxinóis. Era uma visão maravilhosa, idêntica a de quando ele ali chegou, após estar perdido no bambuzal.



Ele adentrou a paisagem e os rouxinóis param de cantar. Em seguida saíram voando e o moço pode ver que eram quatro os pássaros que antes estavam cantando. Lamentou que as aves tivessem se retirado e nesse momento ouviu a voz da senhora Shizen, que vinha de algum lugar da bela paisagem:
- Vejo que você escolheu o caminho de volta a sua aldeia.
- Eu não quero voltar para minha aldeia. Quero ficar no palacete Toguenkyo. Respondeu o Rapaz.
- Ao adentrar aquele portão você caminhou em direção contrária de onde veio, portanto está caminhando de volta para sua aldeia. Nós gostaríamos que você ficasse em Toguenkyô, por isso aconselhamos a não abrir o quarto portão. Porém você quebrou a promessa e escolheu o caminho de volta. A escolha foi sua por isso nada podemos fazer agora.
- Por favor, gostaria pelo menos de saber quem são vocês. Implorou o rapaz.
- Sou o espírito da mata, das montanhas, dos seres vivos e dos fenômenos naturais. Minhas filhas são espíritos das estações do ano que transformadas em rouxinóis vem anualmente na cantar primavera, em louvor as cerejeiras. Como você não cumpriu o prometido, e as viu em forma de rouxinol, quebrou o encanto. Para você o sonho acabou. Adeus.
No instante seguinte a bela paisagem primaveril desapareceu por completo e o vendedor estava numa clareira de um bambuzal. Era uma paisagem melancólica, o vendedor sozinho com sua pesada caixa de mercadoria nas costas.

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MensagemEnviada: Seg Abr 28, 2008 9:35 am    Assunto: Responder com citação

Warashibe Choja
Texto e desenhos: Claudio Seto



Há muitos e muitos anos atrás, na região de Yamato (hoje Nara), viveu um jovem de nome Yosaku. Ele era um lavrador sem-terra, por isso peregrinava de vila em vila ajudando outros agricultores e sobrevivia comendo vegetais que ganhava em troca de seu trabalho. Como era um trabalhador sem-teto, dormia em templos budistas dedicados a Kannon, a Deusa da Misericórdia.
- Deusa Kannon hoje trabalhei bastante e estou exausto. Como não tenho casa própria onde dormir, permita-me pernoitar mais uma vez em seu templo. Amanhã, por favor ajude-me a encontrar trabalho.
Após a oração, Yosaku estirou-se na varanda do templo e adormeceu cansado. Nessa noite ele teve um sonho fascinante. Irradiando uma luz dourada, a Deusa Kannon, apareceu ao seu lado e disse:
-Yosaku, você é rapaz admirável. Mesmo sendo pobre jamais queixou de sua condição e está sempre disposto a ajudar ou outros, sem se importar com pagamentos. Vou lhe conceder a graça de uma vida feliz. Amanhã vai cair casualmente em suas mãos algo que trará uma grande fortuna para você. Dizendo isso a deusa desapareceu.
No dia seguinte o rapaz saiu para procurar trabalho, tropeçou numa pedra no meio da estrada e foi de cara ao chão. Na queda sua mão caiu sobre algo.Era um pedaço de palha de arroz, Yosaku ia jogar fora, mas lembrou do sonho e guardou a palha e continuou caminhando pensativo:
-Não consigo entender como um pedaço de palha de arroz pode me deixar rico. Será que foi a essa palha que a misericordiosa Deusa Kannon se referiu?
Assim continuou caminhando pensativo. De repente um besouro veio voando aos zumbido perto de seu rosto. Yosaku tentou afastar o inseto com um galhinho de árvore, mas o besouro persistia em voar em sua volta. O jovem então apanhou o inseto e amarrou-o na extremidade de um pedaço de pau, com uma tira da palha que havia guardado no bolso. Assim espetou o pauzinho no chão e ficou vendo o inseto se debatendo para fugir. Então foi desfiando a palha de arroz e fez um círculo em torno de onde o bichinho estava amarrado. Curiosamente o besouro começou andar em círculo, contornando a palha, e tornou-se um passatempo divertido para os transeuntes daquela estrada.
Nesse momento ia passando um carro de boi muito rico e um menino, filho de nobre que estava nesse carro, disse ao velho conselheiro do palácio que acompanhava o cortejo.
-Quero aquele brinquedo para mim.
Yosaku que ouviu tudo, ofereceu o besouro amarrado ao garoto. Como retribuição, a dama de companhia do nobre garoto, deu a Yosaku três laranjas.
-Nossa, três laranjas deliciosas por um besouro e tiras de palha.
O jovem então amarou as laranjas com a palha que sobrou num galho, botou no ombro e saiu andando. Pouco depois encontrou uma senhora distinta acompanhada por um criado. Ela estava lastimando sentada a beira da estrada.
-Ai que sede! Quero beber água, não agüento mais essa garganta seca. Vou desmaiar, água por favor.



O criado que a acompanhava disse que já havia percorrido toda redondeza e não encontrou nenhum poço ou riacho.
Yosaku estendeu as laranjas para a senhora dizendo:
-Tenho essas laranjas, se servir para amenizar sua sede, sirva-se por favor.
A dama chupou avidamente as laranjas e sua palidez foi passando. Assim que estava totalmente recuperada, a senhora lhe agradeceu:
-Se o senhor não passasse por aqui com essas laranjas, a esta hora eu já estaria morta. Gostaria de recompensá-lo condignamente, mas aqui nada tenho além dessas peças de pano, por favor aceite como prova de minha gratidão.
Yosaku que nunca tinha visto peças de seda pura, ficou maravilhado.
-Nossa, três peças de seda por três laranjas, hoje é meu dia de sorte. Só pode ser obra da Deusa Kannon.

O rapaz continuou a caminhada e cruzou com um samurai montado num garboso cavalo branco. Yasaku percebeu que o cavalo estava muito cansado, mesmo assim era um belo animal. De repente o cavalo dobrou as pernas e caiu exausto.
Os criados do samurai correram em socorro do animal, dando-lhe água e massageando seu pescoço, porém o cavalo não se mexia, ficando estirado como quem estava morrendo.
-Cavalo inútil, sacrifiquem esse animal perfurando seu coração com a lança - disse o samurai aos seus vassalos.
Yosaku que de perto assistia a cena, ficou penalizado com o destino do cavalo e pediu ao samurai.
-Honorável senhor, desculpe-me do atrevimento, mas peço que poupe a vida do cavalo, um animal tão bonito não merece uma morte sacrificada. Ofereço uma peça de seda em troca da vida dele.
-Ao contrário do que está imaginando, mandei sacrificar o cavalo para ele não ter uma morte lenta e agonizante. Apenas pretendia abreviar o sofrimento do animal. Mas se você faz questão de trocar a vida dele por uma peça de seda, aceito de bom grado. O animal fica sendo de sua responsabilidade.
Assim o samurai apanhou a peça de seda e seguiu em frente. Yosaku pacientemente deu água ao cavalo e ficou horas ao lado dele. Aos poucos o cavalo foi melhorando de aspecto e finalmente se levantou.
Yosaku montou no cavalo e seguiu sua andança rumo a capital. Quando passou perto de uma casa de agricultor trocou a segunda peça de seda por sela e rédea. Quando chegou a periferia de Heian-kyo (hoje Kyoto), então capital do Japão, trocou a terceira peça de seda por pousada, comida e roupa lavada.
No dia seguinte quando se preparava para entrar na capital, passou diante de um casebre e um homem estava se preparando sua mudança, colocando utensílios da casa em um grande carrinho puxado a mão.
-Que belo cavalo! Se eu tivesse um, minha mudança seria facilmente realizável. Disse o homem da casa.
-Quer comprar o cavalo? Perguntou Yosaku.
-Gostaria muito de adquiri-lo, mas, o pouco dinheiro que tenho, não posso gastar agora. Devo guardar para começar nova vida, bem distante daqui, com uma pessoa que está me esperando. Será que você aceita trocar o cavalo por essa modesta casa e esse terreno para plantar?
-Um terreno para plantar é tudo que sempre desejei!
Assim Yosaku tornou-se proprietário de terra na entrada da capital. Sua plantação de arroz cresceu maravilhosamente e ganhou fama. Quando era feito a colheita os nobres corriam para comprar o arroz da plantação de Yosaku. O moço trabalhou bastante e depois de alguns outonos, havia se tornado um fazendeiro abastado. Os andarilhos que rumavam a capital paravam para descansar em sua casa e sempre recebiam uma pelota de arroz e uma xícara de chá. Yosaku sentia prazer em ajudar as pessoas e fazia questão de contar sua história, para transmitir sua fé na Deusa Kannon.
Por causa de sua bondade passou a ser chamado carinhosamente de Warachibe Choja (Milionário da Palha de Arroz) pelas pessoas que passavam por sua casa.

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MensagemEnviada: Ter Abr 29, 2008 7:24 am    Assunto: Responder com citação

O nome da gata
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



Há muitos e muitos anos, numa pequena cidade no interior do Japão vivia um casal de velhinhos. Eles levavam uma vida feliz e tranqüila e amavam a natureza. Certo dia quando os velhinhos visitavam um templo, o monge deu a eles uma gatinha que havia nascido sob o assoalho do pavilhão de orações.
O velhinho e a velhinha receberam a linda gatinha como quem recebe uma graça divina. Eles não tinham filhos e sentiram que podiam criar aquele pequeno animal com todo carinho e dedicação. Enquanto voltavam para casa foram discutindo qual nome dariam para a gatinha.
-Vamos dar o nome de uma pessoa forte e valente para que nossa gatinha seja sadia e corajosa - disse o velhinho.
-Sugiro que seja Musashi-bo Benkei, pois é um forte e valente guerreiro e ao mesmo tempo, um monge dedicado - respondeu a velhinha.
-Seria um nome perfeito se Benkei não fosse nome de homem. Nossa gatinha tem que ter nome de mulher.
-Que tal Tomoe Gozen, nome da mais forte mulher guerreira do Japão. Ela participou de várias batalhas cavalgando pelos campos, vestida de armadura e brandindo sua mortal naguinata (alabarda). Lutou ao lado do marido Minamoto no Yoshinaga, até tomar a capital do Japão e expulsar os poderosos de Heian-kyo (capital do antigo Japão).
-Tomoe Gozen, pode ser um nome interessante, porém é um nome muito comprido. Para chamar nossa gatinha será preciso repetir - Tomoe Gozen, Tomoe Gozen, Tomoe Gozen...ah! é comprido demais.
Assim os velhinhos continuaram pensando em qual nome colocar na gatinha, quando chegam em casa. Um vizinho que os viu chegar foi logo perguntando.
-Oh! Que linda gatinha, qual é o nome dela?
-Pois estávamos pensando exatamente em qual nome dar para ela. Tem alguma sugestão?
-Deixe-me ver...acho que Tora (tigre) combina com as manchas na pele dela.
-Pensando bem é um bom nome, pois o tigre é um animal forte e destemido.
Assim a gatinha passou a ser chamada de Tora, sendo tratada com muito carinho.
No dia seguinte o casal brincava com a gatinha chamando Tora pra cá e Tora pra lá. Nisso a mulher do vizinho que observava do portão perguntou:
-Pôr que deram o nome de Tora para um bichinho tão delicado?
-A sugestão foi de seu marido, e nós aceitamos porque queremos que nossa gatinha cresça muito forte.
-Ah! Meu marido não sabe nada. O animal mais forte que existe é o dragão. Se lutarem dentro d’água, o dragão vence o tigre facilmente.
O casal concluiu que a vizinha tinha razão e mudaram o nome da gatinha para Dragão.
Alguns dias depois, passou por ali um andarilho e comentou:
-É a primeira vez que ouço uma gatinha sendo chamada de Ryu (dragão). Por que puseram um nome tão diferente para uma gatinha?
Mais uma vez o velhinho explicou que era um nome sugestivo para a gatinha crescer forte.
-Realmente o dragão é um animal muito forte, porém, todos nós sabemos que em dia de grande tempestade, o dragão sobe nadando na chuva e penetra numa nuvem para chegar ao céu. Portanto, se não fosse a nuvem ele jamais chegaria ao céu. Isso significa que a nuvem é mais forte que o dragão.
O casal pensou, pensou e concluíram que o andarilho tinha razão. Assim mudaram o nome da gatinha para Kumo (nuvem). O andarilho seguiu sua caminhada e chegando ao castelo mais próximo comentou o que tinha acontecido.
Na época havia na corte muitos debates culturais. Os intelectuais discutiam incansavelmente durante anos à fio, qual era a estação do ano mais bonita: a primavera ou o outono. Também faziam debates para saber qual a flor mais bonita: a cerejeira (Sakura) ou a ameixeira (Ume). Houve então, grande interesse em sugerir o nome da gatinha pelos intelectuais do castelo. Um deles foi até o vilarejo e sugeriu ao casal que mudasse o nome da gatinha que agora chamava Kumo (nuvem), para Kaze (vento).
-Por que Kaze, perguntou o velhinho.
-Ora, pense bem. Um sopro de vento e a nuvem dissipa-se toda. Por isso é melhor dar o nome de Kaze (vento).
O bom velhinho pensou um pouco e concluiu que o cortesão tinha razão. Assim o nome da gatinha foi mudado para Kaze.
Nisso chegou outro intelectual da corte e questionou:
-Ora Kaze não me parece forte suficiente. Estive observando no último vendaval que o vento destelhou muitas casas, mas não conseguiu derrubar as paredes. Isso significa que Kabe (parede) é mais forte que Kaze (vento).
O argumento pareceu muito convincente ao velhinho e mais uma vez o nome da gatinha foi mudado para Kabe (parede).
-Acho que Kabe será seu nome definitivo, disse o velhinho olhando satisfeito para a gatinha.
Nisso a velhinha fez uma observação:
-Parede não é tão forte assim. Veja ali aquele buraco. Foi o Nezumi (rato) quem fez.
-Então precisamos mudar o nome dela para Nezumi.
-Gato com nome de rato não fica muito bem, e rato tem medo de Neko (gato)...
-Realmente, o gato é mais forte que o rato. Então vamos chama-la de Gatinha. E assim passaram a chamar a gatinha de Gatinha e parece que foi uma medida acertada, pois ninguém mais deu palpite no nome dela.

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MensagemEnviada: Qua Abr 30, 2008 8:08 am    Assunto: Responder com citação

O Perfeito Macaco-Rei
(Texto e desenhos: Claudio Seto)



No Japão, como no mundo todo, existem várias lendas tendo o macaco como personagem principal ou secundário. Sendo 2004 o Ano do Macaco no horóscopo oriental, é interessante acompanhar essas lendas pois revelam a personalidade dos nativos do signo, bem como a característica do ano.

Havia numa planície do Oriente, uma rocha que desde que o mundo foi criado, vinha recebendo raios da lua e do sol. Um dia essa rocha inchou e acabou se entreabrindo, para dar ao mundo um ovo de pedra. Esse ovo foi assolado por um furacão e arrebentou-se. Dele saiu um macaco de pedra. Possuía cinco sentidos: a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato, porém seus movimentos eram lentos. Depois de muitos alongamentos ele conseguiu dirigir-se aos quatro pontos cardeais, alimentando-se dos frutos das árvores e da água das torrentes. Mais tarde, pôs-se a morar nas montanhas, dormindo à noite nas baixas vertentes e durante o dia voltando aos cimos. Fez amizades com outros macacos, os gibões.

Um dia de muito calor, o macaco foi para um bosque de pinheiros em cujo centro havia uma torrente encachoeirada, profunda e fresca; os gibões o acompanhavam. Ao ver a água tão pura, tão cintilante, decidiu mergulhar nela a fim de procurar-lhe a nascente e medir-lhe a profundidade. Primeiro mergulhou o macaco de pedra, visto que seus camaradas haviam decidido eleger Rei aquele que descesse ao fundo da torrente... Ao chegar ao fundo, o macaco abriu os olhos. Não havia água, nem torrente; havia apenas um palácio onde estava escrito: “Monte das flores e dos frutos, terra da felicidade, caverna celeste”.



O macaco apressou-se a emergir, em busca dos demais macacos, a fim de lhes explicar o que havia descoberto no fundo da torrente encachoeirada. Os gibões, muito felizes, dançaram de alegria. O macaco de pedra porém, lhes disse: Vamos morar no palácio; lá estaremos ao abrigo do sol e da chuva. Todos os demais mergulharam e tomaram posse do palácio da felicidade. O macaco de pedra instalou-se num trono e fez com que o aclamassem Rei, conforme fora combinado. Foi nomeado “O Perfeito Macaco-Rei”.

Mas, apesar da glória de soberano, apesar de ter acumulado riquezas e poder, o Macaco-Rei vivia melancólico. Temia a velhice e a morte.

Decidiu, um dia partir em busca da imortalidade - iria ao mais fundo das cavernas, ao azul do céu, cavalgaria ao vento. No decorrer dessa busca, seu corpo e seu espírito pouco a pouco foram se modificando e afinal ele acabou por se tornar homem.

Comentário:
Este antigo conto ilustra bem a idéia - tipicamente oriental - de que a inteligência, a coragem, o prestígio, a fortuna e o poder nada são enquanto não forem percebidos e aprofundados os mistérios fundamentais da vida e da morte conforme os ensinamentos de Buda. Essa lenda embora tenha sido popularizada para o mundo pelos japoneses - através de adaptações para animê, mangá, filmes e seriados para TV - é na verdade uma lenda de origem chinesa.


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MensagemEnviada: Qui Maio 01, 2008 10:15 am    Assunto: Responder com citação

O Macaco e a Água-viva
Texto e desenhos: Claudio Seto



Introdução:Sendo o Japão um país milenar, existem muitas lendas que foram criadas na Antigüidade para explicar a origem dos seres, das coisas e o porquê do formato e cor das mesmas. Esta é uma destas lendas que tenta justificar porque a água-viva é um ser tão diferente.

No tempo do Japão mitológico, havia no fundo do mar um famoso palácio conhecido como Ryugyu, o Palácio do Dragão. O senhor desse maravilhoso local era Shiyozushi no Kami, o deus das Águas e do Mar. Sua bela filha se chamava Toyotama Hime, a princesa Alma Luxuriante.
Um dia a linda princesa ficou muito doente e os melhores remédios do fundo do mar não conseguiam curá-la. O Senhor do Mar ficou muito preocupado pois sua filha estava ficando cada vez mais fraca. Então ele reuniu vários peixes e os encarregou de conseguir um remédio que pudesse devolver a saúde da sua filha.
Os peixes convocaram todos os habitantes do fundo do mar para uma reunião e pediram a sugestão deles.
Todos ficaram pensativos mas ninguém soube responder, pois se um kami (deus) não sabem como salvar sua filha, muito menos eles. Como a reunião não acabava nunca, um enorme polvo de cabeça lisinha, com pressa, disse:
-Quando estive na superfície da terra pela última vez, ouvi alguns seres humanos dizendo que fígado de macaco é um excelente remédio para qualquer mal.
-Sr. Polvo, a sua enorme careca dá de entender que você é uma criatura inteligente. Vamos acreditar no que está dizendo - disse o peixe que coordenava a assembléia.
- Então precisamos encontrar um macaco com urgência, para salvar Toyotama Hime. Disse o camarão.
-Mas onde encontrar essa criatura, perguntou a estrela do mar.
-Ora nas ilhas do Mar de Seto existem muitos macacos. Basta alguém ir lá e capturar um deles. Sugeriu a lula.
-Nós peixes não podemos ir porque não temos pernas para andar no mato.
-Nós ostras e caracóis também não temos pernas.
-Idem - disse o cavalo marinho e sugeriu que fosse o caranguejo que tem seis pernas.
-Nesse caso é melhor ir o polvo que tem oito pernas. Disse o caranguejo.
-Eu só tenho oito pernas, mas a água-viva esta cheia delas. Disse o polvo tirando o corpo fora.
-Apoiado respondeu a lula.
Assim a assembléia dos habitantes do fundo do mar decidiu que seria a dona Água-viva a escolhida para a nobre missão.
A dona Água-viva ficou muito orgulhosa de ser a escolhida, mas como tinha muitas dúvidas a respeito do macaco perguntou:
-Afinal como é um macaco? Eu nunca vi esse bicho.
-Ora é fácil de reconhecê-lo. O macaco do Japão tem cara e proibido o têrmo vermelha. Está sempre em galhos de árvores comendo castanha ou caqui. Explicou a tartaruga.
Como os peixes perceberam que a dona Água-viva jamais conseguiria pegar um macaco, embora tivesse tantas pernas instruíram-na no sentido de que ela enganasse o símio e o trouxesse ao palácio.
A idéia era pegar o macaco por uma das suas fraquezas: a gula. Ela teria de convidá-lo para um banquete no Palácio do Dragão, dizendo que está cheio de castanhas e caqui.
Assim a desengonçada dona Água-viva partiu para a superfície a procura de uma ilha com macacos. Chegando na praia, avistou uma árvore e se aproximou cuidadosamente. Num dos galhos viu um animal de cara e traseiro vermelho e não teve dúvidas quanto a sua identidade. Assim que ela se aproximou da árvore o macaco muito curioso foi logo perguntando:
-Hei que bicho é você ? Nunca vi nada igual, de onde apareceu?
-Sou a Água-viva, moro no Palácio do Dragão, onde existe o maior pomar frutífero do mundo. Lá está cheio de castanheiras e caquizeiros. Árvores que estão o ano inteiro carregado de frutos. O detalhe importante é que esses frutos têm sabor especial, são muitíssimos deliciosos.
O macaco demonstrou grande interesse no assunto e desceu da árvore.
-Puxa deve ser muito bonito esse lugar.
-Se você quiser conhecer será meu convidado e eu o levarei até lá.
-Assim sendo, eu topo com prazer. Vou nas suas costas porque não sei nadar...



-Suba e vamos embora, disse a água-viva toda feliz, certa de que tinha conseguido enganar o macaco.
Ela foi nadando durante algumas horas e o macaco começou a sentir cansaço e reclamar que estava demorando.
Para entreter o macaco a água -viva falava sem parar e deixou escapar uma pergunta indevida.
-É verdade que você possui um tal de fígado?
-Sim é claro todos os bichos têm fígado.
-Ah! Mas do macaco é muito importante.
-Como assim, por que importante?
-Ah, não leve em conta. Eu disse o que não devia.
O macaco muito esperto ficou desconfiado do repentino corte na conversa e disse:
-Minha amiga, gostaria muito de saber porque fígado de macaco é tão importante.
-Não sei se devo dizer. É um segredo.
-Veja aceitei seu convite de todo coração e acho que você está sendo descortês ao negar uma explicação para seu convidado.
-Está bem, se guardar segredo é falta de educação, vou dizer só para você. Na verdade a Princesa Toyotama está muito doente e o melhor remédio para curar a doença dela é fígado de macaco. Por isso vim para buscá-lo.
O macaco ficou muito assustado, mas com seu jeito cínico de ser, fingiu tranqüilidade e disse:
-Ah! Eu não sabia que meu fígado era um santo remédio para a princesa. Se soubesse eu teria trazido comigo. Se você tivesse dito antes eu não teria deixado o fígado no galho da árvore.
-Mas você não trouxe o fígado?! Ora então não vai adiantar nada ir até o palácio.
-Ora vamos voltar para pegar o meu fígado.
Dona Água-viva já não agüentava o peso do macaco em suas costas, mas deu meia volta e rumou em direção da ilha. Quando chegou o macaco subiu na árvore com pretexto de apanhar o fígado e ficou deitado no galho folgadamente.
-Ei macaco parece que você vai tirar uma soneca. Desça logo daí com o fígado.
-Olha mudei de idéia, não vou mais para o Palácio do Dragão. Vou sair pulando de galho em galho, por todas as ilhas avisando os macacos para não cair na sua conversa. Dizendo isso o macaco fez caretas para a água-viva e saltou de galho em galho até desaparecer.
No palácio todos os habitantes do mar esperavam ansiosamente pela Água-viva. Ficaram decepcionados quando ela chegou sozinha e de mãos vazias.
-O que vamos dizer agora para Deus do Mar que nos encarregou dessa importante missão?! Preocuparam-se todos.
A água viva contou detalhadamente que vinha trazendo o macaco, mas no meio do caminho falou demais e o macaco conseguiu enganá-la.
Os habitantes do mar resolveram dar uma surra na água-viva para ela aprender a não ser tão burra e tão linguaruda. Bateram tanto que quebraram todos os ossos que ela tinha.
Reza a lenda que, desde então, a água-viva ficou com o corpo mole e sem ossos como é atualmente.

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MensagemEnviada: Sex Maio 02, 2008 8:37 am    Assunto: Responder com citação

Issum Boshi
Texto: Erica Noda

Há muito, muito tempo, existia um casal que rezava sempre por um filho. Um dia, o pedido foi atendido e nasceu um menino, tão pequeno quanto um polegar. Chamaram-no de Issum Boshi. Apesar de ser muito pequeno, Issum era esperto e saudável e o casal agradeceu a prece atendida.

Após alguns anos, Issum Boshi continuava do mesmo tamanho. Um dia, ele chegou perto de seus pais e disse: "Papai, mamãe, eu quero trabalhar e estudar, vou à capital". Seus pais não gostaram muito da idéia, parecia perigosa demais para um pequeno garotinho. Mesmo preocupados, acabaram concordando e deram-lhe uma agulha de costura para servir de espada.

Depois de se despedir de seus pais, Issum partiu, seguindo pelo rio ao lado de sua casa. Ele utilizava um owan (é uma pequena tigela) como barco e um hashi como remo. Após uma longa e cansativa viagem, ele chegou à capital, que era grande e cheia de gente. Issum andava com cuidado, ele temia ser atropelado pelas pessoas que iam e vinham apressadas.

Ele caminhou por um local calmo e avistou um grande castelo. "Aqui deve morar alguém muito importante, quem sabe esta pessoa não pode me dar um emprego". Ele chamou alto por alguém e, quando um nobre senhor apareceu, não viu Issum. "Ei, cuidado, assim você vai pisar em cima de mim". "Mas quem é você", perguntou o nobre. "Sou Issum Boshi, gostaria muito de trabalhar aqui."

O nobre olhou para Issum e gostou do pequeno menino, ele parecia esperto e confiável. "Acho que você pode cuidar da princesa, minha filha." Assim, Issum passou a morar no castelo. Ele virava as páginas dos livros, carregava tintas de caneta e era adorado pela princesa. Ele também treinava a arte da espada, pois um dia, Issum gostaria de ser um samurai.

Quando chegou a primavera, a princesa resolveu visitar o templo Kyoumizu. Seu pai ficou muito preocupado, pois havia rumores de que um horroroso Oni estava andando nas redondezas e seqüestrando belas garotas. O nobre senhor pediu que alguns de seus samurais acompanhassem a princesa e Issum.

Eles chegaram bem ao templo Kyoumizu e a princesa fez suas orações. Mas na volta, ouviram gritos e gritos e, de repente, um enorme Oni apareceu e impediu o grupo de andar. Os samurais olharam para o Oni, fugiram assustados e deixaram a princesa e Issum sozinhos.

"Prepare-se, vou lutar contra você e defender a princesa", disse Issum enquanto pegava sua agulha-espada. "Há, há, há, um ser minúsculo como você não pode me fazer mal algum". Logo após dizer isso, o Oni pegou Issum e o engoliu. Quando chegou no estômago, Issum começou a espeta-lo e espeta-lo. O Oni não agüentou de dor e tossiu, jogando Issum para fora, que aproveitou o momento e furou os olhos do Oni.

Gemendo de dor, o monstro fugiu correndo em direção à floresta. Na pressa, derrubou um pequeno objeto, era um martelo mágico. A princesa pegou o martelo e disse: "Issum, este é um objeto mágico, ele realiza os desejos das pessoas. Você tem algum desejo? Quer jóias e ouro?". "Sim, tenho um desejo, mas não é este. Eu gostaria muito de crescer", falou Issum. Assim, a linda princesa pegou o martelo e bateu na cabeça de Issum, que cresceu, cresceu, cresceu e se tornou um lindo jovem. Eles voltaram ao castelo do nobre senhor e se casaram. Issum chamou seus pais para viverem juntos no capital. E todos viveram felizes, por muito tempo.

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