FÓRUM do Atelier do Bonsai - Mário A G Leal

[nickyfury]

Ao aprender a arte bonsai, muitos iniciantes por vezes ouvem conselhos de que sua planta precisa de um transplante de urgência. Todavia, a esse conselho nem sempre vem uma resposta adequada, sobre os motivos e razões de tomar essa medida drástica, de maneira que passo a explicar com detalhamento, para que possa ser compreendido mais facilmente por todos:

Sabemos que o cultivo de uma arvore numa bandeja, ou vaso (ou outro recipiente qualquer de cultivo, como escorredores e bacias plásticas), deve passar necessariamente por uma troca periódica do substrato (ver artigo sobre troca de substrato), procedimento benéfico para o desenvolvimento da arvore bem como para preservar sua saúde e integridade físicas.

A parte áerea da arvore (copa, galhos, folhas) é um espelho do estado das raízes e um sintoma inequívoco de que o transplante urgente se faz necessário será justamente um estado de debilidade geral da planta, manifestando-se justamente em suas folhas e brotações. Antes disso, porém, podemos estar sendo avisados pela observação da ação da agua da rega diária:

- a agua drena demasiado rápida, sem molhar o centro adequadamente;

- a agua fica retida por muito tempo na superfície, demorando mais que o normal para se esvair ou ser absorvida;

- a agua escorre pela borda do vaso ou recipiente sem penetrar o substrato;

- após a rega, a superfície do solo ao ser apertado entre os dedos, apresenta-se pastosa, argilosa, como uma massa plastificada (parecendo massinha de modelar molhada).

Ao se deparar com qualquer desses sintomas, mesmo após um reenvase ou replantio recente, então temos que a mistura de solo utilizada não foi adequada, devendo então retirar a arvore do recipiente, lavar suas raízes e voltar a plantar em um substrato mais adequado. Ou, então, se o reenvase ou replantio tiver ocorrido há muito tempo, há que se realizar tão logo se percebam esses sintomas, sob risco de perda irreparavel do material de cultivo.

Outros motivos, ou sintomas, também podem indicar a necessidade do reenvase urgente:

- raízes que se levantam ou ficam saindo por cima da borda do recipiente de cultivo;

- por mais que reguemos, parece que o solo está sempre pedindo agua, secando-se muito rapidamente;

- se o bonsai apresentar problemas em suas raízes, ou raízes podres ou apodrecidas em excesso;

- se inadvertidamente tivermos excedido no aporte de adubação, causando queima das raízes e folhas secas ou com pontas queimadas. Ao se adubar muito rapidamente a planta, isto é, tão logo feito o reenvase ou replantio, ou se for usado uma dose muito alta de adubo, será fatal para a arvore, que apresentará sintomas como: folhas queimadas ou que caem facilmente quando tocadas, que se secam ou morrem murchas, bem como secamento de galhos e ramas.

Raízes podres geralmente são causadas por excesso de agua (rega várias vezes ao dia), ou envelhecimento do substrato, que impede a circulação de oxigênio no interior das raízes: as folhas não estão doentes, porém se mostram sem vigor ou com uma cor muito clara, sem viço.
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que a compreensão liberte a energia criativa que existe em nós.


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[Seph1903]

Amigo Nicky, aproveitando o tópico muito bem feito:
No caso de plantas retiradas através de yamadori, que retiramos afetuando
o ritual de deixar o torrão (eu deixo cerca de 15 a 20 cm de raio):
o tempo necessário que devemos deixar a planta no mesmo torrão,
deve-se traduzir ao tempo que a planta leva para recuperar-se, emitindo brotações, certo?
É correto efetuar uma redução desse torrão em um ano, substituindo-o gradualmente por substrato drenante?
O porquê da pergunta: sobra pouco espaço nas bacias para o substrato drenante devido ao tamanho das bacias plásticas que encontro na cidade.
Grato
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"A natureza usa o mínimo possível de tudo." ( Johannes Kepler).

[nickyfury]

Seph, essa história de preservar o torrão e efetuar o plantio com ele é pura balela. Ao longo dos anos que venho cultivando plantas, tenho realizado vários recolhimentos e retiradas, seja em area de cultivo comum, como a horta da minha chacara, seja em fazendas, matas e similares, e sempre, repito, SEMPRE, cuidei de eliminar totalmente o torrão e fazer o plantio apenas no substrato adequado a espécie recolhida.

O torrão, a bem da verdade, se presta apenas a uma finalidade: impedir que as raizes capilares se rompam ou se quebrem, durante o transcurso entre o local da retirada e o local de cultivo final, isto é, sua casa. Cumprido esse intinerário, estando em casa, onde certamente terá realizado os trabalhos preliminares (preparação do recipiente de cultivo, do substrato, da solução contendo hormonio enraizante, etc), então não há razão nenhuma para continuar a manter o torrão, que poderá ser retirado totalmente, eliminado completamente, via aspersão de agua (jato forte), ou mesmo com o auxilio de um hashi de bambu grosso, removendo-o cuidadosamente para evitar danos ao sistema radicular da planta.

Após eliminar completamente o torrão, lavaremos bem as raizes, passando a poda das raizes pivotantes ou raizes grossas existentes no fundo da base de raízes, que não terão nenhuma serventia, vez que não fazem parte do nebari, cuidando nós de preservarmos apenas a maior quantidade possível de raízes capilares, pois são justamente elas que irão contribuir, com seu trabalho incessante, para a recuperação plena da arvore.

Portanto, para o seu próximo yamadori, esqueça essa balela de manter o torrão. Preserve-o apenas durante o traslado da planta do seu local de origem até sua casa, eliminando-o tão logo tenha tudo pronto para o plantio, seguindo as orientações que especifiquei acima. Verá que não terá perdas nem danos, se seguir tudo conforme citado.
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[gil_fuka]

Muito bom o tópico!

E muito interessante a explicação do torrão no yamadori.

Parabéns Nick!

Até mais!
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[Seph1903]

Obrigado, Nicky, pelos esclarecimentos.
Fiz três yamadoris este ano, uma pitangueira, uma piúna e uma duranta.
Após a retirada do primeiro, fui reduzindo o torrão nos outros, até como forma de teste.
A pita depois de dois meses, finalmente começou a emitir brotações. Nos outros, ainda é cedo.
Minhas coletas, por esse ano, acabaram. Para o próximo, devo encontrar outros e tentarei efetuar lavando o torrão,
como tão bem o amigo explicou.
Abraço e mais uma vez obrigado.
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