. Entidade cultural e beneficente sem fins lucrativos, voltada à pesquisa, preservação e divulgação da cultura oriental em língua portuguesa .
A história do bonsai no Brasil São poucas as referências
sobre bonsai antigos no Brasil. As que existem estão em jornais
e revistas agrícolas em língua japonesa. Uma garimpagem nesses
textos resultaria numa bela obra sobre a história dessa arte no
Brasil. Conforme artigo publicado em japonês na revista Burajiru
no Nogyô (Agricultura Brasileira), edição comemorativa
dos 20 anos da Colônia Itacoloni (Promissão-SP), impresso
em setembro de 1938, os bonsaistas históricos do Brasil foram Hadano
de Bragança-SP; Miyoshi de São Paulo
(Veja complemento de informações AQUI);
Seto, Katsuki e Nita de Guaiçara-SP. Cada um deles a sua maneira
fez várias experiências estudando a aclimatação
de plantas cujas sementes vieram do Japão. Na década de 1930,
a pequena cidade de Guaiçara produziu tantas plantas orientais que
tornou-se conhecida mais tarde com o slogan de “Berço das plantas”.
Grande parte de plantas de origem asiática hoje existente no Brasil,
como: pinheiro japones (akamatsu e kuromatsu), junipero, acer, azaléia,
ardísia, piracanta, marlus, glicínia e cerejeira ornamental
foram produzidos inicialmente em Guaiçara e espalhados pelo País,
através de trens puxados por máquinas à vapor, da
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
. Em 1938, Noriyasu Seto enviou através do consulado do Japão em Bauru, um exemplar do bonsai de bougainvillea para o viveiro de plantas do Palácio Imperial no Japão. Seis meses depois recebeu uma carta de agradecimento do cerimonial do palácio, onde dizia que o Imperador (Hirohito) gostou muito da planta que floriu logo depois que chegou ao Japão. Como essa flor não tinha nome em japonês, sua magestade chamou-a de ikada katsurá. Assim, dos três primeiros bonsais de bouganvillea cultivadas no Brasil, só restou um no interior de São Paulo (Guaiçara). Alguns anos depois o viveiro de bonsai de Noriyasu Seto começou a sofrer grandes ataques noturnos de formigas saúva. Em fila indiana, milhares de formigas vermelhas chegavam a desbastar completamente um bonsai em apenas uma noite. Os buracos de formiga começaram aparecer em vários pontos da chácara onde se situava a fábrica de sake e o viveiro de bonsai. O ato de colocar colheres de formicida em pó na carreira onde passavam as formigas ou em torno do buraco, não estava resolvendo. Noriyasu então despejou formicida líquido nos buracos, até esvaziar dois galões. A idéia era acabar com as formigas botando fogo uma por uma, em todos os ninhos do chão. Mal botou fogo no primeiro buraco, uma grande explosão derrubou uma velha figueira que ficava na beira da rua. Os buracos eram interligados tendo o ninho central na raiz da enorme árvore. O estrondo foi ouvido pela cidade inteira já que Guaiçara era então uma pequena cidade. E tudo estaria bem se não fosse o fato de que em 1945 estava em andamento a Segunda Guerra Mundial. Acontece que e a fábrica sake de Noriyasu Seto estava as margens da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, cujo trecho dentro perímetro urbano era considerado “Área de Segurança Nacional”. Por esse motivo, na época, os imigrantes japoneses estavam proibidos de cruzar a estrada de ferro, chegando ao cúmulo de crianças (brasileiros descendente de japonês) que iam à escola, ter que andar vários quilômetros até sair do perímetro urbano para cruzar a linha. O estrondo do formigueiro foi interpretado pela polícia local que os japonês estavam atacando Guaiçara para tomar a estrada de ferro. Imediatamente da estação ferroviária que ficava exato trezentos metros da figueira tombada, telegrafaram para o quartel de Lins notificando o ataque nipônico. Horas depois, num corre-corre cinematográfico a fábrica de Noriyasu estava cercado por caminhões, jipes, tanques e soldados armados até os dentes. Guaiçara que nunca teve quartel viu pela primeira vez uma operação bélica de tamanha expressão. Apesar de Seto mal falar o português, não foi difícil fazer o comandante entender que se tratava apenas de um extermínio de formigueiros com fogo, tão comum nos pastos dos arredores da cidade. O difícil ou impossível foi ele tentar explicar ao representantes do Quartel General que cultivava árvores para fazê-las anã. Conclusão: toda família foi presa para “assegurar a tranqüilidade e o bem estar da Nação”. O comando do exército que alguns meses antes havia habilmente confiscou e transformou em quartel, a associação Japonesa de Lins e as autoridades policiais do distrito de Guaiçara, como bons cristãos entenderam que havia algo de subversivo na atitude de Noriyasu. Fizeram constar na ocorrência policial o seguinte ponto de vista: “Conforme vontade de Deus o natural é que as árvores cresçam de tamanho com o passar dos anos. Portanto, árvores que fazem o contrário, ou seja, vão diminuindo de tamanho só pode ser obra de satanás e motivo de preocupação para a segurança nacional, pois no futuro poderão fazer o mesmo com o valoroso povo brasileiro”. A famíla Seto só foi solta depois que todos os bonsai foram plantados no chão. Como um guarda de quarteirão foi designado a vistoriar diariamente essas plantas, tornou-se impossível replantá-las em vasos. Noriyasu foi mandado para Casa de Detenção de São Paulo (Carandirú) e no ano seguinte (1946) para a Prisão Correcional de Ilha Anchieta, no litoral norte paulista, acusado de pertencer à organização subversiva Shindô Rennei. O bonsai de bouganvillea, o pioneiro da espécie cultivada no Brasil, que foi plantada no chão por ordem das autoridades, cresceu como uma árvore normal, mas manteve o formato estético de bonsai, tanto pela estrutura do tronco, como pelas podas feitas pelos netos de Noriyasu (um deles Claudio, ainda cultiva bonsai em Curitiba e foi o primeiro bonsaista brasileiro a cultivar cerejeira ornamental no Brasil). Em homenagem à essa planta o sake fabricado por Noriyassu que era denominado Hakutsuru e Hinohana, e foi obrigado a mudar de nome para “Sake Anjnho” durante a guerra, passou a chamar Sake Primavera, assim que o conflito mundial terminou. Anos depois o ex-bonsai de bouganvillea (primavera) tornou-se pela beleza, uma espécie de atração turística da pequena Guaiçara, onde até hoje está plantada..
Rótulos do Sake Primavera. |