FÓRUM do Atelier do Bonsai - Mário A G Leal

[Ferreira]

Muitos de nós aficionados ficamos boquiabertos com a perfeição dos bonsais de exposições japonesas, principalmente a famosa Kokufu-ten, da Associação Japonesa de Bonsai. Temos a impressão de que aquela perfeição é o resultado do talento artístico e de um cuidadoso e paciente cultivo das melhores plantas, descartando as que apresentam algum defeito. Claro, esta impressão está correta, mas não está nem de longe completa. Técnicas avançadas são muitas vezes necessárias para corrigir defeitos e aperfeiçoar alguns exemplares que apresentam muitas outras boas características. Além da escolha da melhor planta inicial, do cultivo esmerado, esperando pacientemente pelas respostas de crescimento, entre outras técnicas avançadas os japoneses usam (e abusam) da enxertia para conseguir a perfeição dos seus melhores exemplares.
Aquela base de 20cm de largura de um Acer buergerianum, com um tronco perfeitamente cônico de 30cm de altura, dificilmente seria obtido apenas com paciência e horticultura primorosa, mesmo utilizando a bem conhecida técnica de galhos de sacrifício. Para alcançar o objetivo, a famosa paciência japonesa é utilizada em benefício do bonsaísta, para conseguir em pouco mais de 5 anos o que a melhor “expertise” técnica talvez não conseguisse nem em 50 anos. No exemplar 34 de Bonsai Pasión uma excelente reportagem mostra um mestre japonês demonstrando a produção de um exemplar com base larga:
1) De um velho acer com tronco oco, que não serviria para bonsai nem para cultivo no jardim, ele remove um pedaço de madeira viva com formato aproximadamente oval de uns 15cm, similar a um casco de tartaruga, no qual ele havia enxertado um ano antes um pequeno broto com duas gemas;
2) Ele faz pequenos cortes em toda a volta da madeira e enxerta em cada um pequenas mudas (também obtidas de estaquinhas no ano anterior), de maneira a obter um futuro nebari perfeito;
3) Toda a madeira é enterrada no substrato e cultivada por um ou dois anos, quando pode ser desenterrada e as partes aéreas das mudas enxertadas são removidas, deixando apenas as raízes que continuarão a nutrir a larga base com o pequeno broto em crescimento;
4) O crescimento para engrossar o novo tronco é feito alternando temporadas de crescimento livre com podas radicais para redirecionar a forma, acompanhadas da enxertia de novos ramos ou de novo ápice, preferencialmente de mudas obtidas da mesma planta, para conseguir a forma desejada com os galhos perfeitamente posicionados.



No exemplar 115 de Bonsai Focus, em outro belo exemplo de adicionar perfeição a uma planta com ótima base, o mestre Nobuichi Urushibata mostra a técnica para correção de posicionamento de galhos, incorretamente posicionados na mesma atura, defeito conhecido como “galhos em barra”. Para fazer o deslocamento do galho ele também utilizou a enxertia:
1) No galho a ser deslocado ele enxertou próximo à base uma boa muda no ano anterior, deixando o enxerto pegar bem;
2) O galho, com a nova raiz enxertada para sua nutrição independente, é serrado do local original da planta mãe e recolocado na nova posição desejada. Para isso um buraco foi feito no novo local, usando inicialmente uma broca e depois uma ferramenta manual (para evitar queimar o câmbio no contato) e a base do galho foi descascada e desbastada para combinar perfeitamente com o buraco, fazendo coincidir perfeitamente os câmbios;
3) Depois de posicionar o galho no melhor ângulo e prender bem (com um prego!) para evitar deslocamentos do enxerto, a planta é cultivada até que o galho esteja bem firme na nova posição;
4) Depois de um ou dois anos, com a certeza da cicatrização e fixação do galho no novo local, ele faz um torniquete na parte de baixo da muda enxertada, obrigando o galho a obter água principalmente através da sua base enxertada;
5) Após a próxima temporada de crescimento o galho estará novamente dependente do tronco principal para sua nutrição, de maneira que a muda inicialmente enxertada pode ser finalmente removida.

Quer ver como foi feito? Tem um vídeo mostrando parte do processo no site da revista, basta ir ao link http://www.bonsaifocus.com/pages/Video.html e escolher o vídeo #3-2008/Techniques. Para facilitar o fechamento das grandes cicatrizes, enxertos de pequenos brotos por aproximação são realizados e, voilá, aí está mais uma perfeição do nível Kokufu-ten!
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Ferreira

"Recife (PE)"

[RAPHA2008]

Olá amigo.
Bem interessante a matéria, obrigado por ter postado. Não sabia que bonsaístas deveriam ter conhecimentos de marcenaria tb!!
Vou começar a aprender desde já!
Abraços,
Raphael.

[Alcides Junior]

Caramba....cada uma que fazem, fiquei até espantado

Valeu Ferreira....

Se me contassem iria relutar em acreditar....mas as imagens falam tudo!!!!
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Abraços
Junior - General Carneiro
Paraná
A cidade mais fria do Paraná.
Associado da APB - Associação Paranaense de Bonsai.
盆栽、ライフスタイル。

[Ferreira]

Raphael

Em bonsai utiliza-se muitas ferramentas e técnicas de marcenaria, como por exemplo, para os trabalhos em madeira morta. No exemplo acima até foram pouco utilizados: procure os trabalhos do mestre Masaiko Kimura e você verá a parafernália que ele utiliza, icluindo uma maquininha que ele mesmo criou!
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Ferreira

"Recife (PE)"

[Ferreira]

Junior

Também vi isso pela primeira vez agora. Desde que entrei no Fórum encontro perguntas de "como conseguir o galho no lugar certo". Agora podemos responder: corte e cole!
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Ferreira

"Recife (PE)"

[Ferreira]

Pessoal

O link direto para assistir ao vídeo sobre reposicionamento de galho maduro é o seguinte:

http://www.bonsaifocus.com/xlntcms/user/upload/Video/08-3/techniques/BF08-3_TECHN_1.mpg

Ferreira
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Ferreira

"Recife (PE)"

[cesar_alr]

Muito interessante mesmo....

Obrigado por compatilhar

[EZEQUIEL JUNIOR]

Ferreira,

Muito interessante a técnica descrita no vídeo...

O amigo já tentou algo do tipo? Fiquei cuirioso, se o amigo tiver experiências com enxertia assim, eu gostaria de saber qual o limite de retirar camadas do galho que se irá enxertar, visto que se for em demasia, retirará o câmbio, daí pode comprometer o pegamento do enxerto... se o amigo puder ajudar, fico agradecido...

Abraços

[cesar_alr]

REvendo pela milionéssima vez , ainda nao consegui entender o rapas fez o Alporque em dois galhos da mesma arvore é isto??

Na principal pra servi de galho e a outra pra nutrilo até que o memso pegue ?

[Ferreira]

Ezequiel
Tenho alguma experiência em enxerto direto de galhos em caliandra e em ficos. Em ficos os galhos pegaram em poucos meses, de maneira que a ligação foi cortada 1 ano depois, permanecendo os galhos vivos nos novos locais. Na caliandra já se passou um ano, mas ainda não parece que o galho esteja pronto para separação. Somente depois que o galho estiver mais grosso na saída do que na entrada do enxerto é que deve ser iniciada a separação, que deve ocorrer em etapas mensais (4 a 6 meses) de corte parcial.

Quanto à remoção de câmbio do galho que está sendo transferido de posição, ela deve ser feita somente na base do galho, ou seja, apenas na parte que ficará fincada no tronco. Toda a volta do câmbio do galho deverá tocar o câmbio em volta do buraco no tronco, da maneira mais uniforme possível, para facilitar a junção dos câmbios do galho e do tronco.

Cesar
Não foi feita alporquia neste caso. Inicialmente foi realizada uma 1ª. enxertia de estaca enraizada em um galho da planta grande. No ano seguinte, o galho já estava recebendo nutrição das raízes do enxerto. Então, desta vez o galho contendo as novas raízes foi separado (serrado) da planta grande e em seguida enxertado (fincado) em novo local da mesma planta. Somente depois de mais um ano, quando o galho estiver pegado em sua nova posição na planta mãe, então o 1º. enxerto será removido. Ficará apenas o galho na planta original, mas em sua nova posição. O 1º. enxerto serviu apenas para alimentar temporariamente o galho que estava sendo transferido de local, enquanto ainda não estava recebendo seiva diretamente do tronco.
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Ferreira

"Recife (PE)"

[cesar_alr]

Ok, entendi, mas você acha que atravez de alporquia daria certo este processo tb ??

[Ferreira]

Cesar

Talvez eu não tenha entendido exatamente qual a sua dúvida.

Não deve ser impossível realizar o que você imaginou, ou seja, inserir a base do alporque no tronco, para somente depois remover as raízes induzidas. Seria esta a sua idéia?

Mas não deve ser fácil, pois em muitos casos a parte do tronco abaixo das raízes tende a morrer. No caso de continuar viva, a parte do alporque acima das raízes tende a ficar mais grossa que a sua base, prejudicando a estética do galho.

Considero que a enxertia realizada também não é uma técnica fácil, mas me parece mais "limpa" para o resultado final esperado.

Mas isso pode ser apenas desconhecimento meu. Talvez alguém conheça outra forma de usar os alporques, além de simplesmente plantá-los!

Ezequiel

Complementando a minha resposta anterior, a parte do galho que é fincada no tronco é apenas madeira, sem nenhum câmbio. Tem que existir câmbio apenas na parte que ficará em contato com o câmbio do tronco, que é quase superficial. Nesta posição, o contato dos dois câmbios deve ser perfeito, para garantir o sucesso do enxerto.
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Ferreira

"Recife (PE)"

[cesar_alr]

Ferreira...

Tentando explicar melhor ... hehhehe

Pensei no seguinte, primeiro escolhia - se o galho para o alporque, depois que de todo o processo de indução de raízes se completa e o galho fosse retirado, faria-se um novo alporque em galho de sacrificio, e depois que este pega -se ai sim fazer o enxerto...

Eu nunca fiz um enxerto não tenho noção do tempo que leva para o mesmo se realizar, não sei se seria mais rápido e nem se daria certo através deste processo.

Att

Cesar

[Ferreira]

Cesar

Sinceramente peço desculpas, pois achei que havia entendido sua questão. Mas agora voltei à estaca zero (sem trocadilhos!). Se você pacientemente puder explicar de outra maneira, talvez com um desenho, eu finalmente o compreenda.
Grato,
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Ferreira

"Recife (PE)"

[EZEQUIEL JUNIOR]

Grande Ferreira,

Obrigado pelos exclarecimentos...

Fiz alguns aporques em acerola e os galhos possuem um bom movimento, mas não há ramificação nos locais onde deveria... daí vou tentar algo do tipo, se der certo posto aqui o resultado...

Estou pensando em testar a técnica em fícus também, penso que é uma espécie que pegaria bem o galho enxertado...

Obrigado
Abraços